Finanças e o meio ambiente

A responsabilidade ambiental dos bancos

12 de fevereiro de 2004

Michael Hoelz, do Deutsche Bank: ninguém mais escapa dessa responsabilidade social


Esta nova estratégia de relacionamento entre quem financia ou não o meio ambiente  teve o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES como anfitrião , na sua sede, no Rio de Janeiro   entre os dias 14 e 15 de março. O evento promovido pelo Programa Financeiro de Meio Ambiente das Nações Unidas teve como objetivo promover as transferências de know how entre as lideranças financeiras internacionais como o Deutsche Bank, a Corporacion Andina de Fomento (CAF), nacionais  como o ABN AMRO Asset Management, BBA Creditanstalt, Unibanco, o próprio BNDES  e o outro lado da moeda, isto é, as  cooperativas e as ONGs como o Viva Rio  e a  Eco-Finanças. Demonstrando assim que é possível novas parcerias quando o tema é “finanças e meio ambiente”.


Novo padrão
— Ninguém mais escapa dessa responsabilidade social – declarou Michael Hoelz, do Deutsche Bank entusiasmado com a rica mistura de perspectivas que estava acontecendo dez anos após a Cúpula da Terra (Rio’92) quando o setor financeiro internacional foi mobilizado a participar de forma mais integrada nos esforços de promoção de um novo modelo de crescimento econômico. Michael Hoelz considera que a integração das corporações financeiras neste processo é relativamente nova. Ele acha difícil trazer novas instituições para o assunto, mas um crescente número delas têm reconhecido os benefícios de se integrar projetos ambientais nas estratégias das companhia financeiras. “Não vale mais só a repetição de idéias, mas temos que conseguir coisas mais práticas. Diálogos construtivos para que se aumentem as parcerias. Se quisermos criar um mundo sustentável para as próximas gerações, temos que pensar e agir firmemente na questão da exclusão social dos africanos. Espero levar daqui boas propostas para o Encontro Mundial em  Johannesburg, na África do Sul em agosto  próximo”,  lembrou o diretor de um dos bancos executores de projetos socioambientais para aquele continente.
 
Recursos Hídricos
Jacqueline Aloisi de Larderel, Diretora da Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia da Unep-FI alertou para a crise da água que está minando um terço da população mundial.  “Quando não há escassez, há contaminação por produtos químicos. Isso sem contar com mais de um bilhão de pessoas vivendo com salários miseráveis. É um tema de interesse a muita gente. Os financiamentos não podem se fechar em grupos reduzidos. Ao contrário. As questões pendentes devem ser trabalhadas com metas e objetivos claros. Muitos dos países são pequenos e não atraem os investidores Como vamos ajudar as áreas rurais e menos privilegiadas? Isso é uma falha do mercado financeiro.Há uma força tarefa do Pnuma desenvolvendo projetos  socioambientais com as comunidades na África. Estes relatórios vão ser amplamente debatidos em Johannesburg, eu acredito” argumentou  Jacqueline Aloisi de Larderel na abertura  do evento  que pela primeira vez  acontece  em  um país em desenvolvimento.


The Environmental Responsibility of Banks
Michael Hoelz, of Deutsche Bank: no one else can avoid
this social responsibility


“How can a bank be related to the environment?” it may seem an ingenuous question, however, for more than 180 financial institutions associated around the world, this has been a stimulating challenge to reflect upon. In a more globalized planet by the minute, a subtle connection between finances and environment becomes stronger each. The financial corporations – the global players in the economic market language, have begun to understand that the sustainable development of the planet is a collective responsibility that involves businesses, governments, individuals and obviously, ecosystems. However, for these corporations no other place will feel the impact so directly as much as the very financial community. Whether by increasing the financing or the credit of a project on sustainable development in native communities in the Amazon region or in the evaluation of environmental liabilities of companies in the processes of privatization or even in the recovery of any harm to nature to the indirect or direct responsible parties for causing an activity of environmental degradation in the oil spill in Guanabara Bay, for example, the word of these financial institutions is decisive.


 


Bancos têm espaço para desempenho ambiental
Como os bancos da América Latina incorporam a temática ambiental em suas negociações?


Segundo Lawrence Pratt, diretor associado do Incae- Centro Latinoamericano para a Competitividade e o Desenvolvimento Sustentável,  instituição acadêmica  em  Administração e Finanças  da Costa Rica, especializada em auxiliar governos e setores privados da América Latina a alcançar um crescimento econômico sustentável, o meio ambiente é um assunto crucial para os interesses estratégicos dos bancos latinoamericanos hoje. “O risco


“Não vale mais só a repetição de idéias, mas temos que conseguir coisas mais práticas. Diálogos construtivos para que se aumentem as parcerias”
“Se quisermos criar um mundo sustentável para as próximas gerações, temos que pensar e agir firmemente na questão da exclusão social dos africanos”.
Michael Hoelz


 ambiental é um componente importante do risco financeiro. Muitas operações cotidianas dos bancos latinoamericanos se vêm afetadas por tal tipo de risco. Se estas operações de risco não se valorizarem, os bancos assumem riscos que não conhecem. Estes podem ser mais altos do que aqueles que os bancos de países industrializados enfrentam e controlam.


Ao considerar sistematicamente os aspectos ambientais das operações financeiras, explica Lawrence Pratt, muitos bancos em países industrializados e  alguns bancos líderes na região, estarão conseguindo baixar riscos, reduzir custos operativos e criar novas oportunidades de negócios. À medida em que o desempenho ambiental se converte em um componente cada vez mais importante da competitividade das empresas os bancos aprendem a incorporar essas questões ambientais em sua atividade e passam a ter melhores opções de negócios e menores riscos de serem deslocados para outros que sabem aproveitar essas oportunidades” defende o acadêmico.


O Centro Latinoamericano  para a Competividade e o Desenvolvimento Sustentável (Clacds) divulgou o estudo “Programas Ambientais em Bancos da América Latina” que localizou  brechas no desempenho ambiental que assinalam oportunidades para melhorar a competividade do setor bancário.


O estudo revelou  que no continente há gerentes e técnicos de 86 bancos de 18 países da América Latina, dois terços deles operam em âmbito regional e quase metade no âmbito mundial. Em 40 por cento desses bancos, a movimentação supera um milhão de dólares em ativos e 9% têm mais de  dez milhões de dólares em ativos.  Para o Clacds, os bancos se classificam em três distintos níveis de profundidade e sofisticação de seu desempenho ambiental:


1 – Os bancos que praticamente não possuem nenhum tipo de prática relacionada com o tema ambiental;


2 – Os bancos que se não possuem uma política corporativa sobre desempenho ambiental, possuem alguma atividade de gestão ambiental interna como a reciclagem e  na hora de aprovar seus créditos,  tomam algumas precauções de tipo legal.


3 – E, finalmente, os bancos que possuem políticas ambientais explícitas realizando atividades de gestão ambiental interna e possuem alguns procedimentos de análises  ou  monitoramento em seus serviços financeiros. Entre esses, um pequeno grupo de menos de 10 por cento que mostra um compromisso ambiental comparável aos bancos de alto nível competitivo dos países industrializados.
 
Protocolo Verde
A escolha do BNDES foi influenciada pela sua ação na área ambiental sendo o pioneiro no setor financeiro brasileiro na incorporação da variável ambiental a um  processo de concessão de crédito.


Na década de 80, alguns casos tornaram-se paradigmas como  o controle de poluição na região de Cubatão, em São Paulo e o levantamento de efluentes de rios e dejetos de suinocultura na região Sul envolvendo cerca de 4 mil produtores rurais, explicou Isac Zagury, diretor do banco de fomento que mencionou ainda que nos últimos dez anos, o BNDES concedeu em torno de 6 bilhões de dólares em financiamento e investimento na área ambiental.  “Considerando que a participação  do BNDES nesse período, foi  de cerca de 60 por cento, podemos afirmar que o banco alavancou cerca de 10 bilhões de dólares em investimentos em meio ambiente, ou seja,  um bilhão de dólares por ano.” concluiu Isac Zagury. 


Desde 1995 o BNDES é um dos membros do Protocolo Verde que incluiu  a apreciação  da variável ambiental no deferimento de crédito e integra   o Comitê Coordenador da Iniciativa de Finanças do Pnuma desde 1973.


O sociólogo Rubens Cesar Fernandes, coordenador do ISER – Instituto Social do Estudo da Religião e principal articulador do Movimento Viva Rio, argumentou que o sistema  de micro créditos  para o setor financeiro, no mundo inteiro, ainda é um “playground de crianças.” A menos que os grandes players queiram investir em novas tecnologias ou no micro crédito, explicou Rubens Cesar Fernandes, estaremos enfrentando o pior dos mundos. Eu não posso dizer nada sobre Genebra, é verdade. Falo sobre o Rio de Janeiro. A minha geração viveu um país com uma população de cerca de 80 por cento rural. Hoje, o Brasil de meus filhos é urbano. Eu pude observar essa terrível transformação. As cidades brasileiras têm que solucionar as suas desigualdades no contexto urbano. O setor financeiro como o conhecemos, está muito sofisticado. Há um processo de clivagem muito agudo que só serve a minoria. A economia informal está fora do mercado bancário. Ela é quase a metade da economia brasileira.


É o desafio desse país: implantar centros  que tragam oportunidades de micro crédito. Talvez seja a única porta de entrada para a integração entre os “figurões “com as pessoas mais simples das favelas. Precisamos estabelecer as pontes para o grande salto da sustentabilidade”, defendeu Rubens Cesar Fernandes que participou do workshop sobre Perspectivas Regionais  do Programa  Iniciativas Financeiras para a Sustentabilidade.


-SUMMARY-


This new strategy of relationship among those financing (or not) the Environment had the National Bank of Economic and Social Development-BNDES as host, in its headquarters, in Rio de Janeiro on March 14th and 15th. The event promoted by the Financial Program of Environment of the United Nations had as aim to promote the transference of know how among international financial leaderships such as the Deutsche Bank and the Andean Development Corporation (CAF). National leaderships as ABN AMRO Asset Management, BBA Creditanstalt, Unibanco, the very own BNDES and of course, the cooperatives and NGOs as Viva Rio and Eco-Finanças were also main participating parties.
Thus demonstrating that it is possible to establish new partnerships when the theme is ” finances and environment”. – Nobody else escapes this social responsibility – declared Michael Hoelz, of the Deutsche Bank. He is enthusiastic with the rich mixture of perspectives that are happening 10 years after the  Rio 92 World Summit, when the international financial sector was mobilized to participate in a more integrated manner in the promoting efforts for a new model of economic growth. Michael Hoelz considers that the integration of financial corporations in this process is relatively new. He found it difficult to bring new institutions in this field, but an increasing number of them have recognized the benefits of integrating environmental projects in the financial strategies of the company.” The repetition of old ideas is not accepted anymore, instead we have to obtain more practical things. Constructive dialogues are necessary so the partnerships may increase. If we want to create a sustainable world for the next generations, we must think and act firmly on the issue of  social exclusion of Africans. I expect to take from here good proposals for the World Summit in Johannesburg, in South – Africa in August “, stated the director of one of the banks carrying out environmental and social projects in that continent.