Água: muita procura e pouca oferta

12 de fevereiro de 2004

Unesco promove um levantamento sobre a ética do uso da água

 






O livro procura responder a pergunta que os cientistas e pesquisadores ambientais têm feito e até hoje a resposta está em branco: até quando o planeta poderá suportar o ritmo atual de exploração dos recursos de água doce? A água, fonte de vida, é um recurso de valor econômico e uso coletivo, que deve ser gerido de maneira a não provocar conflitos ou desequilíbrios. O desperdício da água e seu uso indisciplinado trazem conseqüências desastrosas e expõem terras frágeis à desertificação. O livro de Selborne promove uma reflexão ética, multidisciplinar e multicultural sobre a questão da água e, de quebra, traz belas citações capazes de inspirar nossa busca por princípios mais elevados, como por exemplo, a citação de Lao Tse: “A água pode agir sem o peixe. Mas o peixe não pode agir sem a água” (Tão-te Ching, XXXIV).


Consumo ético – O autor cita ainda o poema “A Rima do Antigo Marinheiro”, de Coleridge, que resume com grande beleza a natureza vital da água doce, exprimindo a agonia da sede vivida em um navio detido em calmaria, que a abundância da água do mar torna ainda mais insuportável:


“Água, água em toda parte,
E todas as pranchas se contraíram;
Água, água em toda parte,
E nem uma gota para beber”.


Essas e outras citações tornam a leitura bastante agradável e fazem pensar sobre a necessidade e o uso eficiente da água potável. O importante é ter consciência de que todos precisam de água, mas a necessidade não dá direito ao acesso pleno do produto. Existe a ética do consumo. Abuso, desperdício e poluição comprometem seu uso pelas futuras gerações.


Um provérbio indígena norte-americano abre o capítulo “O Consumo da Água”: “A rã não bebe toda a água do tanque onde mora”. Pausa para reflexão. O capítulo destaca a importância da agricultura como o maior consumidor de água doce, sendo responsável por cerca de três quartos do consumo mundial. De acordo com os dados apresentados, se a população aumentar em 65% nos próximos 50 anos, como indicam os índices, cerca de 70% dos habitantes deste planeta enfrentarão deficiências no suprimento de água, e 16% deles não terão água suficiente para produzir sua alimentação básica. O necessário aumento da produção de alimentos terá que ser alcançado pela maior produtividade na terra existente e com água disponível. Assustador, não é mesmo?


Não se lava água suja – O capítulo “A Proteção da Água” começa com um provérbio da África Ocidental que ilustra bem a situação de poluição dos rios e lagos no mundo: “Água suja não pode ser lavada”. Isso quer dizer que quanto mais sujarmos os nossos rios, menos água potável teremos futuramente. A água é como se fosse o sangue do nosso planeta: ela é fundamental para a bioquímica de todos os organismos vivos.


Os ecossistemas da terra são sustentados e interligados pela água, que promove o crescimento da vegetação e oferece um habitat permanente a muitas espécies, inclusive cerca de 8.500 espécies de peixe, sustentando áreas de reprodução ou abrigo temporário para outras, tais como a maior parte das 4.200 espécies de répteis e anfíbios existentes. Esses ecossistemas proporcionam segurança ambiental à humanidade, produzindo alimentos, remédios e produtos de madeira, serviços – como proteção contra inundações e melhoria da qualidade da água – e a biodiversidade. A constante poluição das bacias hidrográficas ameaça todo esse sistema e, conseqüentemente todos os seres humanos.


A limpeza da água através de sistemas de saneamento básico pode reduzir de 20% a 80% a incidência de doenças infecciosas, inibindo a sua geração e interrompendo a sua transmissão. Água limpa significa vida, água contaminada significa doença e morte.


Um relatório recente das Nações Unidas afirma que mais de cinco milhões de pessoas morrem anualmente com doenças causadas pela água de beber contaminada e a falta de saneamento e de água para fins de higiene. Em 1977, 33% de todas as mortes foram devidas a doenças infecciosas e parasitárias.


As diarréias provocaram 2,5 milhões de mortes, a febre tifóide 600 mil, a dengue e a dengue hemorrágica outras 130 mil mortes. A estimativa é de que, em 2025, haverá cinco milhões de mortes entre as crianças com menos de cinco anos de idade, sendo que 87% desses óbitos deverão ocorrer nos países em desenvolvimento, a maioria deles devido a doenças infecciosas provocadas pelo água contaminada.


Mais informações:
A Ética do Uso da Água Doce: um Levantamento”
Autor: Lord Selborne – Edições Unesco Brasil