Ecoturismo na Caatinga

O belo Vale do Catimbau

10 de fevereiro de 2004

Parque Nacional onde a natureza, a história e o misticismo se encontram

 







Cactos e as escarpas de
arenito colorido, características
marcantes do Vale do Catimbau

 


A porta de entrada do novo parque é Buíque. A cidadezinha de 12.000 habitantes, próxima a Arcoverde, tem na sua história curiosidades interessantes. Foi lá que o escritor Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas, viveu dos dois aos sete anos. Outra figura lendária que ainda hoje vive por lá é o ex-cangaceiro Candeeiro (Manoel Dantas Loyola), sobrevivente da tocaia de Angicos, quando foram mortos Lampião, Maria Bonita e sete seguidores, em 1938. Ele vive na pequena vila de Guanuby, há 18 km de Buíque. Desconfiado e arredio, ele ainda se dispõe a falar de seu tempo de cabra fora da lei, quando o fenômeno do Cangaço aterrorizava quase todos os estados do Nordeste.


O imaginário e a memória dos moradores ainda guardam também as histórias de outro personagem místico daquelas paragens. Trata-se de Meu Rei, figura messiânica e carismática de longas barbas que viveu por aquelas bandas décadas atrás, fundador de uma espécie de comunidade alternativa com tempero nordestino, na fazenda Porto Seguro. “Ele agregou muitas famílias. A fazenda chegou a abrigar algo em torno de 160 pessoas”, observa Farias o filho do homem, que utiliza a sede principal como pousada para turistas.


O misticismo que paira sobre o Catimbau não para por aí. A estátua de Frei Damião, um dos ícones religiosos do nordeste, domina absoluta a praça central de Buíque. Aos sábados os índios Kapinawá dançam o toré em volta do cruzeiro da igreja de São Sebastião. A dança sagrada, presente em todas as tribos de Pernambuco, reflete um singular sincretismo religioso.


Acesso ao Parque
A melhor época para visitas é na estação chuvosa, de dezembro a junho, quando a caatinga está exuberante







Flores na Caatinga, arenito e os sítios arqueológicos fazem do
Vale do Catimbau um importante
pólo para o Ecoturismo.
Os sítios arqueológicos
são os mais significativos
de Pernambuco

O acesso ao parque é fácil. O ponto de partida é a vila Catimbau, a 12 km de Buíque. Guias não faltam. Gente como o incansável José Ramos se aglomera na rua principal dispostos a trilhar qualquer rota. Apesar de recém-criado as estradas são boas e há várias trilhas abertas. A altitude da região que vai de 700 a 1.226 metros de altitude, oferece uma temperatura agradável na maior parte do ano. A melhor época para visitas é na estação chuvosa, de dezembro a junho, quando a caatinga está exuberante. Nesta época, o visitante pode se deleitar com a surpreendente beleza de uma espécie da família das liliáceas (lírio do campo), que brota do chão arenoso e branco, como um daqueles milagres sertanejos descritos por Euclides da Cunha, em Os Sertões. A vegetação local se compõe de espécies como bromélias, cactos e palmeiras (o buriti, ouricuri e babaçu).


Em alguns aspectos, o PN Vale do Catimbau lembra Sete Cidades e Serra da Capivara (PI), tanto pelas inscrições rupestres como pelas formações rochosas que sugerem animais, pessoas e construções, como a Pedra do Elefante (próxima à reserva indígena), Pedra do Cachorro, Pedra da Concha e Serra das Torres.
Uma das atrações mais importantes do lugar são os sítios arqueológicos, considerados os mais significativos de Pernambuco.


Segundo Francisco Araújo, 23 deles já foram catalogados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O maior e mais importante é o sítio Alcobaça, cujo painel tem 60m. Já a pedra da Concha traz um painel de 2,3m por 1,5m e guarda inscrições com figuras humanas, animais e desenhos geométricos em tons ocre. São imagens isoladas que não compõe cenas, com predominância da tradição agreste. Pesquisadores da UFPE acreditam que foram utilizados nas pinturas pigmentos metálicos e não metálicos misturados a pigmentos orgânicos como genipapo e urucum.


Das 200 grutas e cavernas existentes no Vale do Catimbau, pelo menos 28 guardam sepultamentos. Pesquisadores do Laboratório de Arqueologia da UFPE acreditam que os antigos habitantes do local eram grupos caçadores-coletores do Período Holoceno, civilização anterior ao desenvolvimento da agricultura, que não apresentavam domínio da cerâmica e moravam em cavernas.


O Catimbau não interessa apenas aos aficionados em conservacionismo e arqueologia. A região virou atração para os adeptos de esportes radicais na última década, principalmente para quem gosta de rapel e tirolesa, praticados no serrote, com 50 metros de altura, o que equivale a um prédio de 16 andares. Não espere luxos ao conhecer a região. A hospedagem é simples, mas descente. Além da fazenda Porto Seguro, há a pousada das irmãs beneditinas. Também vale a pena dar uma olhada no artesanato indígena vendido na feira municipal aos sábados.


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Catimbau Valley – a National Park where nature, history and mysticism meet


Colorful sandstone scarps, panels with cave paintings inscriptions, native cemeteries, heath altitude formation, springs in middle of the caatinga (dry bushy vegetation) region, grottos and caves which were inhabited six thousand years ago. These are some of the attractions of the new Brazilian national park, the Catimbau Valley, established through a federal decree number 4,340 on August 22nd , 2002 and published in the Official Newsletter four months later.


The Catimbau Valley National Park is the 51st of the country and the first land park in Pernambuco state, since the Fernando de Noronha Marine National Park is in the ocean. Catimbau Valley is located at 295 km from Recife, the state’s capital, in the intermediate region between hinterland and wasteland, surrounded by the cities of Buíque, Tupanatinga and Ibimirim.


The area boarders the Kapinawá federal native reserve, located in the Serra Mina hills, 18 km from Buíque, and established by Funai (National Indian Foundation) in 1983, where about 400 natives live and which was created with resources from the International Fund for the Conservation of Nature. It is one of the eight federal conservation units that preserve the caatinga landscape. This biome of 735 thousand square kilometers is the least protected of its kind in country, adding up to just 2,9 % of the total area. “It is necessary now to solve the land reform issues”, noted forest engineer Francisco Araújo, head of the closest federal conservation unit to the park, the biological reserve of Serra Negra hills, distant 200 km. from Catimbau.


Buíque is the new park’s gateway. It is a small town of 12.000 inhabitants, next to Arcoverde town, having interesting and curious facts in its history. It was there where famous Brazilian writer, Graciliano Ramos, author of Vidas Secas (Dry Lives), lived from the age of 2 up to when he was 7. Another legendary figure who still lives there today is the former-outlaw Candeeiro (Manoel Dantas Loyola), survivor of the Angicos ambush, when Lampião (the most famous Brazilian outlaw), Maria Bonita (Lampião`s mistress) and seven followers were killed, in 1938. Candeeiro lives in the small Guanuby village, found at 18 km from Buíque. Distrustful and unsociable, he is still willing to talk about his gunman period, when this crime wave frightened just about every northeastern state.


The imagination and the memory of the inhabitants still also keep stories of another mythical character from the region. Known as Meu Rei (My King), a messianic and charismatic individual with a long beard who lived in those lands decades ago, founder of some sort of alternative community with northeastern influence, in the Porto Seguro Farm. “He gathered many families. The farm managed to shelter somewhere around 160 people”, mentioned Farias, Meu Rei`s son, who uses the main headquarters as an inn for tourist.


The mysticism that hangs on the air over Catimbau does not stop here. The statue of Frei Damião, one of the most popular northeastern religious icons, stands out absolute in Buíque`s central square. On Saturdays the Kapinawá natives dance the toré around the São Sebastião church Cross. This sacred native dance, found in all the tribes in Pernambuco state, reflects a singular religious syncretism.


In many aspects, the Catimbau Valley National Park reminds of Sete Cidades and Serra da Capivara hills (both in Piauí state), whether for the cave painting registrations as well as for how the rocky formations suggest animal, people and construction shapes, as the Elephant Rock, Dog Rock, Shell Rock and Tower Hills. Some of the a most important attractions of the place are the archaeological sites, considered as the most important of Pernambuco.


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