Folha do Meio Ambiente

A existência de índios no Brasil contemporâneo é lembrada pela maioria dos brasileiros apenas um vez por ano, na Semana do Índio. A desinformação sobre sua situação atual é generalizada: muitos continuam acreditando que os índios são uma categoria social homogênea, condenada à extinção por conta do avanço da fronteira agrícola e da sociedade industrial. Para estes, seriam os índios um resíduo humano dos tempos do “descobrimento”. Nada mais equivocado.

Na verdade, desde a década de 60 a população indígena no Brasil vem aumentando a taxas superiores à média nacional. Ademais, a palavra “índio” esconde a vasta diversidade de povos existentes ainda no Brasil, muito diferentes entre si. Estima-se haver 215 diferentes etnias atualmente, muitas das quais perderam sua língua original, ao longo da conflituosa convivência com os não-índios, mantendo, entretanto, práticas tradicionais e uma identidade própria. 

No Brasil, 180 línguas indígenas são faladas atualmente, e estão concentradas principalmente na Amazônia. Há populações indígenas espalhadas por todas regiões do país, vivendo em diferentes situações de contato com os não-índios. Neste início de século 21, há, segundo a Funai, 42 evidências de índios vivendo isolados da sociedade brasileira, sobretudo nas fronteiras.

Obras indispensáveis

Há algumas publicações indispensáveis para se compreender a atualidade dos cerca de 350 mil índios que vivem no país. O Instituto Socioambiental, uma organização cujos profissionais trazem um acúmulo de 30 anos sobre o assunto, está lançando “Povos Indígenas no Brasil 1996-2000”, uma síntese analisada por especialistas sobre os principais fatos que marcaram a questão indígena nos últimos quatro anos. Fartamente ilustrada, a publicação divide-se em três partes. A primeira, apresenta relatos de índios sobre suas experiências de seus povos derivadas do contato com os brancos; a segunda, aborda a conjuntura de alguns temas de interesse dos índios, como as políticas de governo e a legislação; a terceira parte, dividida por regiões, é uma incursão pelas terras indígenas espalhadas pelo país.

Outra publicação recém-lançada chama-se “Os Brasileiros e os Índios”, escrita pelo ex-presidente da Funai, Márcio Santilli. De certa forma, é um resumo da obra anterior, já que muito da abordagem e dos temas tratados se assemelham. É quase um livro de bolso, que explica didaticamente os problemas que afligem os índios no Brasil e discute suas perspectivas de futuro.

Para quem quiser fazer um passeio pela visão de mundo de um desses povos indígenas, há “O livro das árvores”, produzido por professores do povo ticuna. Artistas sofisticados e habitantes da região do rio Solimões (AM), os ticunas apresentam nesta obra desenhos da fauna e da flora das florestas que habitam, que vão sendo apresentadas junto com explicações sobre como os índios as utilizam. Tem-se, assim, a exata dimensão afetiva que liga este povo ao seu meio ambiente. Tanto o livro quanto sua organizadora, a antropóloga Jussara Gruber, foram premiados recentemente pelo trabalho.