Economia & Meio Ambiente

Isenção do IPI vai ajudar a reciclagem

30 de janeiro de 2004

Ministro do Meio Ambiente diz que chegou a hora de fazer desenvolvimento sustentável para valer


As indústrias que utilizarem plástico reciclado em seus produtos terão um crédito do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI – de 15%, que é a tarifa máxima paga pelos plásticos. O benefício fiscal foi concedido pela Medida Provisória nº 75, de 24 de outubro último, (artigo 6º) e sua plena utilização depende de regulamentação que já está sendo elaborada pela Secretaria da Receita Federal, com a assistência do Ministério do Meio Ambiente. Assim, por exemplo, se uma indústria que produz canetas de plástico decidir usar plástico reciclado na fabricação total ou parcial da caneta, terá a isenção do IPI sobre essa matéria-prima utilizada.

Até a concessão desse benefício, a reciclagem das embalagens PET enfrentava uma desvantagem tributária considerável, decorrente da não geração de créditos de IPI a serem aproveitados posteriormente. É essa desvantagem que agora foi eliminada. Trata-se, na visão do ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho(foto), do início de uma nova e crucial etapa da política de meio ambiente no Brasil: a utilização de instrumentos econômicos – no caso, um crédito fiscal – para estimular as ações de desenvolvimento sustentável. Segundo o ministro, o Brasil já dispõe de uma legislação ambiental completa – e uma das mais avançadas do mundo – e de toda uma estrutura jurídico-administrativa que garante a aplicação da legislação, o controle e a aplicação de punição aos infratores das normas ambientais. Essas regulamentações e sanções constituem o que os técnicos chamam de mecanismos de controle.

Falta, porém, o mais importante: uma articulação das diversas políticas públicas com a política ambiental, para que as ações de desenvolvimento sustentável saiam do papel. E o primeiro passo envolveu uma ação articulada da Secretaria da Receita Federal, com o apoio do Secretário Everardo Maciel, e do Ministério do Meio Ambiente, estimulando a reciclagem. Essa articulação se fará através dos chamados mecanismos e instrumentos de mercado, dos quais se destacam os impostos, taxas, multas, tarifas, incentivos e financiamentos e a criação ou apoio a mercados.Leia mais sobre o assunto…

O ciclo de vida dos plásticos
A origem da palavra plástico vem do grego plastikós, que significa: adequado à moldagem. Plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadas polímeros que, por sua vez, são formados
por moléculas menores chamadas de monômeros.

Os plásticos são produzidos através de um processo
químico chamado de Polimerização, que proporciona
a união química de monômeros para formar polímeros.

Os polímeros podem ser naturais ou sintéticos.
Os naturais tais como: algodão, madeira, cabelos,
chifre de boi, látex entre outros, são comuns em plantas e animais.
Os sintéticos, tais como os plásticos, são obtidos pelo
homem através de reações químicas. O tamanho e estrutura
da molécula do polímero determinam as propriedades do material plástico.
Matéria prima
A matéria-prima dos plásticos é o petróleo. Na realidade, o petróleo
é formado por uma complexa mistura de compostos.
Pelo fato destes compostos possuírem diferentes temperaturas de ebulição,
é possível separá-los através de um processo conhecido como destilação ou craqueamento.
  A fração nafta é fornecida para as centrais petroquímicas,
onde passa por uma série de processos, dando origem
aos principais monômeros, como por exemplo, o eteno.

Um novo mercado
Os técnicos do Ministério do Meio Ambiente envolvidos nessa operação falam do projeto com entusiasmo. Maria do Carmo Bezerra, responsável pela execução da Agenda 21 brasileira – que prevê a utilização de instrumentos econômicos, inclusive créditos presumidos – acredita que, tal como ocorreu com as latas de refrigerantes, poderá surgir no País, a partir de agora, um mercado organizado de coleta de plástico, abrindo espaço para a oferta de novos empregos, justamente nas camadas mais necessitadas da população.

Coletadores
Os coletadores poderiam inclusive organizar-se em cooperativas e eles próprios se responsabilizarem pela primeira etapa do processo produtivo, que é a limpeza e a moagem dos plásticos coletados para, assim, serem fornecidos às indústrias. Maria do Carmo acredita que, com o êxito do projeto IPI – plásticos reciclados, outras iniciativas na esfera dos instrumentos econômicos, tanto creditícios como fiscais, poderão ser tomadas, envolvendo, por exemplo, incentivos ao manejo florestal sustentável. Neste caso, o objetivo é proteger o patrimônio de recursos naturais do País. Mais: atender à demanda potencial de madeira certificada no mercado interno, estimada em dois milhões de metros cúbicos, expandir as exportações bem como conciliar o aproveitamento econômico das florestas nativas com a preservação da natureza. Além de aumentar as oportunidades de promoção do desenvolvimento sustentável na Amazônia, reduzindo o ritmo de urbanização da região.

A intenção é, nos próximos anos, envolver a indústria da reciclagem nos projetos de incentivo, de modo a garantir o máximo aproveitamento dos resíduos e outros componentes não degradáveis do lixo urbano. A dificuldade reside nos elevados custos do processo de reciclagem. Por causa da dispersão dos resíduos, fica caro recolher, separar, compactar e transportar os resíduos até às indústrias de reprocessamento, que não se mostram interessadas no material descartado. Contudo, a possibilidade de obtenção de incentivos fiscais e creditícios abre espaço para viabilizar o reprocessamento, que além do fator econômico, especialmente a ampliação do mercado de trabalho, reduzirá os danos à saúde causados pela exposição dos resíduos industriais, tais como a contaminação das águas, decorrente da deposição de lâmpadas de mercúrio em aterros sanitários e as inundações provocadas pelo entupimento de galerias pluviais por sacos e garrafas de plástico.

O plástico Pet
A concessão do primeiro incentivo econômico à reciclagem, através da Medida Provisória nª75, de 2002, alcançará, sobretudo, o plástico PET, material que compõe cerca de 60% das embalagens plásticas no Brasil, como garrafas de refrigerantes, recipientes para produtos de limpeza e higiene, potes de alimentos e outras utilizações.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim – o consumo nacional de plásticos é, hoje, da ordem de 3,8 milhões de toneladas anuais, sendo que, deste total, 350 mil toneladas são despejadas anualmente nos lixões, justamente a quantidade que agora poderá ser reciclada.
O plástico reciclado é utilizado na produção de fibras para fabricação de cordas, fios de costura e cerdas de vassouras e escovas, brinquedos, materiais de construção e peças de plástico em geral.
Atualmente, a reciclagem do PET é feita em pequena escala e destinada à produção de itens de menor valor, tais como: fibras sintéticas ( 40% da produção), cordas ( 15%) e embalagens (9%).

Abiquim aplaude medidas de incentivo à reciclagem
Antônio Riera, do Plastivida: as aparas e resíduos de plástico eram os únicos materiais que recolhiam IPI na indústria da reciclagem. O governo federal reduziu a zero a alíquota do IPI das aparas, resíduos e desperdícios de plástico. A medida vigora desde 1ª° de novembro (Decreto 4.441, de 25/10/2002). O mesmo decreto estabeleceu a redução do IPI de praticamente todos os produtos químicos contidos no capítulo 39 da TIPI, entre os quais as resinas termoplásticas, tais como os polietilenos, o PVC, o polipropileno e o poliestireno. Também o policarbonato, o poliuretano, os polímeros de acetato de vinila, as resinas epóxi, os poliacetais, as resinas acrílicas e as poliamidas foram beneficiados pela medida, assim como muitos outros produtos. O governo também determinou que a aquisição de desperdícios, resíduos e aparas de plásticos, por estabelecimentos industriais, para utilização como matéria-prima ou produto intermediário, ensejará ao adquirente crédito presumido do IPI sobre o valor de aquisição daqueles desperdícios, resíduos ou aparas (Medida Provisória 75, de 24/10/2002).

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim, as medidas são altamente benéficas e deverão estimular a reciclagem de plásticos no Brasil. Para o coordenador do Plastivida, Antonio Riera, as aparas e resíduos de plástico eram os únicos materiais que recolhiam IPI na indústria da reciclagem, o que já não acontece mais. Em sua avaliação, as medidas vão elevar o percentual de reciclagem de plásticos pós-consumo no país, hoje em 17,5%. Comparado à taxa européia, que há anos está estabilizada em 22%, o percentual brasileiro se mostra extremamente positivo, pois aqui a reciclagem acontece de forma espontânea, diferentemente do que ocorre em países da Europa, onde a prática é impositiva, regulada por legislações consolidadas. Para Antônio Riera, a isenção de IPI também contribuirá para reduzir a informalidade na atividade dos recicladores, o que ajudará na elevação da arrecadação e na diminuição da dívida pública.

Incentivos fiscais na Agenda 21
A idéia da introdução dos incentivos econômicos na promoção do desenvolvimento sustentável não foi um achado. Trata-se de um dos capítulos da Agenda 21 brasileira. O texto, relativo às Ações Prioritárias, considera que "entre os mecanismos e instrumentos de mercado subsidiários às políticas de desenvolvimento sustentável, está a incorporação das dimensões social e ambiental na avaliação de financiamentos oficiais e na concessão de incentivos fiscais". O documento considera que, "independentemente de uma ampla e indispensável reforma tributária, ainda existe espaço político-institucional para mudanças incrementais em diversos instrumentos tributários, para adequá-los à implementação da Agenda 21 brasileira". Uma das alternativas mencionadas é a cota-parte do ICMS, "cuja aplicação é definida por lei estadual e constitui enorme possibilidade para a promoção de políticas, programas e projetos de desenvolvimento sustentável". Alguns estados distribuem a cota do ICMS destinada aos municípios priorizando aqueles que patrocinam projetos de desenvolvimento sustentável.

A experiência internacional
Muitos países, em especial, na Europa, já utilizam os instrumentos econômicos, sejam fiscais ou creditícios, como mecanismos para melhorar o desempenho da gestão ambiental. Os especialistas acreditam que, ao fornecer incentivos ao controle da poluição ou de outros danos ambientais, os instrumentos econômicos permitem que seja menor o custo social de controle ambiental. Como o Brasil já utiliza alguns instrumentos como royaltie, compensações fiscais, cobranças ao usuário de água e tributação florestal, a instituição de um crédito presumido do IPI para a reciclagem de plásticos é apenas mais um passo nessa direção, embora importante, por tratar-se de viabilizar ações de desenvolvimento sustentável.

Os instrumentos econômicos podem ser classificados em dois tipos: incentivos que atuam na forma de prêmios, como o crédito presumido, e incentivos que atuam na forma de preços. Poderá haver, contudo, uma combinação entre os dois tipos. Outro mecanismo incentivador, mencionado em documento elaborado pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável – SDS – do Ministério do Planejamento é o do depósito-retorno, no qual o retorno de certas embalagens, vasilhames ou produtos é remunerado, possibilitando, assim, que tais produtos sejam retirados das ruas, e ainda estimulando os consumidores a adquiri-los, na expectativa de que terão direito a uma remuneração pela devolução do vasilhame, reduzindo, na prática, o custo do produto adquirido.