Gestão Ambiental

A Defesa e a Gestão Ambiental

30 de janeiro de 2004

O Ministério da Defesa adota amplo programa de gestão ambiental com ações que combatem o desperdício, previnem a poluição e estimulam o uso racional de ativos ambientais

 


João Brígido Bezerra Lima para a reporter:
“Lixo é dinheiro. Desperdiçar é perder dinheiro”

oseli Garcia – de Brasília
O Ministério da Defesa colhe os primeiros resultados do Programa de Gestão da Qualidade Ambiental que acaba de lançar. O novo modelo administrativo, que está sendo implantado gradualmente pelo ministro Geraldo Quintão, da Defesa, desde abril passado, segue os princípios do programa Agenda Ambiental na Administração Pública do Ministério do Meio Ambiente. O objetivo é reduzir o desperdício, prevenir a poluição e estimular o uso racional dos ativos ambientais. Embora outros órgãos públicos tenham adotado iniciativas semelhantes, o projeto do Ministério da Defesa é o mais amplo. "Eles estão atacando em todas as frentes", destaca a coordenadora do Agenda Ambiental, Jacimara Guerra Machado. O ministro Quintão determinou inclusive a adoção de critérios ambientais nas licitações e nos contratos do ministério.

O programa de Gestão da Qualidade Ambiental do Ministério da Defesa inclui alternativas para geração de renda e o resgate da cidadania destinado a comunidades carentes, como a doação do lixo reciclável para cooperativas, cursos de informática, carpinteiro e engraxate, entre outras atividades. Outro aspecto importante é a capacitação de funcionários civis e militares.

"Na minha opinião lixo é dinheiro, desperdiçar é perder dinheiro, portanto, trato esses temas como questão econômica", afirma o coordenador do Programa da Defesa, João Brígido Bezerra Lima, chefe de gabinete do ministro Geraldo Quintão. Brígido não pode ser considerado um estranho no ninho. engenheiro agrônomo, ele fez mestrado em Gestão Econômica do Meio Ambiente na UnB e também é técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea.

Água: não ao desperdício
Considerada um problema mundial a ser enfrentado neste século, a água é outra fonte de preocupação do ministério. Em princípio, o objetivo é tratar a água de serviço – com exceção de uso sanitário – e destiná-la à lavagem de carros e às plantas próximas ao prédio-sede, em Brasília.

A operação das mudanças propostas pelo Ministério da Defesa é realizada basicamente pelos funcionários. Para sensibilizar os servidores civis e militares com a nova gestão ambiental, o coordenador está promovendo seminários e cursos sobre o tema. O ministério realizou em agosto o Seminário sobre Gestão da Água e do Meio Ambiente. As empresas Deca e Hidra, em parceria com a ONG Água e Cidade, formaram gratuitamente os gestores de água.
João Brígido Bezerra Lima acredita que o treinamento de funcionários deve evitar a suspensão do programa em 2003, quando mudar o governo.

Consumo de energia caiu pela metade
O consumo de energia do ministério foi reduzido à metade, com medidas simples, como a troca do sistema elétrico, substituição e redução de lâmpadas.
Atualmente, a média diária situa em torno de 4 mil quilowatts. Em 2001, chegava perto de 8 mil quilowatts. Disposto a manter a economia, Brígido instalou um sistema de acompanhamento dos gastos de energia..
"Esse acompanhamento permitiu ao ministério descobrir um consumo exagerado de energia por volta das 7 horas, quando os funcionários da limpeza acendiam todas as lâmpadas, mesmo que ninguém tivesse chegado ao trabalho", observa o coordenador. Com a alteração desse comportamento, conseguiu-se a redução de mais alguns quilowatts que estavam sendo desperdiçados. Sempre que ocorre alguma mudança no padrão atual de gasto é feita uma avaliação para detectar o problema. Nos últimos dias de setembro, o consumo de energia voltou aos índices do ano passado. Ainda sem os dados técnicos, Brígido avalia que a alta pode ter sido causada por uma obra que está acontecendo no prédio.

A etapa inicial incluiu levantamentos sobre gastos de água, energia e produção de lixo. A produção de lixo do ministério é da ordem de meio quilo por funcionário, o que equivale a 400kg/dia. Além da coleta seletiva, a intenção é reduzir essa proporção. O Programa de Gestão Ambiental prevê também a troca do modelo dos elevadores de mecânico para eletrônico. O circuito eletrônico evita o deslocamento de mais de um elevador, mesmo quando todos são chamados. As soluções modernas como a chamada tecnologia inteligente implica em mais despesas, mas segundo o coordenador, essas despesas são compensadas com a grande economia do novo sistema. O modelo eletrônico está sendo testado no elevador destinado ao deslocamento do ministro Quintão.

O orçamento do Ministério da Defesa para 2003 destina recursos para a mudança de sistema em mais dois elevadores. Brígido calcula que, em dois anos, todos já estejam adaptados à nova tecnologia.
A participação da comunidade está prevista, por exemplo, no aproveitamento do lixo reciclável. Uma parceria com a Fundação Instituto Telemar permitirá ao ministério instalar coletores para copo descartável, papel, plástico, resíduos orgânicos, vidro e até pilhas e baterias – resíduos considerados perigosos. A idéia é que esses produtos sejam destinados a cooperativas sociais e vendidos a indústrias de reciclagem. Esse processo conta com a participação do Comunidade Solidária.

Lixos recicláveis são doados a cooperativas
Programas da Agenda Ambiental na Administração Pública estão se disseminando entre instituições do governo federal, do Legislativo e do Judiciário. Essa iniciativa – estimulada pelo Ministério do Meio Ambiente, via cooperação técnica – acaba de ser premiada pela Unesco. Projetos semelhantes ao do Ministério da Defesa foram adaptados pela Presidência da República, Câmara dos Deputados, Superior Tribunal Federal (STF), Ministério Público do Distrito Federal, entre outros.

A Câmara dos Deputados, por exemplo, faz coleta seletiva e doa os resíduos recicláveis para a Cooperativa Contrap, afirma a coordenadora do Agenda Ambiental pelo Ministério do Meio Ambiente, Jacimara Guerra Machado. Eles implantaram também um sistema próprio de compostagem dos resíduos orgânicos, como restos de frutas e pó de café, que são usados para adubar os jardins. Os responsáveis pelo programa fizeram, ainda em agosto, uma vídeo conferência sobre gestão de resíduos sólidos com participação das assembléias legislativas dos estados.

Quem caminha pelos corredores da Câmara corre o risco de ser interceptado pela Ecologilda, uma boneca que sensibiliza as pessoas sobre a adoção de medidas ambientalmente saudáveis.
Com atitudes mais sóbria, a Presidência da República prioriza a questão social. Em parceria com o Comunidade Solidária e o Sebrae, o Palácio destina os resíduos sólidos à Cooperativa de Catadores 100 Dimensão.
Ainda na fase inicial do processo, o STF já assinou o termo de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente e o Comunidade Solidária e realizou o pregão para a compra dos coletores seletivos. (RG)