Agricultura e pastagem ainda são fontes de desmatamento na Amazônia
13 de fevereiro de 2004A área destinada à pastagem teve um crescimento aproximado de 60% em 11 anos
O aumento da área plantada e do número de cabeças de gado, entre 1979 e 1999, acompanha um crescimento do desmatamento nas duas últimas décadas. Os dados pesquisados mostram que, em 1979, havia 5,8 milhões de hectares plantados na Amazônia brasileira contra 11,2 milhões, em 1999. O número de cabeças também subiu de 24,4 milhões para 56,6 milhões no período de 20 anos. Estimativas sobre imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) apontam um desmatamento de aproximadamente 400 mil km2 entre 1978 e 1998.
Resultados do estudo de Ferraz revelam que uma redução de 1% no preço aumenta a densidade de cabeças de gado, na média, em 0,31%. Aumento de 1% no preço da terra gera uma diminuição na proporção de áreas plantadas de 0,12%. A influência desses dois mecanismos torna-se perversa na taxa de desmatamento, porque tanto o preço do gado quanto o da terra atingiu os valores mais baixos em 2000 desde a década de 80. Com essas duas quedas, compra-se mais terra e mais cabeças de gado na região.
As outras variáveis significativas para explicar a evolução da área plantada e da pecuária são estradas e crédito agrícola. A extensão de estradas pavimentadas passou de 10 mil km, em 1980, para 30 mil km em 2000, um crescimento de 150%. A abertura de vias não pavimentadas foi maior ainda, atingindo 460% no mesmo período. Segundo o estudo, a expansão de rodovias não-pavimentadas gera um crescimento considerável do número de cabeças de gado, o que pode estar relacionado à adoção da pecuária por pequenos proprietários.
Estimativas sobre imagens de satélite do INPE apontam um desmatamento de aproximadamente 400 mil km2 entre 1978 e 1998 |
A pesquisa ressalta a influência dos incentivos e do crédito do governo amplamente disponibilizado para a agropecuária na Amazônia até 1994, que agravaram os índices de derrubada da floresta. O crédito para as duas atividades se manteve baixos apenas nas épocas de crises econômicas, alcançando o pico em 1989. A partir de 1995, esses volumes de crédito registraram uma grande queda e vêm se mantendo nesses níveis, mas as taxas de desmatamento continuaram altas.
?As áreas desmatadas são usadas para a agricultura. E quando os nutrientes do solo pobre da Amazônia se exaurem, elas são convertidas em pastagens?, alerta Cláudio Ferraz, mostrando que ?a conversão da floresta em pastagem ou área plantada é irreversível? |
O estudo de Cláudio Ferraz revela que um programa de desenvolvimento que tenha como base somente a construção ou melhoria de infra-estrutura – ações previstas no projeto Avança Brasil do Governo Federal – pode gerar um aumento na taxa de desmatamento, sem criar um processo de crescimento econômico sustentável na Amazônia. A falta de preocupação com o meio ambiente compromete o potencial de desenvolvimento da região na exploração de atividades ligadas à biodiversidade, ao ecoturismo e ao seqüestro de gás carbônico.
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Ferraz denomina esses problemas de custos sociais do desmatamento. O pesquisador alerta que a conversão da floresta em pastagem ou área plantada é irreversível. “As áreas desmatadas são usadas para a agricultura, quando os nutrientes do solo pobre da Amazônia se exaurem, elas são convertidas em pastagens”, afirma Cláudio Ferraz – que atualmente faz doutorado na Universidade da California, Berkeley – e o pesquisador Seroa da Motta.
Estatísticas do Ibama mostram o perigo que a exploração predatória pode expor a região em relação à biodiversidade amazônica. Das 228 espécies que corriam risco de extinção em 1997, aproximadamente 90 eram da Amazônia. O ecossistema é único e pesquisas poderão apontar o uso farmacêutico de muitas espécies. A variedade de madeira que tem valor comercial no mercado também corre risco. De 305 espécies discriminadas por especialistas, 45 estavam suscetíveis a forte redução em 1994, causadas pela extração sem plano de manejo.
Estimativas de outro estudo, publicado pelo Ipea em 1997, apontam a emissão de 168 milhões de toneladas de gás carbônico na Amazônia Legal no período de 1970 a 1985. Ferraz calcula que essa quantidade corresponde a aproximadamente 95 toneladas de carbono por hectare desmatado, fato que contribui para agravar a concentração de CO2 na atmosfera, principal causa da mudança do clima. O estudo responsabiliza ainda o desmatamento por aumentar o risco de incêndio na região. O clima úmido da floresta tropical contribui para o controle do fogo, mas as clareiras abertas na mata tornam as queimadas mais suscetíveis.
Mais informações: site do Ipea: www.ipea.gov.br, clicar em Publicações e em seguida em Texto para Discussão nº 828.