Uso de pneus na construção civil
17 de fevereiro de 2004Prefeitura gaúcha implanta projeto de casas populares aproveitando sucata de pneus. Iniciativa recupera o ambiente e evita mosquito da dengue.
Tecnologia – A tecnologia desenvolvida no município gaúcho é simples, de baixo custo, cerca de R$ 4 mil por unidade habitacional. A nova técnica, criada pelo engenheiro Leandro Kroth, atual secretário de Habitação, Construção e Segurança do município, recebeu o nome de Projeto Bom Plac de Moradia Popular, também chamado de Projeto João de Barro. As casas construídas com esta técnica têm cerca de 40 metros quadrados e são pré-moldadas. “Eu observei esta sucata toda e percebi que poderia ter uma finalidade social”, diz Kroth.
Nesta tecnologia, sobras de borracha, resultantes do processo de recauchutagem de pneus, são doadas semanalmente pelas indústrias de Santa Cruz do Sul à prefeitura, sem custo de transporte para o município. Estas sobras de borracha são misturadas a argamassa, em substituição a areia – forma clássica de construção.
As sobras da borracha dos pneus são depositadas em um galpão, construído pela prefeitura, onde são misturadas a argamassa. O resultado da mistura é colocado em molduras, resultando em milhares de placas pré-moldadas. As colunas de concreto para fixação das placas também são confeccionadas neste galpão.
O isolamento térmico das casas é feito com placas de isopor. O telhado é de zinco e o piso de concreto. Em Santa Cruz do Sul quase todas as casas foram reformadas pelos moradores, que revestiram o teto e as paredes com madeira ou com uma camada de cimento e tinta impermeabilizante; o piso foi revestido com cerâmica. A casa é entregue com instalação elétrica e hidráulica feita pela prefeitura.
Todo o material empregado na confecção da moradia foi testado e submetido a ensaios de variação climática nos laboratórios da Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Cientec). Oito pessoas dedicando-se em tempo integral à construção da casa, podem erguê-la em apenas uma semana, incluindo as instalações elétricas e hidráulicas.
Mão-de-obra – As placas pré-moldadas utilizadas na casa são confeccionadas por detentos selecionados pela direção do presídio da cidade em parceria com a Secretaria do Interior, Justiça e Cidadania do Estado. Para que os detentos possam trabalhar no projeto, a prefeitura construiu um galpão/oficina para confecção das placas no pátio da penitenciária.
Têm acesso a este trabalho os detentos que cumprem penas por delitos leves. Eles recebem um salário mínimo por mês, pago pelo município, e a cada três dias trabalhados, a pena é reduzida em um. Além disto, após o cumprimento da sentença, caso não tenham casa própria ou residam em área de risco (endêmico ou de desabamento), o apenado recebe uma casa do Projeto Bom Plac de Moradia Popular.
A dengue no Brasil Em 1982, ocorreu o primeiro surto de dengue no Brasil, foi em Boa Vista, capital de Roraima, com 12 mil casos. Possivelmente, o surto tenha sido importado de países vizinhos, como a Venezuela ou Guiana. Nos anos de 1986 e 87, a doença alcançou grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e Fortaleza. Em 1994, a dengue passou a ser observada em quase todo o país. O estágio mais elevado da dengue no Brasil aconteceu em 1998, quando foram registrados 560 mil casos da doença. Em 99, houve uma queda, com a ocorrência de 210 mil casos, mas, no ano 2000, a ocorrência passou para 238 mil casos. No ano 2000, um total de 375.044 casos de dengue foram notificados nas Américas, dos quais o Brasil foi responsável por 63,5%. A taxa de incidência de dengue no país foi de 139,6 casos/100 mil habitantes, inferior à observada no Paraguai, Costa Rica e Nicarágua, entre outros. Atualmente, o objetivo das autoridades de saúde é reduzir em 50% a incidência da doença até dezembro de 2002; reduzir a letalidade por febre hemorrágica, a forma mais grave da doença, a menos de 1% e também reduzir a menos de 1% a infestação predial em 25% dos 618 municípios brasileiros de maior risco. Observa-se que o maior foco de infestação do mosquito Aedis ocorre dentro das residências, porque as pessoas armazenam água em reservatórios sem tampa, acumulam garrafas e pneus e têm plantas aquáticas. |
Seleção – As famílias beneficiadas com a casa são selecionadas pelo Serviço de Assistência Social do município, que está encarregado de promover ações de educação e saúde com esta população. O trabalho de educação e saúde é realizado em centros comunitários, ou em ginásio de esportes ou ainda em salas de igrejas, próximos ao local da construção. As principais ações preconizadas no município estão relacionadas a orientação sobre vacinação infantil e noções de higiene e nutrição.
Quando o beneficiado é funcionário da prefeitura, o custo da casa é descontado na folha de pagamento, mensalmente, em valores que não ultrapassam a R$ 80,00. Nos outros casos, o interessado obtém financiamento junto a Caixa Econômica Federal.
A prefeitura municipal de Natal, Rio Grande do Norte, tomou conhecimento do projeto desenvolvido no Sul do país e armazenou mais de 60 mil pneus em dois galpões para empregá-los na construção de moradias populares. No interior de Minas Gerais, também há prefeituras interessadas na adoção da técnica.
Máquina trituradora – Para que as casas possam ser construídas em larga escala, de modo que se obtenha uma redução no número de criadouros do Aedis, as prefeituras de Santa Cruz do Sul (RS) e de Natal (RN) pretendem adquirir uma máquina trituradora de pneus.
A máquina trituradora de pneus existente na Europa tem custo elevado, cerca de R$ 550 mil. Além disto, se fosse importada, no futuro poderia haver problema com a reposição de peças e falta de pessoal qualificado para fazer o serviço de manutenção. No entanto, na própria cidade de Santa Cruz do Sul, que possui inúmeras indústrias de máquinas, carrocerias e motores, a máquina trituradora de pneus pode ser desenvolvida e tem custo estimado de R$ 60 mil. Agora, as prefeituras dos dois extremos do país, RS e RN, estão à procura de financiamento para a construção da máquina. A prefeitura de Santa Cruz do Sul se dispõe a assessorar os interessados em adotar o projeto.
Mais informações: Engenheiro Leandro Kroth (51) 7159344
Prefeitura: (51) 7153331