A fronteira de Sant`Ana do Livramento e Rivera, entre Brasil e Uruguai, vive problemas basicamente idênticos na questão ambiental até, mesmo, porque para a natureza não existe fronteira. A diferença está no tratamento das questões ambientais: a cidade gaúcha de Livramento é um dos mais de cinco mil municípios brasileiros e Rivera é a capital do departamento uruguaio do mesmo nome. Divididas apenas por uma rua, as cidades gêmeas como são chamadas, misturam culturas, idiomas e nos últimos anos de ambos os lados cresce a discussão em torno do meio ambiente. As duas, economicamente, tem um perfil parecido – grandes propriedades onde se pratica a pecuária extensiva.
Já a área urbana tem os mesmos problemas de todas as cidades: convive com lixões, saneamento básico ainda precária, somente em Rivera atinge 30% de toda sua comunidade. Mas, o dado importante é que do lado uruguaio, segundo pesquisa do Ministério do Meio Ambiente daquele país, a consciência e preocupação com as questões ambientais só fica abaixo da registrada na capital uruguaia, Montevideo. Do lado brasileiro, o primeiro ano de funcionamento de recém criada Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – Uergs – com curso na área ambiental, faz prever melhores dias, já que do lado uruguaio, segundo pesquisa, a conscientização ecológica cresceu graças a implantação nos ensinos fundamental e médio, de ações como Clubes de Ciências.
O Conselho Municipal do Meio Ambiente de Livramento aponta os principais problemas da cidade e o diretor da unidade regional Norte do Ministério do Meio Ambiente do Uruguai, advogado e professor Gerardo Amarilla de Nicola, faz uma análise da questão no lado uruguaio.
Conselho
Criado há pouco mais de um ano, o Conselho Municipal do Meio Ambiente, presidido pelo secretario da agricultura de Livramento, advogado Luiz Fernando Paiva Vieira, ainda está na fase de levantamento de problemas. O lixão municipal é o maior deles e o mais antigo. Uma parte do lixo que ali se acumula há mais de 20 anos, foi aterrado, minimizando a situação. Mas os moradores do Rincão da Bolsa, a maioria produtores de leite querem uma solução final, com a localização do lixo em outra área, pois já estão cansados de esperar. Existe a possibilidade de que esta situação venha a se agravar já no final do ano, quando o prazo dado pelo ministério público, Fepam e Ibama, se expira. A prefeitura deve abrir, agora em janeiro, licitação para a terceirização do transporte e depósito do lixo.
Algumas incoerências foram apontadas com relação ao lago do Batuva, área criada para recreação, e que convive com o funcionamento bem próximo, de um clube de tiro. O chamado Cerro do Registro, hoje tema de tese de doutorado, tem uma de suas faces sofrendo um acentuado processo de erosão. E bem na sua base cresce uma ocupação irregular, com pequenas casas que convivem com o perigo do desmoronamento do morro. A engenheira Lorena Padilha, da Secretaria estadual do Meio Ambiente, Regional de Livramento, cobrou ações mais concretas do conselho, pelo menos quanto a questões mais urgentes. Para o ambientalista e professor José Luiz Sampaio “o meio ambiente em Livramento ainda não é prioridade, muitos se utilizam da questão ambiental para sua promoção pessoal.
Biotecnologia
Localizada num amplo prédio, antiga sede do Banrisul, a Universidade do Rio Grande do Sul, Uergs, na sede de Livramento, tem apenas 25 alunos frequentando o curso de Engenharia em Bio Processos e Biotecnologia. Tem convênio com a universidade de La República, em Montevideo, de onde chegam professores para ministrar cursos e seminários.
APA e Ibama
Livramento está dentro da APA do Ibirapuitã – área de preservação ambiental, criada há mais de dez anos. Só o município santanense detém 56% da área total da APA e divide junto com Quaraí, Rosário do Sul e Alegrete essa distinção. No entanto, apesar dos esforços da gerente da APA, engenheira Berenice Marques, do Ibama, que até pouco tempo não dispunha nem de veículo para fazer a fiscalização e promover ações na área, falta muito por fazer.
Foram colocadas algumas placas indicativas na estrada de acesso a APA, e, em seguida depredadas. A sede do Ibama, onde a gerente se encontra é em Uruguaiana, quando poderia ser em Livramento que está dentro da área de preservação e tem a maior área dentro da mesma.
Há a necessidade de um projeto de educação ambiental na comunidade e junto aos proprietários de terras dentro da APA.
Lado uruguaio
O diretor da regional Norte do Ministério do Meio Ambiente do Uruguai, Gerardo Amarilla, fez uma ampla análise da situação na cidade de Rivera. Segundo ele a preocupação dos cidadãos riverenses com a questão ambiental é somente comparável com a dos cidadãos de Montevideo.
Segundo pesquisa realizada pela faculdade de Ciências Sociais da universidade de La República e do Ministério de Vivienda, Ordenamiento Territorial Y Medio Ambiente, publicada em setembro de 2000, a preocupação com as questões ambientais em Rivera alcança os 54% na categoria “muito preocupados”.
Isto significa o dobro da média verificada no resto das cidades do interior do Uruguai. E está apenas cinco pontos abaixo do índice verificado em Montevideo.
Quanto à percepção da existência de problemas no meio ambiente da sua cidade, os índices chegaram a 82% pontos acima do resto das cidades do interior do País, e apenas 6% abaixo dos cidadãos da capital. Com estes elementos, analisa Gerardo Amarilla, se pode concluir que existe uma sensibilidade especial dos riverenses a respeito dos temas ambientais.
A própria zona de fronteira com o Brasil e a presença de alguns problemas críticos constituem fatores determinantes dessa consciência ambiental.
Resíduos sólidos
O manejo integral de resíduos domiciliares é sem dúvida um tema que preocupa a vizinha cidade uruguaia e coincide de alguma maneira com o que ocorre em Livramento. O volume dos resíduos, a falta de uma cultura de reciclagem, junto com as dificuldades e a falta de recursos das autoridades locais para otimizar a coleta, a transformação e a disposição final dos resíduos, são fatores que impedem a boa gestão integral do problema.
Existem, no entanto, algumas ações do governo local, com a participação de atores privados e órgãos nacionais, visando a coleta seletiva de alguns resíduos e gerar atividades em torno da reciclagem.
Saneamento
Outro tema que preocupa a comunidade de Rivera, é com relação ao serviço de saneamento: o serviço existente atinge apenas 30% da cidade. Para Gerardo Amarilla este é um problema crítico ambiental, mas cuja solução deverá ainda ser adiada por mais um tempo, devido ao montante de recursos que são necessários para ampliar a rede de esgoto.
Valle del Lunarejo
Outro destaque na região é com relação aos resultados dos trabalhos relativos a declaração de área natural protegida ao Valle del Lunarejo, incluída na categoria “Paisaje Protegido”, segundo a legislação ambiental uruguaia. Se inclui aí 20 mil hectares de uma região particular próxima a cidade de Rivera e na linha fronteiriça com o Brasil. Foi um passo importante na proteção da biodiversidade e geração de atividades relacionadas ao ecoturismo