Pesquisa revoluciona estudos da Pré-História da Amazônia

18 de fevereiro de 2004

Escavações em grutas na região de Carajás revelam novo padrão de ocupação humana na região

    O pesquisador garante que “a antiguidade das primeiras ocupações humanas de Carajás remonta há mais de sete milênios antes da chegada dos europeus, e é bastante plausível que tenha havido uma certa continuidade no intercâmbio sócio-cultural entre as terras altas e as terras baixas da região, até um tempo bem posterior”. E observa que “as sociedades humanas de Carajás exploraram com igual importância, mas diferentemente, tanto as terras altas quanto as terras baixas. Isto confirma, de certo modo, que a manipulação dos diversos ambientes amazônicos pela atividade humana seria bastante antiga e intensa”.







 Acima: Gruta do Pequiá confirma datação milenar sobre presença humana na Serra de Carajás (o pesquisador Magalhães, com fita na cabeça). Abaixo: Gruta do Rato revela novos dados sobre povos primitivos em Carajás.


Magalhães argumenta que “a ação ancestral do homem junto à paisagem amazônica, portanto, é muito antiga. Tudo indica que a floresta tropical, mesmo há milhares de anos, nunca foi um fator restritivo para o progresso dos homens que viveram nela. Sendo assim, a constituição da geopolítica indígena ter-se-ia iniciado a partir de culturas cuja organização social e atividades práticas antecederam as sociedades tribais horticultoras”.


O pesquisador diz que “as escavações nas Grutas do Pequiá, do Rato e do Gavião (ver fotos) em Carajás, revelaram uma série de relações intercontextuais típicas, como o uso organizado do espaço, a exploração diferenciada de recursos naturais (floresta e savana), a manipulação dos mesmos e de domínio tecnológico (produção de cerâmica). São estas relações que fundamentam um claro padrão arqueológico para Carajás. Os traços típicos deste padrão, por sua vez, constituem os fundamentos de longa duração que estão nas bases de formação da Cultura Neotropical na região: a exploração simultânea e não especializada de recursos biodiversificados, inclusive com cultivo associado, sendo a cerâmica um marco da longa passagem do uso “casual” para o uso controlado deles”.


Os vestígios coletados na Serra que abriga a maior província mineral do mundo e área do Projeto de Mineração da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), provém de 18 anos de investigação científica em sítios arqueológicos, grutas, ambientes aquáticos e áreas de várzea onde viveram primitivos habitantes da Amazônia.


Magalhães faz “uma colocação crítica das interpretações em voga sobre a evolução, a relação homem / natureza, o nível da complexidade sociocultural e, em especial, sobre as relações políticas atribuídas às sociedades indígenas amazônicas. Tenta mostrar a possibilidade concreta de se construir um modelo sócio-político, vinculado ao modo de vida humano desenvolvido na floresta tropical amazônica”.


Na Amazônia, segundo ele, os processos formadores da nossa história não têm início apenas quando da expansão européia mas iniciaram-se há milhares de anos. E enfatiza que “todas as grandes redes culturais conhecidas parecem ter surgido nos últimos dez mil anos de história, o que é significativo sob vários aspectos”.
O estudo arqueológico em Carajás propiciou a formulação de nova teoria sobre a Gênese da Ocupação Humana na Amazônia, que deve revolucionar a área acadêmica. A descoberta científica do arqueólogo contesta teorias já formuladas pelas pesquisadoras Betty J. Meggers (década de 50) e Anna Roosevelt (década de 80) sobre a pré-história da Amazônia.


As origens desta complexidade social nas culturas amazônicas estão na tese de doutorado defendida, em 1999, por Marcos Magalhães, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulada “A Phýsis da Origem”, que inclusive, recebeu apoio do CNPq para publicá-la.