Mata de Galeria: as águas de hoje e do futuro
26 de fevereiro de 2004Embrapa desenvolve trabalho para recuperação e manutenção das Matas de Galeria
No mundo inteiro o quadro é de escassez e mau uso da água.
Você sabia que somente 1% da água do mundo é potável? Que cerca de 50% da água que vai para as grandes cidades é desperdiçada? Dados do Instituto Internacional de Manejo da Água, com sede nos Estados Unidos, revelam que a água será o fator mais limitante do progresso neste século. Na região do Distrito Federal e Entorno, há somente 1.700 litros de água por ano por habitante, quando o recomendado são 2.000 litros. Isso significa que, se não forem tomadas providências imediatas, em menos tempo do que se imagina, o abastecimento de água atingirá níveis críticos. Aí é que entra o trabalho do pesquisador da Embrapa-Cerrados, José Felipe Ribeiro. Segundo o pesquisador, as soluções para garantir água em quantidade e qualidade suficientes para as gerações atuais e futuras passam por diversos setores e envolvem vários segmentos sociais, entre eles, a agricultura e os produtores rurais. Foi justamente essa constatação que levou a Embrapa Cerrados, em parceria com outras instituições ligadas à questão agropecuária e ao meio ambiente, a desenvolver um trabalho para manutenção e recuperação das Matas de Galeria, junto a comunidades do DF e Entorno.
Mas por que a opção pelas Matas de Galeria? O próprio pesquisador José Felipe responde: – Tanto as Matas de Galeria, aquelas que cobrem os rios, como as Matas Ciliares, aquelas que margeiam os grandes rios, caracterizam-se por sua associação aos cursos de água. Apesar de ocuparem pequena parcela da área do Cerrado, destacam-se pela sua riqueza de espécies, diversidade genética e proteção dos recursos hídricos, solos, fauna silvestre e aquática. Mas o que acontece hoje? Destruição. Embora protegidas por legislação federal e estadual, as Matas de Galeria vêm sendo progressivamente alteradas, chegando mesmo a ser destruídas. E qual a importância das Matas de Galeria? José Felipe Ribeiro explica: – Primeiro, como um filtro, elas regulam os processos de troca entre os sistemas terrestre e aquático; e, segundo, a presença das Matas de Galeria reduz significativamente a possibilidade de contaminação dos cursos de água por sedimentos, resíduos de adubos, defensivos agrícolas, conduzidos pelo escoamento superficial da água no terreno.
O Trabalho E como foi esse trabalho da Embrapa? Simples. Segundo o pesquisador Ribeiro, o trabalho envolveu três momentos. O primeiro foi dedicado a estudos de conhecimentos básicos das Matas de Galeria, onde foram identificados os tipos de solo em que ocorrem, as espécies animais, flora e microorganismos presentes e como as populações humanas que aí vivem se utilizam desses recursos naturais. No segundo, foram selecionadas as espécies vegetais mais favoráveis, do ponto de vista biológico, para implantação de projetos de recuperação. O último momento tratou da recuperação e manutenção das Matas de Galeria, com a participação efetiva da comunidade local no replantio. "Os resultados foram animadores", garante José Felipe Ribeiro. "Em dois anos, mais de três mil pessoas, entre produtores rurais, professores e alunos das comunidades de Brazlândia, Núcleo Rural de Tabatinga e Buriti Vermelho, localizadas no DF e Entorno, receberam treinamento sobre coleta de sementes, produção de mudas e plantios de recuperação. Além disso, foram plantados mais de 42 hectares de Mata de Galeria, o que equivale a 15km de margens de rios". E conclui o pesquisador da Embrapa: "Agora a população desses locais está consciente de que manter e recuperar as Matas de Galeria é o segredo para continuar tendo água boa e suficiente para plantar, beber e garantir sua sobrevivência, hoje e no futuro". |