Príncipe Charles visita projetos ambientais no Tocantins
12 de fevereiro de 2004No Centro de Pesquisa Canguçu são desenvolvidas pesquisas nas áreas científica, social e florestal, com ênfase em seqüestro de carbono
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Também fez parte da agenda oficial de Sua Majestade a inauguração de uma unidade demonstrativa do Projeto Quelônios da Amazônia, que prevê a preservação de tartarugas e tracajás por meio da educação ambiental. A unidade é anexa ao Centro de Pesquisa, localizado no município de Pium (119Km de Palmas), na Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo.
O príncipe passou quatro horas no Tocantins. Depois de aterrissar em Palmas num boeing 767-300 da British Airways, ele seguiu num helicóptero da Marinha do Brasil até a fazenda Ponderosa, no município de Pium, onde assistiu a apresentação do ritual Hetohoky, realizado por índios da tribo Karajá. A previsão era que o herdeiro do trono gastasse entre quatro e cinco minutos de seu tempo com os índios, mas ele acabou ficando 12 minutos, tempo suficiente para assistir a toda a apresentação e receber presentes dos indígenas, que têm no artesanato e na dança os principais pontos de sua cultura.
Conhecido por seus envolvimento pessoal nas questões ambientais, Charles fez questão de conversar com o cacique Coxini Carjá, afirmando que gostaria de conhecer os projetos que envolvem os povos indígenas nas ações de preservação ambiental, verificando a possibilidade de colaborar financeiramente com estes projetos.
Genial! – Ao deixar a fazenda, o príncipe demonstrava contentamento e, sempre sorridente, arriscou num português razoável a expressão "genial" para descrever o rebanho nelore da fazenda onde estava. De lá, o príncipe Charles e a comitiva oficial foram de barco até o Centro de Pesquisa Canguçu, onde recebeu informações detalhadas sobre os projetos desenvolvidos no local.
Mas, a grande expectativa era de que o Príncipe de Gales anunciasse a liberação de mais recursos para aplicação em ações ambientais no estado. Os investimentos já feitos pelo Governo Britânico para o Tocantins beiram os US$ 4 milhões. Charles não deu entrevistas e foi muito discreto em relação a este assunto. Entretanto, membros de sua comitiva garantiram que ele ficou bastante satisfeito com os rumos das pesquisas feitas no Centro Canguçu e com a atenção que o meio ambiente tem recebido do Governo do Estado. Eles asseguraram também que as possibilidades da liberação de novos recursos é real e arriscaram dizer que os valores liberados até então poderão ser triplicados ainda neste ano.
Esta é também a expectativa do presidente do Instituto Ecológica, Divaldo Rezende, dizendo que o centro tem recursos garantidos para mais três anos de pesquisa.
Centro de Canguçu – O Centro de Pesquisa Canguçu ocupa uma área de mil metros quadrados, construído em madeira, sapê e vidro, com alojamento e auditório com capacidade para 25 pessoas. Lá são desenvolvidas, simultaneamene, 15 pesquisas em três áreas:
Científica – pela medição da biomassa e qualidade da atmosfera;
Florestal – com inventário de toda a flora da região e sua capacidade na absorção de gás carbônico;
Social – por meio educação ambiental e estímulo às atividades de desenvolvimento sustentável.
O carro-chefe do Canguçu são as pesquisas sobre o seqüestro de carbono, projeto que poderá apresentar, a médio ou longo prazo, uma solução para o aumento na temperatura da terra – o chamado efeito estufa(1). O presidente do Instituto Ecológica, Divaldo Rezende, explica que o projeto surgiu de uma concorrência internacional, promovida pela AES Barry Foudation, que propunha a realização de pesquisa com meta a conseguir criar meios de absorver os sete milhões de toneladas de carbono produzido pela empresa geradora de gás na Inglaterra.
Além de comprovar a viabilidade de seu projeto, o Instituto Ecológica também apresentou como contrapartida social a educação ambiental, além dos planos de manejo dos parques Estadual do Cantão e Nacional do Araguaia, em parceria com Ibama e Naturatins.
Os avanços nas pesquisas desenvolvidas no Centro são animadoras e o aval do príncipe Charles serão fatores decisivos para transformar Canguçu em Centro de Excelência Internacional.
Temperatura da Terra – Ainda na década de 70, o príncipe Charles advertiu o mundo sobre o uso indiscriminado de produtos que estavam provocando a diminuição da camada de ozônio – que protege a Terra dos raios ultra-violetas e controla a temperatura do planeta. O alerta do príncipe demonstrava sua preocupação com os problemas do superaquecimento.
Como a preocupação com meio ambiente, por parte dos governantes, é um fato recente, o alerta foi recebido com indiferença pelos líderes mundiais, tendo crédito apenas no meio acadêmico, onde as primeiras pesquisas sobre o assunto já tinham iniciado.
O Dióxido de Carbono (CO2) é o principal inimigo da camada de ozônio e do equilíbrio atmosférico. O aumento na temperatura e os seus efeitos no nível do mar e no comportamento dos ventos pode dar um ponto final na raça humana em pouco tempo, caso não haja um trabalho sério de contenção da emissão de CO2 em todos os países do mundo, desenvolvidos ou não.
Antevendo tudo isto, a comunidade científica, ambientalistas, governantes e entidades estão se reunindo no sentido de discutir possíveis soluções para o problema provocado pela emissão acúmulo do gás. Entre as soluções apontadas, uma das mais viáveis é a pesquisa com o seqüestro de carbono(2), consagrada pela Conferência de Kyoto(3), em 1997. Numa explicação simplificada, o seqüestro de carbono pretende capturar o acúmulo e CO2 existente na atmosfera e transformá-lo em oxigênio.
A previsão do presidente do Ecológica, é que o projeto desenvolvido no Tocantins dure 25 anos. Neste tempo, poderá ser realizado monitoramento em áreas antropisadas(4), desenvolvimento de programas de computador para calcular o estoque de carbono nos diferentes ecossistemas e ainda a aplicação de novas tecnologias, com utilização da energia eólica e solar que não são poluentes.
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Segundo dados apresentados no livro Seqüestro de Carbono – Uma Experiência Concreta, de autoria de Divaldo Rezende, os países mais industrializados são responsáveis por 71% da emissão de CO2. Já os países em desenvolvimento – correspondentes a 80% da população mundial – contribuem com 18% da emissão do gás.
Outros projetos ambientais – O governador do Tocantins, Siqueira Campos, esteve ao lado do futuro rei da Inglaterra durante as quatro horas em que permaneceu em solo tocantinense. Além do Centro Canguçu e das pesquisas com o seqüestro de carbono, o príncipe ficou conhecendo um pouco sobre os projetos ambientais do estado e suas áreas de preservação.
Siqueira Campos lembrou que o estado recebe recursos dos oito países mais ricos do mundo que são destinados a projetos sócioambientais, a exemplo do Programa de Gestão Ambiental Integrada (Pgai), que atua no extremo norte do estado, com ações de combate a pobreza e estímulo ao desenvolvimento sustentável. "Isto faz com que o Tocantins tenha um grande número de realizações no campo ambiental, sendo um estado com nível de preservação como poucos no País", reforçou o governador.
GLOSSÁRIO |
1. Efeito estufa – A Terra tem uma camada de gases que a envolve. Como um vidro ou um escudo, essa camada protege a Terra e impede que o calor terrestre volte ao espaço, aquecendo o nosso planeta. Esse fenômeno é que propiciou a vida na Terra. Bem, segundo os cientistas, o acúmulo de dióxido de carbono e outros gases poluentes está causando o efeito estufa, ou seja, além de bloquear o calor do sol, a luz solar atinge a atmosfera da Terra na forma de radiação de ondas curtas e raios ultravioletas. Os gases poluentes reagem quimicamente destruindo as moléculas de ozônio que se acumulam na estratosfera, danificando o escudo protetor. 2. Seqüestro de carbono – pretende capturar o acúmulo e CO2 existente na atmosfera e transformá-lo em oxigênio. Segundo dados apresentados no livro Seqüestro de Carbono – Uma Experiência Concreta, de autoria de Divaldo Rezende, os países mais industrializados são responsáveis por 71% da emissão de CO2. Já os países em desenvolvimento – correspondentes a 80% da população mundial – contribuem com 18% da emissão do gás. 3. Protocolo de Kyoto – Refere-se à Conferência de Kyoto, realizada em dezembro de 1997, quando foi assinado um protocolo de mudança climática, que definiu compromissos de redução de gases poluentes dos países desenvolvidos, estabelecendo mecanismos flexíveis de cooperação entre os países, para cumprir metas no sentido de diminuir o efeito estufa. 4. Antropisada – Áreas onde são refletidas a ação do homem sobre a natureza, ou seja, tudo quanto estiver relacionado à ação do homem, por ele produzido. De modo prático, costuma-se dar ao meio antrópico o mesmo sentido que meio sócioeconômico. |