Jornalistas conhecem a realidade das queimadas
12 de dezembro de 2003Para governador Jorge Viana “o Acre é fumante passivo” das queimadas da Bolívia, Rondônia e Mato Grosso
Durante três dias, 183 jornalistas discutiram os problemas da
Amazônia e ao final redigiram a Carta de Rio Branco onde defendem a
importância estratégica da informação ambiental
“É verdade, não existe praticamente nenhuma floresta na beira da estrada. Essa é a nossa herança e o Chico Mendes morreu lutando por causa dela. Mas nosso governo encontrou um jeito novo de fazer estrada. Nas estradas que estamos fazendo hoje há a política das audiências públicas, onde proibimos desmatar nas beiras das estradas. É o único estado que faz isso. Queremos a floresta viabilizando a estrada e não o contrário”, afirma Jorge Viana.
Carta de Rio Branco
Mas a tragédia foi um capítulo à parte no evento realizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre, Federação Nacional dos Jornalistas, Governo do Acre e WWF Brasil. Ao final do encontro os participantes editaram a Carta de Rio Branco, onde defendem a “importância estratégica da informação ambiental de qualidade na construção de um modelo de desenvolvimento ecologicamente sustentável e socialmente justo”.
Participaram jornalistas brasileiros e de outros países da América do Sul, como Guiana Francesa, Suriname, Chile, Bolívia e Peru. A abertura se deu num anfiteatro construído no meio da floresta do Seringal Cachoeira, município de Xapuri, onde todos puderam conhecer um pouco da história do Acre, da luta dos seringueiros e da saga de Chico Mendes. A visita foi prestigiada pelo governador, pelo ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano, pelo desenhista Maurício de Souza e por lideranças políticas e sindicais da região.
Desenvolvimento sustentável, recursos hídricos, certificação florestal, biopirataria, projeto Sivam, direito ambiental, unidades de conservação e o novo conceito de florestania foram alguns dos temas tratados. O II Encontro Internacional de Jornalismo Ambiental da Amazônia está previsto para acontecer em setembro de 2005, na cidade de Belém do Pará.
Florestania: a cidadania da floresta
Jorge Viana: ?Florestania é a felicidade, é o respeito ao meio ambiente,
mas também é ganhar dinheiro sem destruir a floresta?
Governador Jorge Viana aos 183 jornalistas: – Não temos que encontrar um novo caminho, mas sim uma nova maneira de caminhar |
O governador do Acre, Jorge Viana, é defensor do manejo sustentável da floresta amazônica. Costuma viajar pelo mundo divulgando os novos conceitos de preservação ambiental que está implementando no Acre, como a florestania, neologismo criado porque lá entende-se que lembra cidade e não cidadão. Segundo Jorge Viana, “nós não aceitamos o conceito de cidadania, que lembra cidade, coisa urbana. Nós somos um povo da floresta e chegamos a um conceito novo, que é a florestania, a cidadania do povo que vive na Amazônia. Florestania é a felicidade, é o respeito ao meio ambiente, mas também é ganhar dinheiro sem destruir a floresta. É ter algo absolutamente moderno, é associar a valorização da história do nosso povo, dos índios, dos seringueiros, com a tecnologia, a ciência e a modernidade e disso tirar o mundo novo que buscamos”.
Na verdade, a história do Acre é uma bela lição de luta pela liberdade e pela sobrevivência do homem na floresta. O governador segue o caminho de seus antepassados Galvez e Chico Mendes.
Depois de implantar com sucesso o manejo comunitário, o Acre é o primeiro estado brasileiro a ter a certificação internacional da madeira, a FSC. Também é o primeiro a criar florestas públicas. Quem quer usar os recursos florestais tem que atender aos interesses públicos.
O governo do Acre, apoiado por ONGs e movimentos civis organizados, está trabalhando para que o estado tenha os melhores indicadores sociais e econômicos da região amazônica, uma meta ambiciosa, mas possível, uma vez que está baseada na ótica do desenvolvimento sustentável e dos produtos certificados e, nessa vertente da economia, o Acre está muito à frente de qualquer outro estado da Federação.
Lá, a floresta que restou está sendo explorada com a sabedoria de que não é um lugar para se plantar, mas de colher e ganhar dinheiro com o conhecimento de seus mecanismos naturais. Com a borracha que se transforma no couro vegetal, por exemplo, com a castanha, os artesanatos, os fármacos e os cosméticos. Enfim, uma região que caminha, como gosta de citar o governador, ao estilo dos versos de Thiago de Mello: não é preciso encontrar um novo caminho, mas sim encontrar uma nova maneira de caminhar.
O jornalismo ambiental, por exemplo, parece ter encontrado uma nova maneira de caminhar quando foi ao Acre, a Xapuri, ao Seringal Cachoeira, para discutir meio ambiente, conhecer novas filosofias e respirar fumaça, muita fumaça. (AA)