Prêmio Nobel - História

Nobel, 100 anos de luta pela Ciência e pela Paz

30 de janeiro de 2004

Napoleão III tomou conhecimento da invenção do jovem Nobel e mandou chamá-lo para conceder-lhe um crédito de cem mil francos

Prêmio Nobel, o mais famoso, mais prestigiado e o mais conceituado prêmio do mundo, tem uma história de mais de 100 anos. O prêmio existe desde 1901, graças a Alfred Nobel, um químico sueco que inventou e ganhou muito dinheiro com sua invenção: a dinamite. Paradoxalmente, graças a sua revolucionária invenção, milhões de pessoas no mundo morreram pelas bombas e outros artifícios da guerra. Mas, a história mostra que essa nunca foi a intenção de Alfred Nobel. Ele ganhou fortunas, mas perdeu as esperanças quando o homem fez de sua invenção uma máquina de matar. Alfred Nobel nasceu em Estocolmo e morreu em San Remo em 1896. Filho do químico Immanuel Nobel, ele começou a trabalhar muito jovem na pequena fábrica do pai, acompanhado de seus três irmãos. O pai pretendeu encaminhá-lo para uma profissão mais suave, pois ele era o mais fraco dos filhos. Mas o jovem não se conformou. A química era a sua grande paixão. Tanto era que cedo ele começou a dar provas da sua capacidade. A ele se deve o uso corrente da nitroglicerina como explosivo, tendo conseguido obter a respectiva fórmula depois de muitas experiências. Como esta substância é muito sensível para ser empregada pura, Alfred Nobel atenuou-lhe a
sensibilidade por meio de uma mistura de sílica amorfa.


E assim, com essa mistura, começou o caminho para outra invenção ainda mais revolucionária – a dinamite. Como nessa época era proibido trabalhar com explosivos, ele instalou o seu laboratório numa embarcação de madeira, que flutuava num lago próximo, para as suas arriscadas experiências.
Em 1861, depois de ter conseguido o que pretendia, foi para Paris a fim de encontrar alguém que lhe financiasse o desenvolvimento do invento. Ele expôs seu plano a um grupo de banqueiros mostrando a força da dinamite tinha força suficiente para. A verdade é que sua exposição causou grande espanto e medo entre os presentes.
Quando Napoleão III tomou conhecimento dessa poderosa invenção, mandou chamá-lo e concedeu-lhe um crédito de cem mil francos. Mas nem tudo ía bem. Pelo menos emocionalmente. Alfredo Nobel estava apaixonado por uma jovem de Paris e teve o desgosto de vê-la morrer de tuberculose. Desolado, regressou à Suécia sem aspirações e vontade de lutar pela vida. E só não acabou com sua carreira de inventor graças à força e a coragem que seu pai e irmãos lhe deram. Alfred Nobel buscou ânimo para continuar o trabalho, mesmo porque tinha que dar conta dos cem mil francos que ganhou de crédito para desenvolver a invenção.


Tragédia
Em 1864, durante as experiências com nitroglicerina, uma experiência no laboratório matou-lhe o irmão mais novo e quatro operários. Mesmo aborrecido, continuou suas atividades. Ele instalou uma fábrica de explosivos na Noruega e isso o permitu fazer experiências com a dinamite numa escala ainda maior. Em 1869, ele estabeleceu um laboratório em Saint-Sévrain, perto de Paris, e, tempos depois, descobriu a pólvora sem fumo. Em 1891, fixou-se em San Remo (Itália) onde veio a falecer em 1896. No seu testamento, determinou que a sua imensa fortuna de 40 milhões de francos fosse aplicada na manutenção dos seis prêmios anuais.


Os seis Prêmios Nobel
Por que não há Prêmio Nobel para a Matematica? Bem, essa é uma boa história. Seis prêmios Nobel foram criados graças aos desejos do químico sueco Alfred Nobel. Os prêmios são distribuídos anualmente, um em cada das seguintes categorias: Literatura, Fisica, Química, Economia, Fisiologia e Medicina, e Paz.
No entanto, a Matemática ficou de fora. Por quê? A pesar de extensas especulações, não se sabe com certeza o porquê dessa omissão. E para matemática não ficar fora do movimento dos grandes e prestigiados prêmios, matemáticos de várias partes do mundo, no congresso mundial de matemática de 1924 em Toronto, no Canadá, decidiram criar duas medalhas de ouro para reconhecer o mérito dos matemáticos que se destacarem.
As especulações do porquê que Alfred Nobel não deixou um prêmio para a Matemática são muitas. A mais comum, embora não fundamentada históricamente, foi o fato de ele ter se decepcionado com uma mulher com a qual ele tinha uma relação amorosa séria. Segundo especulações, ela o rejeitou por um outro sueco, o famoso matemático Gosta Mittag-Leffler. Alfred não sublimou essa perda.


Por que Noruega?
Uma outra questão que disperta curiosidade e que ganha asas no mundo das especulações é o fato de Alfred Nobel ter deixado o Prêmio da Paz exatamente na Noruega e não na Suécia, como deixou os demais. Segundo Turill Johansen, secretária do Instituto Nobel, ninguém sabe a verdadeira razão. Na época, a Noruega pertencia à Suécia e Alfredo parecia gostar dessa união. Então preferiu deixar por escrito, em 1895, seu desejo de que o parlamento norueguês selecionasse o comitê responsável pelo prêmio.


Os primeiros prêmios
O primeiro prêmio Nobel da Paz foi concedido, há exatamente 101 anos, ao suíço Henri Dunant e ao francês Frédéric Passy. De 1901 até hoje, o prêmio foi dado a 90 pessoas e a 16 instituições. Ano passado, o Prêmio Nobel da Paz completou 100 anos e teve um peso maior pelo seu caráter simbólico. Nunca o mundo vivenciou tantos laureados do Nobel da Paz juntos, como foi na celebração do centenário em Oslo. O Instituto Nobel da Paz decidiu colocar a ONU e seu secretário geral Koffi Anann em foco. Um e outro foram laureados com o prêmio, num momento em que o mundo vivia as incertezas da paz mundial. Mas com uma certeza: evidenciar o estratégico papel da ONU nesta questão. Com a tendência do movimento unilateral dos Estados Unidos como a maior potência econômica e bélica do mundo atual, mais as incertezas do terror internacional, premiar a ONU e seu secretário geral pode ser traduzido como uma forma de fortalecer a ONU como instituição fundamental para condução do processo de paz.


Fatos interessantes sobre o Nobel da Paz e sobre a Noruega


PAZ EM AMARELO
A cor do Instituto Nobel da Paz(foto) não é branca e sim amarela. O instituto fica localizado em Oslo, capital da Noruega. Como vizinhos, o instituto tem o Palácio do Rei e a Embaixada Americana, que ultimamente vive cercada por grades de ferro e policiais. Aliás, esse não é um costume da polícia norueguesa.
O instituto tem uma pequena biblioteca e é um lugar calmo para se fazer pesquisas sobre relações internacionais e políticas estrangeiras.


MESTRADO DA PAZ
A Noruega é um país pequeno, como uma população de 4,4 milhões de habitantes, e tem o status internacional de país mediador de conflitos. Ela está envolvida em conflitos no Oriente Médio, na América do Sul, na Ásia e na África. Recentemente, a Noruega começou a oferecer um mestrado sobre paz que na verdade são estudos de conflitos. Durante seis semanas de verão (junho a agosto) a International Summer School (ISS) da Universidade de Oslo oferece um concorridíssimo curso de seis semanas sobre estudos da paz. Se estuda causas e conseqüências de conflitos pelo mundo, com direito a seminários sobre resolução de conflitos. Segundo o diretor da ISS, o único brasileiro que participou desse curso até hoje, foi o correspondente da Folha do Meio Ambiente, em Oslo, Carlos Caju, no ano de 1997.


O CHOQUE CULTURAL
A Noruega era um país sem grandes choques culturais. Era. Hoje o país vem passando por uma transformação cultural, graças a concentração de imigrantes de vários pontos do mundo: Marrocos, Paquistão, Somália, Leste Europeu etc. E, com isso, o índice de choques culturais e os problemas de integração e descriminação com estrangeiros vem crescendo.
No ano passado um jovem de 15 anos, de descendência chilena, foi assassinado a facadas por um grupo de noruegueses nazistas.
Outro sintoma é que, hoje, o partido político mais conservador está ficando cada vez mais forte. Aliás, foi justamente deste partido norueguês que saiu a indicação do presidente Bush e do Premier do Reino Unido, Tonny Blair, para o Prêmio Nobel da Paz.



Gunnar Berge, Diretor do Instituto, tem sempre
atenção especial para a mídia e para os
convidados durante as premiações


O Prêmio Nobel da Paz de 2002
Prêmio da Paz será entregue dia 10 de dezembro ao ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter


Carlos Caju – de Oslo
O Prêmio Nobel da Paz de 2002 foi atribuído ao
ex-presidente norte-americano Jimmy Carter. É sempre entregue numa mesma data: 10 de dezembro, aniversário de morte de Alfred Nobel. Oficialmente, segundo o Instituto Nobel da Paz, o prêmio foi atribuído a Jimmy Carter pelas “suas décadas de incansáveis esforços na busca de soluções de paz para os conflitos internacionais, por fazer progredir a democracia e os direitos humanos e por promover o desenvolvimento social e econômico”.


Extra-oficialmente o recado foi claro: a decisão do Comitê do Nobel é um gesto de repulsa aos planos de guerra da administração de Bush. Diz-se que o antigo presidente Carter, em oposição a George W. Bush, terá colocado os direitos humanos como “peça central da política externa norte-americana”. Segundo um dos membros do Comitê do Instituto Nobel norueguês, o prêmio pode ser visto como uma crítica à política que a atual administração norte-americana adotou em relação ao Iraque.


Comentários de membros do Comitê do Prêmio, afirmando que a premiação de Carter era um chute na perna de Bush, gerou alguns conflitos diplomáticos. O Comitê Central do prêmio apressou-se a contornar a situação diplomaticamente dizendo que era “uma afirmação personalista de um membro do comitê e não um comentário oficial do comitê”. Todo mundo entendeu muito bem.


Os valores do Prêmio
A Fundação Nobel é uma instituição privada, criada em 1900 por desejo de Alfred Nobel, e está sediada em Estocolmo. De acordo com testamento assinado por ele no dia 27 de novembro de 1895, um ano antes de sua morte, a maioria de suas propriedades, 31 milhões de coroas suecas (SEK) – hoje cerca de SEK1 bilhão e 500 milhões – deveriam ser convertidos em um fundo e investidos com total segurança. Este re-investimento vem sendo feito com sucesso em indústrias e negócios variados. Nos últimos dez anos, os recursos do Prêmio Nobel aumentaram muito. Para se ter uma idéia, o primeiro prêmio, dado em 1901, foi de SEK150.800 mil coroas. O prêmio atingiu sua maior baixa em 1923, com o valor de SEK 115.000 mil coroas. Desde essa época vem crescendo. No ano passado, o valor do prêmio foi de SEK10 milhões, o que equivale a US$ 1 milhão de dólares. Esse é o mesmo valor deste ano. Quando há mais de um vencedor numa mesma categoria, o prêmio é rateado. Além da quantia em dinheiro, o vencedor ganha um diploma pessoal e uma medalha. O Prêmio Nobel da Paz é entregue pelo rei da Noruega, na prefeitura de Oslo, e as outras cinco premiações são entregues pelo rei da Suécia, em Estocolmo.


Candidatos ao Nobel
Anualmente, o Instituto Nobel da Paz recebe centenas indicações para o prêmio. Como uma rede de pesca onde vem de tudo, as indicações são as mais diversas. Desde fundador de seitas religiosas a jogadores de futebol; de pessoas e ONGs que dedicam suas vidas a causas nobres, a políticos de todos os tipos; de Chefes de Estado a artistas. As candidaturas ao prêmio Nobel da Paz não param de chegar a Oslo até mesmo às vésperas do prazo final para sua apresentação, tradicionalmente 1º de fevereiro. E as candidaturas chegam das mais diversas formas: pelo correio, pela internet, por comissões especiais que visitam o Instituto Nobel e até por fax.


Ponto de Vista


Nobel: o homem e o prêmio


Ministro Cézar Amaral (*)
Alfred Bernhard Nobel foi um homem além de seu tempo. Seu nome se confunde com a Suécia e quanto mais tempo passa Alfred Nobel é ligado ao saber. Nasceu em Estocolmo, em 21 de outubro de 1833. Apesar de mundialmente conhecido pelo prêmio que leva seu sobrenome, e ainda por ter inventado a dinamite, cumpre destacar ter sido renomado cientista e um grande empresário. A maior parte de sua formação educacional foi feita por tutores. Estudou engenharia e química, tendo viajado bastante para aperfeiçoar os seus estudos de engenharia, que o levou inclusive aos Estados Unidos, onde estudou por um ano. Após um período em St. Petersburgo, retornou a Suécia onde começou a pesquisar explosivos, especialmente a nitroglicerina. Através das suas pesquisas ele descobriu que, quando a nitroglicerina era incorporada com uma substância absorvente inerte ela poderia ser utilizada com segurança. Em 1867 ele patenteou a sua maior descoberta comercial, a dinamite.


Outra grande conquista de igual importância à invenção de numerosos explosivos, foi o aperfeiçoamento de detonadores que tornaram possível a programação do tempo para a explosão, pois, de outra forma, tais explosivos não poderiam ser utilizados de forma segura. Uma coisa pouca gente sabe: sua imensa fortuna foi construída em grande parte graças à exploração do petróleo na região de Baku, no Mar Cáspio (Rússia). Nobel era um homem solitário, de saúde frágil, não tendo jamais se casado. Tinha uma visão muito pessimista sobre a sociedade contemporânea, apesar de mesclar uma certa benevolência com relação ao futuro. Na sua visão pessimista, ele concluiu que as suas descobertas científicas, em vez de contribuir para o bem da humanidade, poderiam surtir um efeito oposto, com sua utilização para as guerras, e por isto, ao morrer em 1896, deixou toda a sua fortuna para a criação de uma fundação cujo objetivo era premiar aqueles indivíduos que se destacassem na busca da paz mundial, física, química, medicina e literatura, independentemente da sua nacionalidade.


Os prêmios são concedidos anualmente e compreendem uma medalha de ouro e uma quantia em dinheiro. Tais prêmios podem ser concedidos individualmente ou em grupos de até três pessoas. Qualquer prêmio pode ficar sem ter um agraciado por um ano ou mais e, neste caso, o montante é revertido ao fundo. Apenas o valor do prêmio não se acumula. Ficou estabelecido pelo próprio Nobel que quem seria responsável pela indicação dos premiados seriam as seguintes agências suecas: a Real Academia de Ciências de Estocolmo elegeria os contemplados em Física e Química; a Academia Sueca de Literatura e as Academias da França e Espanha, Literatura; o Instituto Karolinska de Medicina de Estocolmo, Medicina, e apenas o prêmio da Paz por um comitê de cinco pessoas eleitas pelo Parlamento norueguês. Com exceção do Prêmio Nobel da Paz que é entregue na Noruega, os demais são entregues na Suécia.
(*) Ministro Cezar Amaral é diplomata e serviu na Embaixada do Brasil na Suécia, por três anos, como ministro-conselheiro.