Postos de gasolina e o ambiente
29 de janeiro de 2004Cuidado! a gasolina é um coquetel indigesto com mais de 200 substâncias
Impacto Ambiental
O dado da Cetesb é terrível: no ano de 2001 foi estimado que metade dos problemas de contaminação do aqüífero livre (“lençol freático”), era relacionada diretamente com vazamentos de tanques e tubulações de armazenamento de postos de gasolina.
Com alto poder contaminante e bastante volátil, produzindo gases altamente explosivos, a gasolina é formada por mais de 200 compostos, a quase totalidade muito tóxica, particularmente o Benzeno, chefe da famosa “Quadrilha BTXE” (Benzeno, Tolueno, Xileno e Etilbenzeno). Os riscos à saúde humana que esse hidrocarboneto oferece vão desde o câncer, malformações fetais, disfunções metabólicas e sexuais até aos danos ao sistema reprodutivo. A sua tolerância em águas para o consumo humano não passa de 0,005 mg/L, segundo determina a Portaria no 1.469/2000, do Ministério da Saúde.
Correr atrás do prejuízo
é mais prático?
Para os proprietários dos postos, quando esses acidentes ocorrem (e nem sempre avisam com antecedência) a tremenda dor-de-cabeça requer medicação pesada, afinal com veneno não se brinca.
O remédio para essa enxaqueca maluca pode amargar o bolso do empresário quando o problema ambiental for relevante. Começa com a substituição dos tanques. Pode corresponder a um desembolso a fundo perdido, e põe perdido nisso, de 200 mil dólares ou mais, num prazo que pode ultrapassar seis meses de transtornos diversos, não só a interrupção de atividades comerciais. Citam-se casos em que o custo da remediação ficou maior do que o valor venal do posto.
Qual o combustível mais tóxico ao ser humano?
O álcool, produto orgânico, resultado do processamento industrial por destilação da cana-de-açúcar, não oferece, nem de longe, os riscos à saúde humana que a gasolina proporciona. Estamos tratando de impactos provocados por vazamentos/derramamentos desses combustíveis no Meio Ambiente, que vão atingir as águas subterrâneas.
A propósito, metade da água consumida no Estado de São Paulo é proveniente do subsolo, captada através de poços rasos escavados e tubulares, mais ou menos profundos. Não dá para ignorar o assunto!
É bem verdade que parte da gasolina usada nos motores à explosão pode conter até 25 ou 26% de álcool etílico anidro, atenuando os impactos ambientais na atmosfera. Nessas condições, facilita o deslocamento do combustível no subsolo, quando vaza dos tanques, devido a uma propriedade chamada “co-solvência”, atingindo maiores distâncias que a gasolina pura.
E o ProÁlcool, maior programa de energia renovável do mundo?
Desativar o PróÁlcool foi um bom negócio. Mas para as arábias, isto não se discute. Muitas quadrilhas internacionais, com ou sem turbante, continuam impunemente rindo à toa.
Como diria aquele macaco, “não precisa explicar, eu só queria entender”…
Num país-continente, com área agricultável absurdamente grande, com condições bastante climáticas favoráveis quando comparadas a inúmeros países, com solo bom a satisfatório, uma tecnologia de plantio e processamento industrial considerada a mais avançada do mundo (temos até Genoma da cana!) e mão-de-obra abundante, não se pode aceitar que o consumo desse combustível auto-sustentado, em vez de aumentar cada vez mais, a partir do final da década de 70, diminuísse sensivelmente, com pequenas oscilações desprezíveis no contexto geral.
Naquela época, mais de 60% dos carros rodavam à custa do álcool. Hoje não passam de 6%, embora entre os anos de 2001 e 2002 tenha apresentado um aumento sensível (143%), particularmente no Estado de São Paulo. Íamos nos esquecendo: a nossa tecnologia automotiva referente aos “motores híbridos” também é das melhores. Estão mais que provados e aprovados, os motores nacionais funcionam muito bem tanto com o álcool como com a gasolina (com álcool!), sem falar do “biodiesel”, puro ou composto, neste caso misturado com algum óleo vegetal (babaçu, buriti, dendê, girassol, mamona, soja).
Uma política ambiental tem que estar atrelada à política econômica do País. O meio ambiente (Físico: ar, solo/rocha e águas; Biótico: fauna e flora e Antrópico: homem), que não é meio mas inteiro, é conceitualmente holístico. Não dá para mexer só num fio dessa teia sem que muitos outros não se alterem.
Se a intenção é diminuir o impacto pelos hidrocarbonetos, tem que se aumentar o uso do álcool e, conseqüentemente, a sua produção, inibindo cada vez mais o consumo daqueles. Isso só se consegue com políticas corajosas, inteligentes, responsáveis e duradouras de incentivos, não só econômicos, sem penalizar qualquer setor da nação (educação, saneamento/saúde).
Se os nossos amigos norte-americanos utilizassem somente álcool em seus carrões, Bush poderia assinar despreocupadamente o Protocolo de Kyoto, até com o seu pé direito.
Conscientização urgente
Se os nossos amigos norte-americanos utilizassem somente álcool em seus carrões, Bush poderia assinar despreocupadamente o Protocolo de Kyoto, até com o seu pé direito.
No centro urbano
Ao contrário da maioria das indústrias, os postos de gasolina estão espalhados no meio urbano. Dessa forma, os produtos vazados do sistema de armazenamento subterrâneo de combustíveis (SASC) podem causar sérios transtornos e graves acidentes. Quando? Justamente quando atingem redes de esgotos, galerias pluviais, galerias de serviços telefônicos, garagens subterrâneas, ou quando conseguem até penetrar, por diferença de pressões, através dos defeitos nas redes de distribuição de água. Tudo isso em curtíssimo prazo, através da contaminação da água e explosões dos vapores da gasolina volatilizada (“evaporada”) nessas galerias.
Em muitos desses casos mobilizam-se simultaneamente o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, os órgãos de segurança municipais e estaduais etc., seguida da interdição do posto de serviços e autuação do seu proprietário.
Se no entorno próximo houver consumidores da água subterrânea, captada através de poços rasos ou mesmo profundos, a situação fica realmente muito complicada, afinal de contas Benzeno não é vitamina.
Se os vazamentos de combustível dos tanques/tubulações contabilizados pela Cetesb, que atingem o lençol freático, fossem de álcool ou do biodiesel, em vez do “coquetel” de hidrocarbonetos, com certeza os impactos ambientais seriam bem menores e os riscos também.
Salvo, é claro, no caso de algum esperto que resolvesse juntar limão e açúcar para curtir o maior barato. Mas aí já é outra história.