Crime Ambiental

Ganância provoca incêndios criminosos na BA

26 de fevereiro de 2004

Mais de 2.200 hectares de área florestal foram destruídos entre os os Parques Nacionais da Chapada Diamantina e do Descobrimento

 


A ação rápida do fogo vai queimando tudo pela frente: 
de árvores centenárias a ninhos de pequenos pássaros

A Bahia, perdeu, com os últimos incêndios, ocorridos no mês de fevereiro, entre os Parques Nacionais da Chapada Diamantina e do Descobrimento, mais de 2200 hectares de área florestal. A falta de educação de preservação ambiental, a ação perversa de grandes proprietários rurais, com empresários ligados a área madeireira, são as principais causas da origem dos focos criminosos de incêndios, espalhados por dezenas de localidades da Bahia. 

A ganância capital de grandes fazendeiros, aliada aos ventos fortes, clima seco e quente, para a perda de cerca de 2.200 hectares de área florestal entre os Parques Nacionais da Chapada Diamantina e do Descobrimento. No Parque do Descobrimento (Prado, Sul da Bahia), foram 1.966,82 hectares degradados, correspondendo a 9,31 por cento da área total da unidade. No Parque Nacional da Chapada Diamantina (Oeste da Bahia, com 1.152 hectares de área total), o fogo consumiu cerca de 250 hectares.

Natureza morta

Bromélias, orquídeas, canelas-de-ema, camdobás, campin-gordura, sempre vivas, xique-xiques, unhas-de-gato, samambaias, entre outras espécies vegetais, assim como lagartos-verdes, codornas, filhotes de águias, cobras, micos e outra espécies animais, foram debelados na Chapada Diamantina pela ação rápida do fogo. No Parque do Descobrimento, criado em abril de 1999, pela Unesco, o fogo atingiu mais a vegetação em estágio pioneiro, em recuperação, queimando espécies como imbaúbas, samambaias, bromeliáceas e um pouco de outras espécies como aparají, inhaíba, roxinhos e louros. As espécies animais atingidas foram, pela lenta capacidade de locomoção cobras, lagartos e espécies em fase de nidificação, com animais ainda nos ninhos.

Incêndios criminosos

No entorno do Parque do Descobrimento, em lugares como Cumuruxatiba, Guarany, Corumbau, Palmares, Primeiro de Abril, Riacho das Ostras, Guaíra e outros assentamentos humanos próximos à área do Parque, foram identificados cerca de 300 fornos de carvoaria trabalhando de forma irregular e criminosa. O Ministro do Meio Ambiente autorizou a derrubada de todos os fornos. Conforme o gerente do Parque, Gabriel Botelho Marchioro, quase todos os fornos já foram, efetivamente, desativados. Segundo informações do escritório local do Ibama, em Itamaraju, uma equipe de técnicos, com três engenheiros florestais especializados, enviados por Brasília, esteve na região para fiscalizar, inspecionar e identificar a origem dos focos de incêndios. Pelas informações do gerente do Parque do Descobrimento, os incêndios foram criminosos. "Entraram e colocaram fogo no Parque", disse Gabriel Botelho. Ainda não se sabe quem. Mas, Botelho reforça que os diversos focos de incêndios estão relacionados às atividades de grandes proprietários rurais que estão derrubando a Mata Atlântica para utilização em carvoaria e outras atividades da área madeireira.

No Parque Nacional da Chapada Diamantina, com 1.152 hectares, criado há 15 anos e ainda sem regulamentação de suas terras, a origem dos focos de incêndios vão desde a intensificação de aspectos naturais, como a falta de chuvas durante mais de dois meses, até o final de fevereiro, às elevadas temperaturas, com mais de 30 graus, em média; mais os ventos fortes e a baixa umidade. A vegetação, seca, e naturalmente propensa à explosão devido às resinas inflamáveis de certas plantas, associada à ação de pequenos garimpeiros e agricultores, que utilizam o fogo nas atividades em campo, proliferaram pequenos focos de incêndios para áreas de difícil acesso das brigadas.

Preocupação

O gerente do Parque Nacional da Chapada Diamantina, José Carneiro Bruzaca, que está há um ano no Ibama de Palmeiras, disse que tinha comemorado, dia 25 de Janeiro, com os quatro funcionários da instituição local, a ausência de qualquer incêndio até então. Os meses mais critícos são os mais quentes: setembro e outubro. Janeiro é o mês dos agricultores plantarem, porque, a partir de fevereiro, começam as chuvas. Dois dias depois da comemoração, os funcionários do Ibama foram pegos de surpresa. Os focos de incêndios eram espalhados pelas diversas áreas do Parque, inclusive, próximo ao Morro do Pai Inácio e da Cachoeira da Fumaça, dois grandes símbolos da Chapada, e de difícil acesso para as brigadas. Nessa área, Bruzaca disse que enfrentou focos de incêndios que duraram até onze dias e, pelas dificuldades de acesso, o estrago com a floresta, densa, foi mais intenso que em outros lugares. 

Entre as Serras de Mucugê, Itaetê, Sobradinho, Sincorá e Cristais; nos Gerais do Vieira, Paty e Rio Preto; no Vale do Capão; na Cachoeira da Fumaça; no Morrão e em Andaraí, entre outras áreas, foram devastados cerca de 250 hectares de vegetação. Com um área total de 1.152 hectares, é difícil a tarefa de renovação natural desta vegetação. A verdade é que os Parques da Chapada Diamantina e do Descobrimento correm perigo.

Mais informações:
Parque Nac. da Chapada Diamantina – Ibama – Palmeiras –
Rua Barão do Rio Branco nª 25, 46.930-970 – Palmeiras – Bahia
 Tel: (75) 332- 2229 – Fax 332-2116
José Carneiro Bruzaca- Gerente 
Parque Nac. do Descobrimento – Ibama – Itamaraju
Av. ACM, nª 26, Itamaraju – CEP – 45.830

Telefax (73) 294-1110
Gabriel B. Marchioro – Gerente