VII Congresso de Ornitologia Neotropical

Ornitólogos do mundo inteiro se reúnem no Chile

18 de novembro de 2003

Congresso reúne ornitólogos, estudantes e cientistas e faz uma ponte entre o Hoje e o Amanhã

O Brasil no VII Congresso de Ornitologia Neotropical
A participação de 35 pesquisadores brasileiros enriqueceu o encontro




O VII Congresso de Ornitologia Neotropical aconteceu no Parque Nacional Puyehue, em Ozorno, no Sul do Chile, e paralelo ao encontro, houve uma reunião organizada pelo Departamento de Estado e Serviço de Pesca e Caça dos Estados Unidos. Segundo o presidente da Sociedade de Ornitologia Neotropical, Francois Vuilleumier, a idéia do encontro foi promover a conservação e proteção das aves e seus hatitats, bem como trocar informações e experiências a cerca de pesquisas e estudos que vários estudiosos vêm desenvolvendo sobre o tema. Na abertura do congresso, o biólogo chileno, doutor em vida silvestre e catedrático da Universidade de Los Lagos, Jaime Jiménez (também copresidente do Comitê Científico do Congresso) destacou o valor de “encontros como este para o intercâmbio de conhecimentos entre os técnicos e estudantes”. Jaime Jiménez apresentou os resultados de seu estudo sobre os impactos das atividades salmoneras sobre as comunidades de aves nos ecossistemas marinhos e lacustres do sul do Chile. Um dos principais objetivos do evento, que teve cinco plenárias, 215 apresentações de trabalhos e painéis e 28 simpósios, foi congregar cientistas, ornitólogos, estudantes e pessoas interessadas em aves para compartilhar as últimas descobertas da ciência em relação à preservação das aves na zona neotropical, que compreende a América Central, América do Sul, o Caribe e as Ilhas Galápagos.


A vida é um passar de conhecimentos


Maria Alice dos Santos Alves (*)
A vida é um passar de conhecimentos entre pais e filhos. Entre os mais velhos e os mais jovens. No reino animal e no reino humano, são os mais experientes ensinando aos mais jovens. Assim foi o VII Congresso de Ornitologia Neotropical realizado em meio aos bosques e montanhas nevadas dos Andes. Além de ser um dos eventos mais importantes do mundo na área de Ornitologia, o encontro deu esta oportunidade a jovens estudantes de vários países: encontrarem, discutir e aprender com experientes cientistas. O objetivo principal do VII Congresso de Ornitologia Neotropical foi congregar pesquisadores, estudantes e amantes das aves para trocar informações sobre as últimas descobertas e desenvolvimento das atividades do setor.


O coordenador geral do VII CBO foi o presidente da Sociedade de Ornitologia Neotropical com sede nos Estados Unidos, François Vuilleumier. O comitê científico foi coordenado pelos pesquisadores Jaime Jiménez e Cristina Miyaki, das Universidades de Los Lagos, no Chile, e da USP, no Brasil.


O VII CBO contou com um excelente programa científico e congregou cerca de 400 pesquisadores de 48 países, principalmente da América do Sul, da América Central e dos Estados Unidos. Além de conferências, ocorreram simpósios, mesa-redonda, exposições orais e em posters, contando com cerca de 300 exposições de investigações científicas de temas muito variados tais como: ecofisiologia, reprodução, genética, distribuição, morfologia, biogeografia, migração, ecologia e conservação. Este último tema se destacou em muitas das exposições, mostrando problemas decorrentes da fragmentação e degradação de habitats para diversas espécies de aves e medidas para evitar extinções.


O Brasil esteve bem representado no VII CBO por membros do comitê científico, conferêncistas, participantes de simpósios, mesa-redonda e expositores de comunicações orais e de posters, procedentes de diversos estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas, Paraíba, Brasília, Mato Grosso, Pará, dentre outros.


Durante o evento, também ocorreram saídas de campo que permitiram aos congressistas observar aves em lugares distintos da região dos lagos chilenos. No Parque Nacional de Puyehue, que possui uma grande variedade de bosques e montanhas onde residem muitas espécies endêmicas de aves.


Pude testemunhar com grande satisfação a presença de um elevado número de estudantes de países diversos, particularmente da América do Sul. O VII CBO incentivou a participação de estudantes concedendo auxílios financeiros. A participação de estudantes de graduação e pós-graduação em eventos internacionais desse porte é fundamental não apenas por proporcionar a oportunidade de discutirem seus trabalhos para aprimorar sua formação acadêmica, como também para criar um referencial e incentivar o intercâmbio com outros pesquisadores estrangeiros e a multiplicação do conhecimento para outros colegas no Brasil.


O auxílio financeiro para facilitar a presença de estudantes num congresso como este é um ato de ousadia que só pode trazer muitos benefícios para a formação universitária de cada um, para o estudo da avifauna e para as diversas comunidades dos muitos países participantes. Essa troca de informações e de experiência entre alunos, professores e pesquisadores funciona como transferência de conhecimento. Melhor: como o passar de um bastão de consciência científica entre o novo e o velho, entre o hoje e o amanhã.


(*) Maria Alice dos Santos Alves é PhD, professora adjunto de Ecologia da Universidade do Estado do Rio do Janeiro e participou do Comitê Científico do VII Congresso de Ornitologia Neotropical


 


Orgulho da qualidade e quantidade das apresentações brasileiras.


Anita Wajntal (*)


Valeu a pena participar do VII Congresso de Ornitologia Neotropical, pois o encontro foi de nível excelente e o lugar é realmente fantástico. Foi muito boa a representação de ornitólogos brasileiros. Entre os profissionais e alunos de pós-graduação havia mais de 35 pesquisadores presentes. Apesar da programação intensa que tinha início às 8:15 e término às 20:00 horas, sempre sobrou um tempinho para conversas paralelas e importantes interações científicas entre os participantes.


Um dos pontos altos da programação foi o simpósio sobre “Aves na paisagem fragmentada da Floresta Atlântica”. Participaram deste simpósio cinco pesquisadores brasileiros: Luiz dos Anjos (UELondrina), Pedro Develey (Ibusp), Marco Antônio Pizo (Unesp), Renata Durães (Universidade Missouri) e Alexandre Martensen (Ibusp). Houve nesse mesmo dia, um simpósio sobre “Genética e Conservação” com participação de Maria Paula Schneider (UFBA), Marcelo Santos (UFBA), Iara Freitas Lopes (Ufscar) e Renato Caparroz (Ibusp).


Na terça-feira, destacamos a sessão de apresentações orais sobre a “Biologia da Reprodução” com importantes contribuições dos brasileiros Maria Alice Alves (Uerj) e Adriana Kohlranch (Ibusp).


A programação da quarta-feira teve início com a apresentação plenária da professora Elisabeth Höfling que proferiu uma conferência sobre “Estudos Anatômicos em Aves Neotropicais”. Ao término de sua apresentação, o dr. François Vuilleumier ressaltou a importância e a influência da profa. Höfling para a ornitologia neotropical, e teceu inúmeros elogios que nos deixaram orgulhosos e emocionados. Entre as diversas sessões de 4º feira, sem dúvida teve destaque especial o simpósio sobre “Evolução, ecologia e conservação de psitacídeos neotropicais”, com muita repercussão das apresentações de Camila Ribas (Ibusp) e Neiva M. Guedes (Uniderp).


Quinta-feira amanheceu com um tempo glorioso. Todos aproveitaram para conhecer as maravilhas da região. Na sexta-feira, destacamos as apresentações de Claudia Terdiman Schaalmann (Secretaria do Meio Ambiente de SP) e Jaqueline Goerck (Bird Conservation International – Brasil).


Carlos Bianchi (Ibama) e Pedro Scherer Neto (Museu Capão do Imbúia, PR) apresentaram os resultados de seus trabalhos sobre a distribuição da arara-azul no Nordeste brasileiro durante a sessão de apresentações orais sobre “Conservação de espécies”.


O mistério de uma reunião


Durante vários dias aconteceu uma “misteriosa” conferência sobre aves migratórias promovida pelo Depto. de Estado dos EUA e o Serviço Americano de Pesca e Vida Silvestre (US Fish and Wildlife Service) cujo acesso não estava franqueado aos participantes do congresso. Por sorte, havia entre os convidados especiais a este evento pelo menos um brasileiro, João L. Nascimento, chefe do Cemave-Ibama, fato que nos tranqüilizou.


Houve um expressivo número de apresentações por estudantes de pós-graduação e pesquisadores brasileiros. O painel apresentado por Graziele Volpato, aluna do prof. Luís dos Anjos (UELondrina) foi destacado e premiado pelos organizadores do evento.


Alguns painéis apresentados


Por Maria Cecília Barbosa Toledo da Universidade de Taubaté, que utilizou sistemas de georeferenciamento para pesquisar a relação entre níveis de urbanização e ocorrência de aves;


Por Érika Sendras Tavares (Ibusp) com dados sobre a organização do DNA mitocondrial em vários gêneros de psitacídeos;


Por Roberto Boçon (SPVS) sobre o status e comportamento reprodutivo do papagaio-de-cara-roxa no litoral do Paraná;


Por Marcos Persio D. Santos (Museu Emílio Goeldi) sobre ocupação e abundância de aves em regiões de transição entre o cerrado e a caatinga.


Os trabalhos apresentados por Gustavo Sebátian Cabanne (Ibusp), Alexandre Uezu (Ibusp), Gisele Dantas (Ibusp), Carla S. Fontana (Puc-RS), Márcio Repenning (Puc-RS), Edson Lopes (UELondrina), Denise Nogueira (Uerj) e Marcos Raposo (Museu Nacional UFRJ) também merecem destaque. Tenho certeza que não vou conseguir enumerar todos os participantes brasileiros. Perdoem-me os que não foram citados, a culpa é dos meus 67 anos.


Gostaria que todos soubessem que senti muito orgulho da qualidade e quantidade das apresentações brasileiras. É claro que as apresentações de nossos colegas de outros países também se destacaram. Senti orgulho também de saber que grande parte do sucesso do VII Congresso de Ornitologia Neotropical se deve ao trabalho incansável de Cristina Yumi Miyaki (Ibusp), que foi co-responsável pelo evento.


(*) Anita Wajntal é professora e pesquisadora
do Instituto de Biociências da USP