Nas trilhas do Descobrimento

26 de fevereiro de 2004

Abril é tempo de lembrar e percorrer as terras vistas por Pedro Álvares Cabral


 






Caminhando pelas falésias 
multicoloridas de Barra Cahy


     Há várias maneiras de se curtir a natureza sem destruí-la. Uma das mais procuradas hoje em dia, pela proximidade com o ambiente natural e, principalmente, pela falta de dinheiro, é a caminhada ecológica. Não necessita de grandes habilidades, nem muita experiência. A Costa do Descobrimento, que vai de Prado até Porto Seguro, litoral sul da Bahia, é o lugar ideal para este tipo de trekking.


A caminhada passa pelo ponto onde os portugueses fizeram o primeiro contato com os índios, barra do rio Cahy, Monte Pascoal (primeiro pedaço de terra avistado), Porto Seguro (onde finalmente as caravelas aportaram, por encontrarem ali um lugar mais seguro e protegido dos ventos), e muitos outros lugares inusitados e de rara beleza cênica.


O verão é sempre uma época boa para viajar, principalmente quando se tem o mar como aliado e companheiro durante todo o tempo. O ideal é juntar um grupo pequeno de amigos ou procurar uma agência especializada. Nunca se esqueça de pegar todas as informações necessárias sobre o percurso antes de iniciar a caminhada. 


Uma semana é o suficiente para evitar os horários de pico do sol. Praias tranquilas como a “da Paixão” são bem acolhedoras. Já na “Praia das Amendoeiras” deve-se ter cuidado, ao nadar, com as pedras no fundo. Seguindo em direção a Cumuruxatiba começam as falésias, paredões formados pela erosão do mar. Inicialmente uma vila de pescadores, hoje “Cumurú”, como é chamada, é bem abastecida de pousadas e restaurantes. Bom lugar para pernoite.


Cabral


Suas praias são calmas, quase sem ondas. Em algumas ainda restam vestígios de areia monazítica, que na década de 60 foi bastante explorada e exportada através do píer, hoje abandonado e esquecido. Seguindo em frente, todos os caminhos levam à Barra do Cahy, que o digam os ventos que trouxeram Cabral. Praia de areia grossa e falésias vermelhas. Vale a pena parar e admirar a imponência do rio Cahy desaguando no mar. Nem pense em atravessá-lo nadando na maré baixa, pois sua corrente é muito forte. Reviva o tempo dos descobridores e atravesse de canoa. Seu instinto selvagem vai agradecer. Do outro lado do rio você encontrará o marco do descobrimento, uma cruz de madeira indicando ser ali o local onde Cabral chegou com sua esquadra em abril de 1500. Passe batido e siga em direção a Corumbau, sempre de olho nas variações da maré. Alguns trechos de praia ficam bastante estreitos e inviáveis na maré alta. Então relaxe, levante a areia e dê a volta por cima! Você não vai perder nada, muito pelo contrário.


Barra Velha


Provavelmente, neste ponto, você já estará entrando nas terras dos índios Pataxó, no Monte Pascoal. Se for aventureiro o bastante e tiver chance, vale a pena conhecer a aldeia “Barra Velha”, não muito distante da praia. Embora já bastante aculturados, os índios merecem nosso respeito. Procure conhecer o cacique, se interesse pelo seu povo, sua história e, principalmente, não deixe de agradecer quando for embora. 


Limitando-se com as terras do Parque Nacional do Monte Pascoal encontra-se Caraíva, nossa próxima parada. Antigo refúgio de dissidentes hypies, hoje é um lugarejo badalado entre o rio e o mar. Assim como Barra do Cahy e Corumbau, também é preciso atravessar o rio de canoa. Dependendo da maré, a travessia é um pouco demorada. Mas não se preocupe, a canoa é segura (daquelas de um tronco só, feita pelos índios e pescadores antigos!). 


Chegando do outro lado do rio é hora de aproveitar a praia, longe do agito e do burburinho alheio. Enfim é hora de por os pés na areia novamente. Depois de tanto caminhar chega-se a Curuípe. Lugar incrivelmente lindo, sobretudo nas noites de lua cheia! Reduto de alguns artistas famosos, hoje suas terras valem ouro! Mas você, que não tem nada com isso, já é rico por natureza só de estar ali curtindo, sem ter que possuir um grão de areia sequer. Do alto de Curuípe já se avista Trancoso ao longe. No entanto a caminhada não vai tão rápido quanto a vista alcança. 


Porto Seguro


Não se assuste ao passar por uma praia de naturismo. Afinal você está quase chegando ao berço da cultura hypie no sul da Bahia. Trancoso é assim, livre, alegre e sem maiores preocupações. Só que o que antes era um lugar tranquilo para se desligar do mundo, deu lugar a um turismo eclético em plena expansão. No entanto você ainda encontra alguma paz nos meses de baixa temporada que antecedem o verão. Mas vamos adiante até Arraial D’ajuda. Sempre cheio no verão, já dá para dormir numa boa pousada e comer num restaurante de verdade.


O quê, já está com os pés doendo? Relaxe, é hora de pegar a balsa e seguir para Porto Seguro. Com o passar dos anos, o crescimento urbano e os vôos internacionais, Porto Seguro se tornou turisticamente comercial e recebe visitantes durante o ano inteiro. Se você quer sossego neste verão, esqueça! Mesmo assim é impossível olhar o mar e não se deliciar com sua cor, imensamente azul! É… Você é um privilegiado. E aqui termina nossa caminhada, com a certeza de termos conhecido e participado de mais um pedacinho da história do Brasil. 


Maiores informações com: 
“Abrolhos Turismo”
www.abrolhosturismo.com.br
Fone: (73) 297 11 49








Algumas dicas


* Se informe ao máximo sobre o local que vai visitar


* Leve o mínimo de bagagem 


* Leve sacos plásticos para acondicionar seu lixo. Não queime, nem enterre-o


* Avise alguém da família para onde está indo. De preferência, deixe um roteiro 


* Você é responsável por sua segurança, portanto não se arrisque sem necessidade. O salvamento em ambientes naturais é sempre caro e complexo


* Aprenda técnicas básicas de segurança e primeiros socorros


* Ao percorrer uma trilha deixe-a como encontrou, sem nenhum vestígio seu.


* Não construa nada, como bancos ou mesas, nem arranque galhos de árvores, mesmo que estejam mortas, pois podem servir de abrigo para outros animais 


* Resista à tentação de levar “souvenirs” para casa. Tire fotos! 


* Fogueiras matam o solo. Use lanterna para iluminar e fogareiro para cozinhar


* Respeite as populações locais e seus costumes 


* Ao se hospedar em hotéis, procure aqueles ecologicamente corretos


* Observe os animais à distância e não participe de shows que os utilizem como atração


* Colabore com a educação ambiental de outros visitantes, quando houver oportunidade, participando o que aprendeu e vivenciou.



(BF)