RS investe em energia eólica

18 de fevereiro de 2004

Em Cerros Verdes, a 27 km de Livramento, bem na divisa com o Uruguai, imensos cataventos dividem espaço com as ovelhas e o gado


 






Os cataventos como se usam agora: mais modernos, mais leves e com menos ruído


O projeto da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul prevê a instalação de 29 estações de medição de ventos, cobrindo o litoral, campanha, zona sul, os campos de Cima da Serra e Alto Uruguai, numa área total de 750 quilômetros. Para a execução do projeto o órgão assinou convênios com três empresas: o consórcio gaúcho Capão Novo, a espanhol Gamesa e a alemã Wobben. Sant?Ana do Livramento é a sede, na Fronteira Oeste, do primeiro investimento na área e inclui na sua primeira fase estudos com duração de l8 meses. Estes levantamentos preliminares deverão demonstrar se os ventos que aqui sopram atingem uma velocidade média de 5 metros por segundo. Todos os meses um técnico da Secretaria vem a Livramento para coletar um pequeno chip instalado na torre, colocando outro em seu lugar. O chip contém os dados necessários para acompanhamento do projeto à distância. O secretário executivo da Secretaria de Minas e Energia e também idealizador do projeto é o engenheiro elétrico santanense Ronaldo dos Santos Custódio, um dos poucos especialistas no assunto no Rio Grande do Sul, com cursos de aperfeiçoamento na Holanda e Espanha, países que detêm tecnologia de ponta em energia eólica. Em entrevista à Folha do Meio Ambiente, Ronaldo Custódio informou que o governo gaúcho investiu primeiro no litoral, baseado em medições dos ventos feitas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já que no resto do estado não havia esse tipo de medição.


A escolha da Fazenda Santo Antônio, na localidade de Cerros Verdes, em Livramento, para sede do projeto na Fronteira Oeste foi baseada em análise técnico-teórica que apontou o local como o ponto mais alto de toda fronteira oeste. O primeiro objetivo da medição é fazer análise técnico-econômica para a instalação de uma fazenda eólica. “O impacto ambiental é muito pequeno – garante Custódio – e permite a utilização normal dos campos pelos pecuaristas”. O projeto entusiasmou o pecuarista Martin Antônio de Oliveira, filho da proprietária da fazenda sede, principalmente pela questão ambiental já que a área escolhida tem 400 hectares de mata nativa preservada e que está dentro da Área de Preservação Ambiental do Ibirapuitã. A energia eólica, defende o técnico Ronaldo Custódio, permite uma total integração com o meio ambiente, pois tem-se o cuidado de não colocar os cataventos em rotas migratórias de pássaros, além disso eles giram em baixa velocidade e com pouco ruído “até o próprio vento faz mais barulho que os modernos cataventos – é o que se pode chamar de energia limpa”.


Por outro lado, o impacto visual, tecnicamente é pequeno, e esteticamente há quem goste da paisagem em estilo holandês ou espanhol, com os campos pontilhados com os novos modelos de cataventos, brancos, mais leves e esguios.


Um outro objetivo do projeto além da criação das fazendas geradoras de energia, é a confecção do mapa eólico do estado. Com base na medição de Livramento, por exemplo, pode-se calcular para toda a região. Já as medições feitas na fronteira, até o momento, estão dentro do padrão exigido para instalação de uma usina eólica. O segundo passo do projeto prevê a construção de 40 a 50 torres com material importado da Europa. A fazenda eólica, como é chamada, deverá trazer benefícios diretos a moradores e produtores da região de Cerros Verdes. 


A utilização da energia eólica em escala comercial teve início há pouco mais de 30 anos, através de conhecimentos da indústria aeronáutica. E hoje em diversas partes do mundo a força dos ventos é reconhecida como uma fonte de energia renovável, limpa e disponível em todos os lugares. A Europa já utiliza essa energia há algum tempo, e muitos são os países que já pesquisam novas alternativas de energia que aproveitem fontes locais e que ao mesmo tempo preservem o meio ambiente. O Brasil, agora em tempos de racionamento energético, vem medindo mais precisamente seus ventos em diversos pontos do território nacional e tem um potencial eólico imenso ainda não explorado. É mais uma vez o investimento na pesquisa e a técnica a serviço do homem para uma melhor qualidade de vida.