Um medidor de água para cada apartamento
11 de dezembro de 2003Projeto de Lei na Câmara Federal obriga instalação de medidor nos prédios tanto em novos como nos apartamentos já habitados
Segundo Sebastião Madeira, nas habitações coletivas cada apartamento paga sua conta de luz e telefone, mas a despesa com água é rateada entre todos os moradores. “Uma pessoa que mora sozinha em um apartamento e passa a maior parte do tempo viajando ou trabalhando fora de casa é obrigada a pagar – através da taxa de condomínio – o mesmo valor que uma outra pessoa que mora ao lado com mais cinco pessoas, nunca viaja e, além disso, deixa a torneira aberta o dia todo ou não se preocupa com vazamentos”, afirma o parlamentar justificando seu projeto.
Ele diz que, “além de ser injusto, financeiramente, para os moradores, há uma conseqüência muito mais grave: essa situação não inibe e até mesmo estimula o desperdício de água.” Ele explica que “os próprios empregados dos condomínios não têm qualquer estímulo para economizar água, pois o consumo relativo à limpeza de áreas comuns, lavagem de carros e outras atividades é pago na conta geral de água do prédio.” Em geral, os zeladores acabam lanvando carros para terceiros com água do condomínio.
Isso significa que o morador de um apartamento que não tem carro paga a água consumida por outro morador que têm dois carros, o que é extremamente injusto.
Exemplo do Recife
Conforme o deputado Sebastião Madeira, a instalação de medidores de consumo de água em cada apartamento de uma habitação coletiva já é adotada com pleno êxito na Europa, especialmente na Itália e na Alemanha.
No Brasil – afirma o parlamentar – merece destaque a implantação de medição individual em Pernambuco, especialmente na capital, Recife. Lá foi desenvolvido um modelo, respeitando as características locais que recebeu completa adesão da população.
Nos edifícios com hidrômetros individuais o consumo foi reduzido em até 25%, conforme demonstraram estudos realizados por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (www.ufpe.br).
Madeira afirmou que o êxito da experiência realizada em Recife demonstrou o acerto da iniciativa. Mesmo porque a adaptação para a implantação da medição individualizada de água é relativamente fácil e de baixo custo. Atualmente, apartamentos com medição individualizada são encontrados praticamente em todos os bairros do Recife . A empresa de águas, Compesa, recebe cerca de 300 solicitações diárias para a instalação de hidrômetros em apartamentos.
Menor faturamento
“Por incrível que pareça – explica um técnico da Agência Nacional de Águas – quem não tem muito interesse em colocar hidrômetros em cada apartamento são as próprias empresas de abastecimento de água, pois com a economia e a queda do desperdício cairá também o consumo e, conseqüentemente, o faturamento final das empresas concessionárias de abastecimento”.
Já o ex-Secretário de Recursos Hídricos do MMA, professor Raymundo Garrido, é categórico: “De fato, é incrível que a companhias de abastecimento possam pensar assim. Não se pode esperar uma postura tão contraditória ao senso de civismo, ainda mais em se tratando de entidades públicas, que é o caso da grande maioria das empresas de saneamento”.
E conclui Raymundo Garrido: “Quem raciocina desta forma, por certo não compreende nem a importância da redução do consumo e nem o valor de acabar com o desperdício. Ao propiciar novos estoques de água, enseja a busca de novos consumidores. A verdade é que o mercado consumidor de água – como o de energia – quando há criatividade, não encontra fronteiras”.