Transposição do São Francisco

12 de dezembro de 2003

Debate volta com tudo apoiado pelo presidente Lula e pelo vice José Alencar

Minas Gerais – A reunião em Belo Horizonte foi com pouca gente do governo, mas aberta para a imprensa e para as ONGs. O secretário de Meio Ambiente de MG, o ex-ministro José Carlos Carvalho, considerou uma reunião de qualidade e de muita contribuição técnica. A presença das ONGs e de ambientalistas foi muito oportuna. O vice José Alencar disse que é a favor do projeto por convicção, mas ouviu um pedido unânime: primeiro a revitalização da bacia, depois a transposição.


Bahia – A reunião em Salvador (18/agosto) foi no auditório do Desembahía, com a presença de umas 200 pessoas. José Alencar, com a ajuda de técnicos, fez apresentação do projeto e pediu o apoio dos baianos. Recebeu uma cascata de posicionamentos contrários. Primeiro foi o ex-senador Waldeck Ornellas, presidente da Ong SOS Velho Chico: “O senhor recebeu a ingrata missão de defender um projeto sem futuro. Não há como cogitar em transpor o São Francisco sem antes revitalizar toda sua bacia hidrográfica”. Foi aplaudido de pé.


Enquanto a deputada estadual Moema Gramacho (PT) pedia ao vice que o governo tome uma decisão mais participativa, o professor Raymundo Garrido, profundo conhecedor do tema, colocou mais um pingo d}água e quase derrama tudo: “Tenho três colocações a fazer: 1) A água, como regra geral na gestão dos recursos hídricos, deve ser movimentada de onde ela é menos para onde ela é mais produtiva. E este projeto faz justamente o contrário, a menos que se trate de ?água para beber?; 2) Para bons projetos, nunca faltou dinheiro nesse país. Não é à toa que esse projeto tem mais de 150 anos; 3) os estados que se candidatam a receber águas do São Francisco, com exceção do Ceará, ainda têm muito que implementar requisitos de uma gestão racional, pois todos têm disponibilidade de água. O vice José Alencar respondeu nada mineiro: – Esses seus argumentos matam o projeto…


Sergipe – A reunião em Aracaju, 18/agosto à noite, foi no auditório da Companhia de Desenvolvimento Industrial de Sergipe. Havia umas 200 pessoas. Não se sabe se devido as fortes posições contrárias durante as duas reuniões anteriores, o fato é que em Sergipe mudou-se totalmente o rumo dos debates: mais do que transposição, discutiu-se revitalização.


Alagoas – Em Maceió, (19/agosto) a revitalização novamente tomou conta dos debates. Alencar, mesmo se dizendo a favor do projeto, sentiu que os 150 anos de discussão têm alguma coisa a dizer: as obras de engenharia podem ser viáveis, mas a obra política de ter apoio dos cinco estados banhados pelo Velho Chico não é nada fácil. Ainda mais com o apoio dos ambientalistas.


Brasília – Em Brasília (25/agosto) durante o Seminário Internacional do Programa de Ação Estratégica para Gestão da Bacia do rio São Francisco, o vice-presidente José Alencar voltou ao tema da transposição: ?O governo tem dois programas. Primeiro a revitalização do rio com combate ao assoreamento, a recomposição da mata ciliar e a implantação do esgotamento sanitário. Depois o projeto da transposição, um sonho desde D. Pedro II que o presidente Lula quer concretizar?.


Glossário
Transposição –
É a transferência de águas entre bacias hidrográficas. É uma das formas de satisfazer a demanda crescente por água em regiões secas. Trata-se de um instrumento de gestão, pois implica importantes tarefas para o bom gerenciamento dos recursos hídricos.


Transposição do São Francisco – Desde o Império se fala na transposição das águas do rio São Francisco para atender às necessidades do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O Projeto consiste na transferência de cerca de 2% das águas do Velho Chico (70m3 por segundo) em dois eixos. O Eixo Norte (de Cabrobó a Açude do Pau-dos-Ferros) prevê um conjunto de 5 canais, 12 aquedutos, 6 túneis, 4 estações de bombeamento e 13 reservatórios; O eixo Leste (Reservatório de Itaparica ao Açude Poço da Cruz e depois Açude Poções) prevê 1 canal, 2 túneis, 5 aquedutos, 5 estações de bombeamento e 9 reservatórios intermediários. O conjunto dos dois eixos e suas ramificações terá cerca de 700 km de extensão. A versão atual cria novos eixos de transposição.