Chapada dos Veadeiros investe em agroflorestas

17 de fevereiro de 2004

Com reflorestamento e práticas sustentáveis, Cerrado pode adquirir sua produtividade original


 





Arquivo Instituto Lua



Acima, o Cerrado, que, segundo Ernst, já foi fértil como a floresta amazônica. Abaixo, o Centro de Transferência de Tecnologias Sustentáveis, onde já funcionam horta, pomar, sistema de compostagem e outras unidades


Arquivo OCA


Trabalhando há 25 anos com recuperação de áreas degradadas, Ernst aposta que o cerrado quer voltar a ser floresta e pode se tornar muito mais produtivo do que é agora. Segundo ele, basta plantar. E nessa assertiva repousa a principal recomendação aos seus clientes: é dando que se recebe, pois então é preciso dar à terra muito mais cobertura vegetal do que ela tem agora.


“A gente é que cria o deserto, a natureza cria a floresta. A terra que a gente esquenta perde a vida, na terra que permanece fria debaixo da mata a vida continua”.


Reflorestando a Chapada – Morador da Bahia, Ernst passou uma semana visitando terras da Chapada dos Veadeiros, a convite de duas ONGs locais: Instituto Lua de Desenvolvimento Sustentável e Oca Brasil Preservação e Ecologia.


Essas ONGs estão buscando recuperar e desenvolver terras degradadas com a criação de agroflorestas. Seguindo os conselhos dos permacultores, elas procuram integrar os diversos sistemas produtivos valorizando os recursos locais e a interação entre práticas tradicionais e tecnologias inovadoras sustentáveis. 


O interesse dos produtores locais pela agroecologia e a permacultura fez com que se formasse em Alto Paraíso um Centro de Transferência de Tecnologias Sustentáveis. Algumas instituições se juntaram para viabilizar esse programa pioneiro: Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Universidade de Brasília (UnB) , Embrapa e Prefeitura Municipal de Alto Paraíso.


O Centro de Transferência de Tecnologias Sustentáveis fica numa área de 4 hectares, ao lado da antiga horta comunitária. Já existem no local horta, pomar, construções rústicas feitas com recursos locais, biodigestor e sistema de compostagem. A área escolhida é um desafio: muito degradada, fica no centro da cidade. 


Ali se procura criar uma relação sustentável com o ambiente, de maneira que os resultados posssam servir como efeito demonstrativo para os produtores locais. Estão sendo desenvolvidas técnicas e práticas sustentáveis de manejo do solo e aproveitamento dos recursos.


No projeto está prevista a implantação de outras 12 áreas demonstrativas na zona rural.






Arquivo OCA



O suíço Ernst Gotsch, em trabalho de consultoria com produtores locais, dá a sua receita de produtividade: diversidade, densidade e trato


Seguindo o TAO – O namoro da Chapada dos Veadeiros com a agroecologia não surpreende o suíco Ernst Gotsch. Segundo ele, o Brasil é o país que mais está se afinando com a proposta de reflorestar intensivamente, talvez porque tenha uma alma mais feminina: “as mulheres são mais capazes de conceber um sistema de co-criação com a natureza, porque estão mais abertas para se doarem do que para explorarem “.


Engano pensar que a terra é ruim, que a terra não dá. Plantando, dá. Plantando e reflorestando é que se devolve à terra sua riqueza original, insiste o consultor, que lança um desafio aos seus clientes: para se ter uma área realmente produtiva, é preciso plantar até 12 árvores por metro quadrado, crescendo juntas e se desenvolvendo em extratos e dimensões diferentes. Sem medo da competição, porque a natureza abriga mais espécies companheiras do que o homem pode imaginar.


O exemplo vem de casa. Ernst conta sua experiência na Bahia, onde possui uma fazenda e uma empresa de agrosilvicultura: com muito plantio foi possível reverter o microclima da região onde mora e trazer mais chuva. Os córregos secos voltaram a correr, a erosão acabou.


Diversidade, densidade e trato é a receita básica de Ernst: “O segredo, na verdade, é não fazer. Tudo está sendo feito pela própria natureza, a gente só tem que observar e assumir uma parceria com ela, entrando num sistema de co-criação. Tudo o que precisamos fazer é descobrir nossa função junto àquele ecossistema para que ele possa se desenvolver melhor. É seguir o princípio do Tao, o fluxo da própria natureza.”


Mais informações:
Instituo Lua: (61) 646-1484
Associação dos Condutores de Visitantes: (61) 646-1690
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