ANA de quê?

12 de fevereiro de 2004

Sem água, não há futuro

 

O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA) divulgou relatório de análise da crise de energia. Dentre suas propostas, destacam-se que o licenciamento ambiental para as usinas térmicas e hidrelétricas seja agilizado e que o Operador Nacional de Sistemas adote sinais de alerta com base no nível alcançado pelos reservatórios no final do ano passado.

Tudo bem, mas e a água? E a recuperação hidroambiental das bacias e a redução da superexploração dos reservatórios? E a questão integrada dos recursos hídricos?

Pelo que sei, energia elétrica é da competência da Aneel e água, da ANA. Certo? O relatório indicava que a ANA é sucessora do Dnaee, que cuidava mais de energia elétrica do que de água. Estamos de volta ao passado.

Vou continuar a afirmar que os reservatórios ficaram vazios em razão de sua superexploração e porque nosso gerenciamento de bacias hidrográficas é irresponsável.

A crise de energia é conseqüência, enquanto a escassez de recursos hídricos é a causa.

Nem vou discutir que o desmatamento generalizado, a destruição da mata ciliar e cobertura facilitou o assoreamento dos rios e reservatórios, além de modificar o microclima, reduzindo a média pluviométrica. Afinal, árvore não dá Ibope, não vota nem permite inauguração e comício.

Vamos falar de superexloração. No caso do lago de Furnas, além de hidrelétrica, temos 34 cidades que exploram as suas águas para quase um milhão de habitantes, além da descontrolada exploração para irrigação e pecuária.

Por outro lado, adivinhem para onde corre todo esgoto não tratado e resíduo agroquímico da região?

É fácil entender porque a água sumiu. E vai continuar sumindo, pois não podemos nos enganar com as muitas chuvas deste verão.

Com a represa de Sobradinho não será diferente, exceto pelo fato que o São Francisco já é um rio moribundo.

O que surpreende, é a Agência Nacional de Águas tratar de investimentos em geração e propor agilidade nos licenciamentos ambientais das novas obras. Quanto à escassez da matéria-prima das hidrelétricas (a água) não teve nada a dizer.

Em tempo de comemorações pelo Dia Mundial da Água, está na hora de parar de falar de energia e começar a cuidar da recuperação de nossos recursos hídricos. A sociedade espera que os responsáveis técnicos e políticos assumam compromissos com programas de recuperação hidroambiental de nossas bacias e reservatórios.

O futuro de nossa água depende disto. E sem água não há futuro.

(*) José Henrique Cortez, consultor e ambientalista <[email protected]>