Turismo verde para desenvolver a Amazônia
13 de fevereiro de 2004Governo já tem estratégia para o futuro sustentado dos nove estados da Amazônia
Como nasceu – A idéia surgiu em 1997, após uma reunião dos governos dos nove estados com os ministérios do Meio Ambiente, Indústria, Comércio e Turismo e Embratur. Da reunião também participaram municípios, empresas privadas que atuam no turismo na região, ONG’s e entidades representativas como associações de pescadores e de guias turísticos. “Estavam todos muito interessados em implantar o ecoturismo na Amazônia, mas não sabiam como”, lembra o coordenador-geral do Proecotur no Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Soavinski. “A partir dali criamos o Grupo Técnico de Coordenação do Ecoturismo na Amazônia (GTC) e passamos a promover a discussão do assunto numa série de oficinas realizadas em cada estado. Não queríamos impor uma solução, mas envolver a comunidade local na sua definição”.
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A alternativa encontrada foi tão bem recebida que o Ministério do Meio Ambiente garantiu o apoio do Banco Mundial (BID) ao projeto, com a aprovação de um financiamento de US$ 200 milhões, a serem liberados num período de três anos. Mas antes de pedir a liberação dos recursos, a unidade de gerenciamento do Proecotur, vinculada à Secretaria de Coordenação da Amazônia do Ministério, teve o cuidado de negociar uma verba à parte – US$ 13,8 milhões – exclusiva para o planejamento do programa. “Como não tínhamos nada planejado nos estados e sequer uma estratégia nacional para a Amazônia, optamos por só pegar o dinheiro depois de definir os impactos ambientais, culturais e de mercado da atividade do ecoturismo na região”, explica Soavinski.
Planejamento – Ele e a equipe perceberam que só a partir do conhecimento deste contexto se poderia iniciar um planejamento estratégico para a região e, ainda, que a liberação da verba para colocá-los em prática seria mais eficiente se os projetos já estivessem prontos. “Caso o financiamento fosse liberado antes dessa fase de pré-investimentos, passaríamos todo o período previsto para sua duração, também de três anos, pagando juros desnecessariamente”, ponderou Soavinski.
A adoção desse critério prático mostrou-se mais do que acertada. De janeiro de 2000, quando foi iniciada a fase de pré-investimento, até agora, a equipe de coordenação do Proecotur – 20 técnicos em Brasília e cinco vinculados aos nove governos estaduais – conseguiu concretizar boa parte dos três componentes em que o programa foi dividido. Como primeiro passo do componente 1, que abrange o planejamento do ecoturismo na região, dividiu-se a Amazônia em Pólos distintos de atração turística (veja Box). “Ao contrário do que todo mundo pensa, a região não tem apenas aquela floresta imensa e os grandes rios que vemos na TV”, dismistifica Soavinski. “Pelo contrário, a Amazônia tem vários atrativos e bem diferenciados entre si. São muitos ecossistemas e paisagens cênicas, diversas culturas e tradições culinárias”.
Made in Amazônia – Segundo o coordenador-geral do programa, o Proecotur se propõe a transformar esses atrativos em um produto ou em vários produtos, que já vão nascer com uma marca muito forte – a made in Amazonia. Porém, para isso, os que oferecem esses produtos precisam estar organizados e aptos a receber os ecoturistas, com informação, treinamento e infra-estrutura adequada. Um dos instrumentos deve vir da licitação internacional que o Ministério do Meio Ambiente está finalizando, em conjunto com o PNUD, para a elaboração de uma estratégia de turismo sustentável para a Amazônia. Ela orientará as estratégias estaduais e municipais de ecoturismo. Também nesse ponto o programa está avançado: todas os estados já contrataram as empresas que vão elaborar essas estratégias.
Cristalino – Outro ponto importante em fase de finalização pela equipe é o planejamento, gestão e criação de áreas protegidas na região. Os técnicos levantaram 16 já existentes e a necessidade de criação de outras quatro. Uma dessas já saiu do papel – o Parque Estadual do Rio Cristalino, no Mato Grosso, uma área de 200 mil hectares de matas e rios ainda intactos.
A Amazônia tem mais do que florestas e rios. Tem cultura e culinária fantásticas  | 
No segundo componente, a equipe priorizou investimentos essenciais para os pólos turísticos da região, como aeroportos, cais, centros de visitante e redes de saneamento. “Para ganhar tempo, já estamos até providenciando o projeto executivo dessas pequenas obras”, revela Soavinski. Como, por exemplo, o terminal de passageiros do aeroporto de Alta Floresta-MT. O aeroporto já existe no local mas, como é usado somente como base de operações do SIVAM, não tem terminal de passageiros, embora haja demanda de turismo na região. O MMA já licitou o projeto e em seguida licitará a obra.
Mais, está lançando o edital para a capacitação e assistência técnica dos governos locais e da iniciativa privada que atua no setor do turismo da região Amazônica. “Isso será providenciado sem custos para os participantes”, adiantou o coordenador-geral.
GLOSSÁRIO  | 
| Amazônia Legal – Região formada pelos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Amazônida – Habitante natural da Amazônia. Desenvolvimento Sustentável – Exploração racional e planejada dos recursos naturais renováveis, que permite seu uso econômico de forma equilibrada, garantindo a preservação. Ecoturismo – Segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. Georeferenciado – Informações sobre determinada região (unidades de conservação, malha viária, atrativos turísticos etc.) em forma de mapas digitalizados. Termo de Referência – Documento no qual a equipe técnica detalha tudo o que deve ser feito num determinado projeto, de que forma e em que período.  | 
Os trabalhos estão tão adiantados que Soavinski estima encerrar a fase de pré-investimentos antes dos três anos previstos. “Somente nesse primeiro ano elaboramos e montamos mais de 70 termos de referência, que irão garantir que os projetos sejam dirigidos e realizados de acordo com o especificado pelos técnicos da equipe de coordenação”, revelou ele. Uma condição em comum permeia todos os termos de referência: que todos os projetos sejam feitos de forma participativa, envolvendo os governos e a comunidade organizada. “É um trabalho que nunca tinha sido feito antes no país”, comemora este paranaense que é oceanógrafo mas se apaixonou pela riqueza natural da Amazônia.
De fato, os termos de referência desceram a detalhes como a exigência de seminários de planejamento estratégico, estudos de mercado nacional e internacional do ecoturismo, diagnóstico da operação turística atual na Amazônia e até mesmo os concorrentes no setor, como a Costa Rica, Equador, Amazônia Peruana e Venezuelana. “Cruzando todos esses dados, sempre organizados de forma georeferenciada, é que podemos chegar a uma estratégia de ação para a nossa Amazônia, além de definir todo tipo de impacto que pode acontecer com a introdução da nova atividade na região – tanto os positivos como os negativos”, detalha. Também é desses dados que deve surgir um sistema de monitoramento do ecoturismo na Amazônia, que indique até mesmo a capacidade de suporte do número de turistas a serem recebidos. O objetivo é estabelecer os limites da atividade, para garantir que o desenvolvimento seja mesmo sustentável.
“Além disso, estamos dando largada à fase de sensibilização da comunidade para o início do projeto de capacitação e assistência técnica”, informa Suavinski. “A idéia é chamar a atenção da população dos locais que têm atrativos turísticos em sua região, orientando sobre como podem se organizar para transformá-los em um produto”. Até abril de 2002 a equipe deve trabalhar três municípios de cada estado com a sensibilização. Depois, serão treinados núcleos de capacitadores que vão reaplicar esse treinamento nos outros municípios, e o trabalho ainda será reforçado com mais seminários locais. “Após a execução de todo o programa, os municípios terão de andar sozinhos. Com as pessoas capacitadas, as instituições fortalecidas e a demanda de turistas garantida e controlada, a preservação da natureza, que é a matéria-prima da região, também é certa”, está convencido o coordenador-geral do programa. “Estamos criando, com o Proecotur, a possibilidade dessa população gerar negócios com a conservação. Aprender que preservar a natureza é um ótimo negócio”.
Pólos turísticos da Amazônia
Como a Amazônia Legal ocupa um território muito grande, os coordenadores do Proecotur decidiram implementar vários pólos turísticos nos nove estados que compõem a região. Cada um definido em relação ao ponto mais forte de atração turística. Conheça alguns desses pólos:
1) Praias Fluviais – Localizadas no rio Tapajós, no município de Alto do Chão, Pará, e também no rio Guaporé, em Rondônia, no município de Costa Marques, na fronteira com a Bolívia. Ambas com florestas e reservas extrativistas.
2) Florestas de Manguezais – Localizadas no litoral do Maranhão, com a presença nativa das aves guarás vermelhas.
3) Região do Amazonas – Localizada no entorno de Manaus, composta por floresta seca (não indundável), cachoeiras, cavernas e sítios arqueológicos, estes na região de Presidente Figueiredo. Também forma esse pólo a mata de várzea ao longo do rio Negro e do Solimões.
4) Mato Grosso – Localizado na região Norte do Estado, com florestas de terra firme, formadas por árvores altas e ricas em espécies de pássaros para observação.

Num passado não muito distante, essa serra sofreu com a derrubada de florestas inteiras para a obtenção de madeira e frequentes queimadas. A caça também foi um problema que colaborou para a extinção de algumas espécies. Hoje não se vêem mais o papagaio Amazonea vinacea, a anta e o lobo-guará. Grande parte das “Terras Altas da Mantiqueira” foi transformada em área de preservação. Da Mata Atlântica original de outrora sobrou pouco mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados de verde, restando apenas 7% em todo o território nacional. Os primeiros europeus que aqui chegaram se encantaram com tamanha biodiversidade e beleza.
Mas antes de partir, vale a pena conhecer quem cultiva umas flores muito interessantes. Cezar, que trabalha no hotel São Gotardo, cultiva num sítio próximo, flores comestíveis. Com a chegada da primavera, o hotel promoveu o festival das flores com um cardápio bastante inusitado: “Salada de frutas e flores capuchinha”, “salada de manga e côco com flores de violeta”, “filé de truta com pinhão e amor perfeito” e “sorvete de rosas”.
Beatriz Fernandes Barros – de São Lourenço 