Como acabar com um rio

26 de fevereiro de 2004

Para quem quiser viver sem água, a receita está aqui





Em 1998, as 125 companhias municipais, as 27 estaduais e as 3 microrregionais tiveram uma receita líquida de R$ 10 bilhões. Não fora o desperdício o lucro seria de R$ 14 bilhões








É triste ver um rio assim. Mas é uma
 realidade brasileira


 


 


 


A aparência selvagem da natureza dá a impressão do meio ambiente ser resistente a todo tipo de investida humana. Pelo contrário. Infelizmente é fácil derrubar uma árvore que levou 200 anos para crescer; é fácil exterminar um animal raro; é fácil transformar num deserto uma mata hoje verdejante; é fácil poluir, acabar com uma nascente ou com um rio. Enfim, a natureza é frágil. Mas é uma fragilidade, uma delicadeza, oculta.


A tradição e a cultura (cinema e literatura, principalmente) apresentam habitualmente a “natureza selvagem” – um ecossistema cruel, perigoso, violento, onde habitam seres que atacam o ser humano. Basta ver: todo filme nas selvas ou no deserto tem uma cobra que ataca o mocinho ou a mocinha, como se carne humana regada a hambúrguer e coca-cola fizesse parte do cardápio desses seres. Esta cultura do medo ao estranho, ao diferente, ao exótico, diz que a natureza ataca porque é parte dela, dos seus seres, atacarem a tudo e a todos. Junte-se a isto o pensamento judaico-cristão de que o homem é filho de Deus e, portanto, superior a tudo. A natureza, devidamente satanizada, porque é nela que moram os demônios, deve ser dominada pelo homem e, se for o caso, eliminada.


Ao longo da história, a ocupação humana dos espaços da natureza tem sido feita sob esta perspectiva de domínio e eliminação do selvagem, do perigoso, do danoso. “Selvagem”, é adjetivo, qualificando o que é cruel, perigoso, violento. 


Isto explica porque demorou tanto tempo para a humanidade perceber a importância de se preservar o meio ambiente. 


Nem todos, porém, ainda chegaram lá. Ainda ocorre uma série de práticas que agridem, em especial, a principal fonte da vida, a água. 


A seguir – para que ninguém faça nem permita que outros façam! – como acabar com rios e lagos. 


Desmatamento – A devastação de áreas de matas e campos leva junto nascentes, rios e córregos, além de extinguir a biodiversidade natural, elemento que alimenta a vida. A área limpa impede a concentração de umidade e, conseqüentemente, seca as nascentes. O desmatamento das matas ciliares favorece o assoreamento, o desbarrancamento, acaba com os rios.


Ocupação desordenada do solo – Existem limites no uso dos recursos naturais. A quantidade de água é limitada e requer um planejamento adequado para atender aos usuários. Se o manancial só tem capacidade de atender 10 mil pessoas, como fazer se 50 mil se instalam no local? 


Um outro aspecto da ocupação desordenada é a pressão geográfica que se faz sobre os mananciais. É muito difícil proteger um manancial se há uma população urbana grudada nele. Normalmente a fonte fica poluída. E vai ser preciso gastar mais dinheiro para dar potabilidade a esta água. 


Atividades extrativas – Retirada de terra, areia, pedras, representam um risco para os rios e córregos. O revolvimento do solo provoca desbarrancamento, poluição das águas, assoreamento. Tudo isso acaba com o rio.


Deposição de lixo e entulho – O lixo urbano ou industrial contamina, suja, polui, torna as águas imprestáveis para o consumo humano e animal. Por falta de tratamento do lixo e dos esgotos, muitos rios brasileiros estão mortos. Muitas cidades brasileiras, pequenas ou metrópoles, adotam ainda hoje esse hábito medieval, grosseiro, de lançar o lixo no rio ou em suas margens. O lixo contamina as águas superficiais e também o lençol freático. 


Queimadas – É também uma forma de destruir as matas e, conseqüentemente, os rios, córregos e nascentes.


Escoamento inadequado das águas da chuva – Se não forem adequadamente conduzidas as águas pluviais provocam erosões e, daí, assoreamento dos rios e córregos.


Práticas agrícolas inadequadas – Existem modos de produção agrícola que garantem a sustentabilidade do meio. Infelizmente muitos agricultores ainda apelam para modelos extremamente agressivos ao meio ambiente e, deste modo, destróem a riqueza que eles mesmos são os primeiros a usufruírem. Entre as práticas inadequadas estão o abuso no uso da água, plantio sem obedecer as curvas de nível, desmatamentos,…


Uso de agrotóxicos – O uso de pesticidas é sempre uma agressão ao meio ambiente e, em especial, às águas. Muitos venenos agrícolas são tão poderosos que basta algumas gramas para poluir um manancial. São muitos os casos de cisternas, lagos, nascentes, córregos, rios, tornados inadequados ao uso humano ou animal devido a contaminação por agrotóxicos.


Construção de estradas – No campo, as estradas devem ter bacias de contenção; não se deve permitir o plantio de culturas de ciclo curto em suas margens (soja e milho) e deve se obedecer a curvas de nível. Uma estrada no campo mal feita se torna o leito de um rio que vai desaguar numa erosão.