Anna Karina: a brasileira-sueca prepara um novo documentário sobre Arne Sucksdorff
17 de fevereiro de 2004Dez dias após conclusão do filme, Sucksdorff morreu e teve suas cinzas jogadas no Pantanal
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Sucksdorff – ?Não há melhor maneira de discutir temas relevantes para a sociedade, sejam eles violência, drogas, beleza, amor, relações familiares, preconceitos, pobreza, guerras, conflitos e natureza do que o cinema?, ressalta Anna Karina.
Foi assim, com esse espírito, que ela aceitou o desafio de produzir um documentário sobre a vida do cineasta sueco, Arne Sucksdorff. Ele viveu mais de 20 anos no Brasil, no Pantanal Matogrossense, lutando pela defesa da sua fauna e flora, tendo antes residido no Rio de Janeiro onde fundou a primeira escola de cinema e foi o grande responsável pela explosão do movimento do Cinema Novo. Por lá passaram nada menos do que Glauber Rocha, Joaquim Pereira dos Santos, José Wilker e muitos outros cineastas. Aí vão duas das paixões de Sucksdorff: o cinema e o meio ambiente. Mas, havia uma outra que também contagiou, coincidentemente, Anna Karina: as crianças.
?Depois do filme feito no Brasil, Meu Lar em Copacabana, Sucksdorff levou as crianças abandonadas, que dele participaram, para Estocolmo, dando-lhes uma nova esperança e oportunidade de vida. Anteriormente, ele havia tocado os americanos recebendo o Oscar da Academia, em 1947, pelo documentário Ritmos da Cidade, sobre a vida em Estocolmo?, lembra Anna Karina.
Documentário sobre Arne – Há dez anos em sua cidade natal, após crises de depressão aqui no Brasil, Sucksdorff sofreu vários enfartes, e estava profundamente debilitado. Durante esse período, a documentarista, Bárbara Fontes, de Cuiabá, pesquisou sobre as atividades do cineasta e obteve do Governo de Mato Grosso verba para realizar um documentário sobre ele. A ponte na Suécia foi, claro, Anna Karina.
?Não produzi apenas um documentário. Ganhei um grande amigo. Uma pessoa apaixonada pelo meu país, que dedicou grande parte de sua vida à defesa de causas tão nobres que muitas vezes nós mesmos que somos daqui não damos a devida relevância: meio ambiente e criança?, enfatiza Anna Karina.
Ela lembra que após a finalização do documentário, Sucksdorff disse se “sentir pronto para a volta à natureza e com sua missão cumprida”. Como obra do destino, dez dias depois, suas palavras foram atendidas e ele veio a falecer. Suas cinzas foram lançadas sob o Pantanal, terra que o acolheu e o amou com toda reciprocidade.
Um dos temas do próximo 12º Festival Internacional do Cinema de Estocolmo será uma retrospectiva sobre o mundo encantado do sueco que amava o Brasil, feita por uma brasileira que também ama a Suécia, Anna Karina.