Solidários com a natureza e com os homens
18 de novembro de 2003Na força da juventude brasiliense, a força da solidariedade
Descidas em abismos, cavernas com água na altura do queixo, incêndios nos finais de semana, além de fazer muito barulho em defesa do meio ambiente, esses são alguns desafios dos integrantes das 43 ONGs que
participam do Fórum das Ongs Ambientalistas do Distrito Federal e Entorno. Há entidades para todos os gostos, desde pequenas sociedades até instituições internacionais. As mais simples são as associações de moradores que se unem, em geral, para a criação ou conservação de áreas verdes perto da região onde moram. Esse tipo de movimento começou a se popularizar em Brasília nos anos 90 e deu origem a vários parques como o Olhos d?Água, na Asa Norte, e do Rasgado, no Lago Sul.
Olhos d`Água
Durante o cooper diário, moradores da quadra 415 Norte perceberam o potencial da área verde de 21 hectares, onde ficam a 413 e a 414. O local possui várias nascentes do Lago Paranoá e uma lagoa, além de ser habitat para animais silvestres. Para preservá-lo, um grupo de residentes da Asa Norte criou uma associação, Sociedade Amigos do Parque Olhos d?Água (Sapo), com o objetivo de transformá-lo em parque.
Os integrantes da entidade – fundada por 20 pessoas, mas que chegou a 100 – enviaram uma carta ao governador, entregaram ao então deputado do DF Geraldo Magela (PT) o esboço de um projeto de lei que criava o Parque Olhos d’Água e promoveram um panelaço no local para pressionar a aprovação da unidade de conservação na Câmara Distrital. Em outubro de 1993, o grupo foi recompensado. A lei distrital 556 transformou a área em parque e a Secretaria do Meio Ambiente se tornou a responsável pela área.
MEL do Paranoá
De forma semelhante também surgiu o Movimento Ecológico do Lago (Mel). A proposta inicial do grupo era conscientizar os moradores do Lago Norte de que vivem numa Área de Proteção Ambiental, a do Lago Paranoá. Com palestras e distribuição de panfletos, o movimento explicou que é ilegal a degradação dos recursos naturais de uma unidade de conservação e denunciou as irregularidades que constatava como a drenagem do lago para extensão da área verde dos quintais e o depósito de lixo nas margens. A organização cresceu, ajudou no movimento para a criação de dois parques, o de Uso Múltiplo do Lago Norte e o Ecológico das Garças.
Nas cidades satélites
Mas os movimentos pela criação de parques não se restringiram a Brasília e chegaram até as cidades satélites. Em 1995, foi fundada a Sociedade de Amigos da Reserva e do Parque do Guará – Sapeg. A entidade conseguiu recursos financeiros para a construção de um centro educacional e uma quadra de esportes no parque e auxiliou na elaboração do plano diretor dele. Entretanto, apesar dessas conquistas, a Sapeg não teve a mesma sorte das outras duas organizações.
O plano diretor, que custou US$ 300 mil, não foi implantado, e no local moram atualmente cerca de cem invasores. Um deles, durante uma fiscalização no parque, atirou no vice-presidente da organização, Antônio Gutemberg, e numa funcionária do MMA-SRH. Ambos sobreviveram, mas Gutemberg ficou com dificuldade para caminhar e perdeu parte dos movimentos do braço esquerdo. Mesmo assim, a Sapeg continua com o trabalho de defesa das duas unidades de conservação do Guará, que possuem, segundo estudos do pesquisador Ezequias Heringer, um terço das espécies de orquídeas do mundo.
Esse tipo de ONG, as associações de moradores, é comum no Distrito Federal, embora muitas vezes sequer possuam registro. Mas também existem grupos de ambientalistas que começaram de forma amadora, e se tornaram técnicos do assunto, apesar de se dedicarem apenas nas horas vagas ao combate a degradação da natureza. É o caso da Patrulha Ecológica e do Espeleo Grupo de Brasília.