Descaso nas rodovias

Estrada condena animal à extinção

20 de fevereiro de 2004

A extinção vai resultar na quebra da cadeia natural entre os animais existentes na unidade

 







Onça-pintada, que vinha sendo monitorada pelo 
projeto, recentemente atropelada na rodovia


As onças-pintadas podem desaparecer do Parque Estadual do Morro do Diabo num prazo de cinco anos, caso seja mantida a média anual de 03 mortes provocadas pelos atropelamentos na SP 613 (Rodovia Arlindo Bétio) que divide ao meio este último grande remanescente da Mata Atlântica do Interior do Estado de São Paulo. 


A extinção vai resultar na quebra da cadeia natural entre os animais existentes na unidade. A primeira consequência será o crescimento desordenado dos animais que são caçados pelas onças como alimentos. Sem a Panthera onca (nome científico), as presas que servem de alimento para ela – capivara, paca e tatu, entre outras – terão condições de se reproduzirem com mais facilidade, ocasionando um aumento desordenado de sua população. 


O risco de extinção da onça-pintada no Parque Estadual do Morro do Diabo foi diagnosticado recentemente. Cálculos dos pesquisadores revelaram, em fevereiro de 2001, que a dimensão da reserva tem um potencial para abrigar 40 onças-pintadas. Mas agora, estimam, a população da espécie não chega a 10 indivíduos, o que é uma quantia otimista até demais’.


22 onças atropeladas


Os levantamentos indicam que de 1994 até o ano passado, 22 onças-pintadas foram atropeladas na rodovia. Nesse número estão descartadas as mortes naturais e também ficam de fora os felinos que são mortos mas não encontrados. O Projeto “Detetives Ecológicos” – pioneiro no estudo de carnívoros nesta unidade de conservação e apontado como uma referência internacional para os estudos de ecologia de mamíferos – , revela números ainda mais preocupantes, que levam realmente à possibilidade de extinção da espécie no Parque. 


Desde a sua implantação, em 1997, foram monitorados 20 animais, entre onças-pintadas, onças pardas e jaguatiricas. Do total, 6 são onças-pintadas e 4 delas (65%) foram mortas. Na opinião de Laury Cullen, a população da Panthera onca está se aproximando de um número crítico, do qual pode não haver retorno, por causa do empobrecimento genético. ”Os predadores de topo de cadeia atuam como fator de controle sobre tudo que vem abaixo deles. É como se fosse um filtro, que força todas as espécies a melhorarem geneticamente. A perda da onça-pintada é irreparável”, afirma o pesquisador.


A solução rápida e emergencial para eliminar o perigo de extinção, como apela o pesquisador, é resolver o problema da alta velocidade nessa rodovia e, mais especificamente, a urgente implantação de redutores de velocidade, alambrados e túneis nos pontos mais críticos de passagem desses animais. Com a ajuda e participação ativa da Promotoria local e regional, o DNER está sendo acionado e deverá implantar um programa preventivo para acabar com a matança de onças nesta rodovia. ”Tem que levar o assunto a sério, para pelo menos segurar essa tendência drástica”.