A gestão empresarial e a questão ambiental
13 de fevereiro de 2004Tempo de Ecoeficiência: o impacto das atividades antrópicas sobre o meio ambiente
A gestão ambiental incorpora modernas práticas de gerenciamento a uma atuação empresarial responsável, baseada nos parâmetros do desenvolvimento sustentável. Sob ponto de vista histórico, são três os principais fatores ou paradigmas a mudarem a gestão empresarial nos últimos 50 anos: o desenvolvimento das tecnologias da informação; a expansão da economia de mercado; e a questão ambiental.
Origens – O primeiro grande marco na melhoria do processo produtivo durante o século XX, foi a introdução da linha de montagem em série, nos Estados Unidos, na década de 1920. Esta inovação revolucionou o parque industrial, propiciando um enorme aumento de produtividade e, consequentemente, o barateamento dos produtos para o consumidor.
Apesar do hiato provocado pela 2ª Grande Guerra, as linhas de produção em série começaram a ser introduzidas na maioria dos segmentos industriais – com maior ou menor sofisticação tecnológica, até a década de 60.
As tecnologias da informação – As tecnologias da informação são o resultados prático de teorias científicas elaboradas ao longo dos anos 20 e 30.
De início, utilizada somente em círculos restritos, a informática passou a ampliar seu campo de aplicação a partir do final da década de 1960. Associada ao processo de produção em série, a incorporação da informática e da automação permitiram à indústria e ao setor de serviços um grande salto tecnológico.
Web.worlwide.www – A etapa mais recente do processo de desenvolvimento das tecnologias de informação foi a criação da rede mundial de computadores, a wolrdwide web (www).
A rede mundial de computadores representa ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade para as empresas. Desafio, em adaptar-se e rapidamente dominar a nova tecnologia. Oportunidade, porque sua utilização agiliza todo o processo de produção e distribuição, representando uma vantagem competitiva para as empresas que saibam utilizá-las mais eficientemente.
Globalização – Neste quadro de rápido desenvolvimento tecnológico, cabe situar o mais importante acontecimento na política mundial dos últimos 50 anos: a derrocada das economias socialistas, levando à expansão da economia de mercado. Convencionou-se chamar este processo de globalização.
Sob o aspecto econômico, a globalização significa a predominância do sistema de livre-mercado em todo o mundo. Para empresas do Brasil e de vários países em todo o mundo, a globalização representou em seus aspectos econômicos:
a) Abertura da economia, tendo como conseqüência uma competição maior pelos mercados, a formação de parcerias estratégicas entre empresas e o desaparecimento daquelas que não se adaptaram à nova situação;
b) Redução do papel do Estado em diversos setores da economia;
c) Privatização de serviços públicos.
A abertura da economia e a retirada do Estado de diversos setores, propiciaram o surgimento de diversas oportunidades de negócios para as empresas privadas, além de aumentar a competição.
A questão ambiental – O efeito das atividades humanas sobre o ambiente aumentou significativamente, a partir do início da Revolução Industrial, no final do século XVIII. Desde este período até os dias atuais, o impacto das atividades industriais, dos grandes aglomerados urbanos e da expansão da agricultura sobre a Biosfera só cresce.
O alarme sobre o impacto das atividades antrópicas sobre o meio ambiente foi dado a partir da década de 60, quando diversas publicações passaram a se ocupar do assunto, passando pela reunião do Clube de Roma (final dos anos 60), pela Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente, em 1972, e o relatório “Nosso Futuro Comum”, elaborado por uma comissão da ONU. Em 1985, reunida no Canadá, as maiores empresas do setor químico instituem a estratégia da “atuação responsável” visando reduzir o impacto ambiental de suas atividades.
O aumento da preocupação com o meio ambiente exerceu um grande impacto sobre as atividades empresariais. A partir de meados da década de 1980, a maioria dos países criou leis ambientais, regulando as atividades econômicas sobre seus impactos no solo, na água e no ar.
O conceito da gestão eco-eficiente visa operar uma empresa reduzindo ao máximo o consumo de matérias-primas, insumos e energias |
Para garantir o cumprimento da legislação, surgiram órgãos ambientais nos diversos níveis governamentais. Paralelamente, houve um aumento exponencial no número de ONGs, atuando de maneira crítica em relação às atividades dos governos e das empresas. Para completar este quadro, acrescente-se o aumento da conscientização, devido ao surgimento da imprensa especializada e pela maior importância dada ao tema por veículos de comunicação de massa.
A maior mudança do posicionamento das empresas, em relação à questão ambiental, ocorreu a partir da promulgação da chamada “Carta de Roterdã”, em 1991, elaborada pela Câmara Internacional do Comércio, um ano antes da Conferência do Rio de Janeiro, a RIO}92.
A “Carta de Roterdã” definiu os “Princípios do Desenvolvimento Sustentável”. Trata-se de 16 princípios que estabelecem a gestão ambiental como uma das mais altas prioridades das empresas. É evidente que a grande maioria das empresas em todo o mundo ainda não incorporou todos os 16 princípios da carta. Mas seu conteúdo serve como base de avaliação das melhorias implantadas até o momento.
Ao mesmo tempo, foram criadas as normas de qualidade ambiental da série ISO 14000. Esta norma foi introduzida no Brasil em 1996.
No decorrer dos últimos anos, o número de empresas certificadas vem aumentando, devendo alcançar cerca de 420 certificações até o final de 2001. Especialistas do setor estimam que cerca de outras 500 empresas estejam em processo de preparação para a certificação. A maioria destas empresas é de grande porte.
A maneira como as empresas das economias ricas encaram a redução da poluição ambiental mudou nos últimos dez anos. Até a década de 1980 o enfoque era dado sobre o tratamento de “final de tubo”, ou seja, deixava-se ocorrer a poluição para então efetuar-se o tratamento do efluente, do resíduo ou da emissão. Esta ainda é a forma de atuação da maioria das empresas brasileiras. O tratamento e a correta destinação dos resíduos representa, todavia, um custo adicional para a empresa. Mais: resíduos descartados são matéria-prima e produtos desperdiçados.
Surge, neste contexto, o conceito da gestão eco-eficiente, que visa operar uma empresa reduzindo ao máximo o consumo de matérias-primas, insumos e energias, otimizando todo o processo produtivo e reduzindo o impacto ambiental.
A eco-eficiência também inclui a utilização de tecnologias menos poluentes ou perigosas (tecnologias limpas) e técnicas operacionais de “prevenção à poluição”. Alguns resultados práticos da gestão eco-eficiente para a empresa, são, por exemplo:
– Redução dos custos de produção;
– Melhoria no planejamento de estoque, da produção e das vendas;
– Redução do número de acidentes de trabalho;
– Redução dos custos de seguro;
– Aprimoramento do sistema de gerenciamento ambiental (SGA);
– Melhor relacionamento com os órgãos de controle ambiental;
– Melhoria da imagem da empresa perante os consumidores e a comunidade circunvizinha à empresa;
– Aumento da cotação das ações da empresa.
Conclusão – São três os principais fatores que estão influenciando a gestão das empresas:
1) As modernas tecnologias de informação e automação, incorporadas pelo menos em suas versões básicas pela maioria dos empresários.
2) A abertura da economia e a livre concorrência, fatores que afetam os empreendedores, principalmente aos que não incorporaram técnicas de gestão mais eficientes aos seus negócios.
3) A gestão ambiental, cada vez mais importante num mercado onde as leis preservacionistas tendem a ser mais rigorosas, os consumidores cada vez mais exigentes e os concorrentes cada vez mais eficientes.
(*)Ricardo Rose é Diretor de Meio Ambiente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha