Bioterrorismo é nova arma contra a humanidade

17 de fevereiro de 2004

Na globalização, o terrorismo pode afetar todos os países e o Brasil já sente os efeitos da guerra bacteriológica

No Brasil – Em Brasília, o presidente da Fundação Nacional de Saúde, órgão executivo do Ministério da Saúde, Mauro Ricardo Machado Costa, informou que o Brasil está preparado para intervir em possíveis casos de contaminação por antraz, ou carbúnculo, como a doença também é conhecida. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o antraz é uma das principais armas biológicas utilizadas em ações terroristas.


“O Ministério da Saúde está atento e preparado para agir rapidamente se houver necessidade”, disse Costa. A declaração foi em consequência do pó branco encontrado dia 14 de outubro em um Airbus 340 da empresa alemã Lufthansa, que fez escala no Rio de Janeiro com 340 passageiros e 15 tripulantes. O material foi recolhido e analisado em um laboratório da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). As pessoas que tiveram contado direto com o pó receberam medicação preventiva com antibióticos, pois existia a possibilidade de se tratar de uma ação de bioterrorismo, hipótese praticamente descartada na segunda-feira, dia 15. Neste mesmo dia, no entanto, o consulado dos Estados Unidos e o escritório da empresa norte-americana Shell, ambos no Rio de Janeiro, receberam cartas com um pó branco suspeito, que está sendo analisado em laboratório. 


Evidente que além da suspeita do bioterrorismo, há que se destacar o mau gosto dos trotes, sempre em evidência nestas ocasiões.


Emergência – No ano passado, a FUNASA criou o Núcleo de Respostas Rápidas em Emergências Epidemiológicas (Nurep), que pode mobilizar recursos materiais e humanos em qualquer situação inesperada que ofereça perigo à saúde pública, de modo a identificar surtos e tratar as pessoas eventualmente afetadas. O Núcleo tem um cadastro de servidores e especialistas, de todo país, que podem ser localizados a qualquer momento em caso de necessidade. Quem quiser mais informações é só abrir o site www.funasa.gov.br.


Um acordo como o Centro de Controle de Doenças (Center for Desease Control, CDC), em Atlanta, Estados Unidos, órgão do governo norte-americano para o controle de doenças e atuação em emergências epidemiológicas, também dá suporte ao Nurep. O CDC está formando 21 especialistas brasileiros em investigação e contenção de surtos, capacitados no Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada ao Sistema Único de Saúde (EPI-SUS).






A carta da má notícia
Em todo o mundo, crescem suspeitas de contaminação por antraz enviado em correspondências


O governo dos Estados Unidos admitiu que o envio de correspondências contaminadas com esporos de antraz é resultado de ação terrorista. O ministro de Justiça norte-americano, John Ashcroft, no entanto, não afirmou se o bioterroismo teria sido praticado por Bin Laden. Na segunda semana de outubro, os casos de pessoas contaminadas com antraz nos Estados unidos passaram de três para doze, com uma morte. Antes do atual surto, somente 18 casos haviam sido identificados naquele país em todo o século 20.


A primeira ação de bioterrorismo com antraz aconteceu em uma editora na Flórida, uma semana após a queda das torres gêmeas. Logo depois, um envelope, possivelmente contaminado, seria enviado à jornalista Judith Miller, do jornal New York Times, especializada em jornalismo científico e autora do livro “Germs”. No estado de Nevada, a empresa de informática Microsoft também recebeu envelopes suspeitos. O Congresso norte-americano recebeu um envelope comprovadamente contaminado.


Fora dos Estados Unidos, vários países experimentam o medo provocado por um possível atentado bioterrorista. Na Inglaterra, a catedral de Canterbury, precisou ser evacuada, dia 14 de outubro, depois que um homem jogou um pó branco em um dos oratórios. A catedral foi isolada e o material recolhido para análise.


México, Argentina, Bolívia, Uruguai e Austrália também receberam envelopes suspeitos. Até o dia 15 de outubro, o México havia recebido 19 envelopes, a Argentina 30, o Uruguai uma, a Bolívia uma e a Austrália mais de 60.


Perigo do Antraz – O antraz é uma doença infecciosa aguda causada pelo Bacillus anthracis, uma bactéria. Geralmente ocorre em animais (gado, ovelhas, cabras camelos e outros herbívoros) mas, em algumas situações, também pode infectar o homem.


No Brasil não existe registro de casos da doença em humanos. A doença não é transmissível de pessoa a pessoa, embora seja letal em cerca de 90% dos casos. A população brasileira não está em situação de risco, por isso não é recomendada a vacinação para o público em geral. A profilaxia com antibióticos é suficiente e só é utilizada em situações específicas, quando a pessoa é exposta a situação de risco. A rede pública de saúde dispõe de um estoque de antibióticos suficientes para tratar 7.500 pessoas, simultaneamente, numa situação eventual de risco.


Guerra muito cara – A médica epidemiologista Denise Garrett, consultora do CDC na FUNASA, explica que não há necessidade da população ser vacinada contra o antraz, já que medidas profiláticas são suficientes. De acordo com Garrett, os Estados Unidos estão desenvolvendo uma versão mais eficiente da vacina, que atualmente é aplicada em militares expostos a situações de risco. A vacina é aplicada em seis doses e é necessário um reforço um ano após a última aplicação.


O pesquisador Luiz Hildebrando Pereira da Silva, um dos mais conceituados epidemiologistas brasileiros, acha que o Brasil não deve se preocupar com uma possível guerra bacteriológica, porque os terroristas não teriam capacidade tecnológica para realizar a disseminação em massa do antraz.


Segundo o pesquisador, um estudo do Ministério da Saúde dos Estados Unidos avaliou serem necessários 100 quilogramas de esporos (“semente”) de antraz para dizimar uma população de três milhões de pessoas, resultado mais catastrófico do que o de uma bomba atômica. Para produzir esta crueldade são necessários cerca de US$ 25 bilhões em investimentos com pesquisa.


Ainda de acordo com Pereira da Silva, o país com maior capacidade para isolar o antraz é, provavelmente, o Iraque. Entretanto, ele acredita que os iraquianos só tenham potencial para produzir um quilo de esporos.


Mais informações: (61) 314-6440
www.funasa.com.br
www.ambio.org.br
www.fiocruz.br