Entrevista - Martin Culler

Ministro da Irlanda quer parcerias na área ambiental e cultural

5 de fevereiro de 2004

Martin Cullen, ministro do Meio Ambiente da Irlanda e próximo ministro do Meio Ambiente da União Européia, quer que Estados Unidos assinem logo Protocolo de Kyoto


A Irlanda é um dos países europeus que mais cresceram nos últimos 30 anos. De uma economia agrária, este pequeno país se transformou em pólo industrial, principalmente na produção de sistemas de tecnologia. No dia 11 de março, o ministro do Meio Ambiente da Irlanda, Martin Cullen(foto), esteve na cidade de Três Corações (MG) para a inauguração de uma Estação de Tratamento de Efluentes da Kerry, uma multinacional irlandesa. Martin Cullen está prestes a ocupar um posto bem mais importante: ele será o futuro ministro do Meio Ambiente da União Européia. Antes de se encontrar com as autoridades ambientais brasileiras, em Brasília, o Ministro Cullen falou à Folha do Meio sobre a relação Brasil-Irlanda e sobre outros temas, como o Protocolo de Kyoto, protecionismo agrícola e seqüestro de carbono.

Folha do Meio – Qual a importância de Estação de Tratamento de Efluentes para a Kerry do Brasil?
Martin Cullen –
Estou muito impressionado como foram feitos os investimentos nesta estação de tratamento. Os padrões atingidos aqui estão à frente da legislação nacional e internacional. Se todas as empresas estivessem seguindo este exemplo, teríamos um grande impacto positivo no meio ambiente do Brasil e do mundo.


FMA – Além da inauguração das obras de ampliação da ETE, quais são seus objetivos no Brasil?
Cullen –
Estou muito feliz em estar aqui, principalmente em Minas, pois vim para estreitar e fortalecer os laços com os brasileiros. Já conhecia o secretário José Carlos Carvalho quando ele era ministro do Meio Ambiente no governo passado. Espero poder fazer bons contatos com ele e com a atual ministra, Marina da Silva. Espero ter um bom relacionamento, não só economicamente, mas também criar um intercâmbio cultural.


FMA – O que o senhor espera deste encontro com a ministra Marina Silva, já que a posição do Brasil é divergente da Irlanda em alguns pontos, como o protecionismo agrícola?
Cullen –
Gostaria de não precisar adiantar nada, pois esta será a primeira conversa que terei com a ministra. Estou aqui para trocar idéias, sempre de mente aberta. Em vista da nova posição que a Irlanda irá adotar frente à União Européia, eu gostaria de estar conhecendo os governos cara a cara e discutir as posições e as diferentes idéias.


FMA – A Irlanda está estudando algum acordo na área de meio ambiente com o Brasil?
Cullen –
O meio ambiente tem sido uma preocupação crescente em todo mundo. Principalmente na Europa. Esse é um dos motivos da minha visita ao Brasil, e por isso farei uma visita a Manaus, para ver os projetos que estão sendo desenvolvidos na região e, provavelmente, aprender e levar novas experiências para Irlanda e toda Europa. Talvez também possamos ajudar o Brasil em algum ponto em que estejamos mais avançados.


FMA – Qual a posição da Irlanda em relação às empresas que praticam seqüestro de carbono, comprando créditos para serem aplicados no Brasil?
Cullen –
Hoje a Irlanda está muito acima dos níveis de emissão de CO2. Estamos trabalhando firme para reduzirmos estes índices, implantando, por exemplo, novas fontes para substituição de combustíveis. Alguma coisa pode ser feita em relação ao seqüestro de carbono assim que o Protocolo de Kyoto entrar em vigor.


FMA – E qual é a posição da Irlanda em relação ao Protocolo de Kyoto?
Cullen –
A Irlanda segue a posição da União Européia. Somos a favor do Protocolo de Kyoto, e esperamos que os Estados Unidos mudem a postura deles.


FMA – Como a Irlanda conseguiu um crescimento econômico e tecnológico tão alto nos últimos tempos?
Cullen –
O grande ponto foi o investimento feito em educação, que começou nos anos 60 e levou até os anos 90 para amadurecer, por isto nós temos algumas vantagens na educação e em tecnologia. Esse foi o grande segredo do salto econômico do nosso país.


FMA – O senhor é contra ou a favor dos transgênicos?
Cullen –
Estamos tentando encontrar um caminho. Quero dizer que existem opiniões diferentes. Queremos entrar em comum acordo com todos os países da União Européia, e é o que ainda não conseguimos. Vou aguardar as negociações para poder dar minha posição.


FMA – A Irlanda é um país pequeno. Tem quatro milhões de habitantes e um PIB de US$ 115 bilhões. Seu país vinha de um crescimento econômico assustador, mas que depois do ataque terrorista de 11 de setembro, deu uma parada…
Cullen –
É verdade, o crescimento acelerado durou mais tempo que imaginávamos. Agora, o crescimento projetado para os próximos anos é de cerca de 2%. Esta projeção é ainda acima da expectativa, em comparação ao resto da Europa, que está com um crescimento negativo. Cerca de 90% do que é produzido no nosso país é exportado e nós temos a dependência da economia global, por isso nossa economia não está avançando como antes.


FMA – Em janeiro o senhor assume o cargo de ministro do Meio Ambiente da União Européia. Quais são seus planos?
Cullen –
Queremos dar prioridades a temas como a firmação do Protocolo de Kyoto, redução da emissão de CO2 em toda Europa, um efetivo gerenciamento de produtos químicos e vamos nos debruçar nas discussões sobre transgênicos.


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