Museu de História Natural de Minas Gerais
17 de fevereiro de 2004Educação, natureza e cultura no Museu e Jardim Botânico da UFMG
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Para a Diretora do Museu, professora Mônica Meyer, que está reestruturando as programações educativas e culturais, o Museu da UFMG é um centro de pesquisa, ensino e extensão na vida acadêmica e um importante elo com a população. “Pesquisadores, técnicos, professores e estudantes têm a oportunidade de viver um processo de ensino-aprendizagem dinâmico e estimulante, que ultrapassa os limites convencionais da sala de aula” explica Mônica Meyer e acrescenta: “A presença do visitante torna a universidade mais próxima da comunidade e possibilita um tipo de aprendizado que contribui para repensar o fazer acadêmico”.
Origens dos museus de História Natural – Os museus de História Natural surgiram a partir das “salas de curiosidades”, abertas ao público durante o século XVI com o objetivo de mostrar pequenos acervos. Eram locais que expunham exemplares exóticos de outros países e culturas, revelando a enorme diversidade da vida no planeta. Muitas dessas coleções iniciavam-se com os viajantes. De volta a seus locais de origem, eles registravam a história das terras descobertas ilustrando com objetos e artefatos a cultura dos diferentes povos.
A investigação científica marca, desde o princípio, a fundação dos museus. Além de dar credibilidade à apresentação, o suporte científico de qualquer exposição propicia o desenvolvimento de novos temas que possam servir de base a futuras mostras.
De volta ao começo – O Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG ocupa a área da antiga Fazenda Boa Vista, que pertencia originalmente à Fazenda do Cercado, propriedade da família Guimarães desapropriada no início do século XX pela comissão construtora de Belo Horizonte.
Em 1912, a fazenda foi transformada em Estação Experimental de Agricultura e em 1953 o governador Milton Campos criou no local o Instituto Agronômico, com o objetivo de impulsionar a pesquisa agronômica e assegurar o desenvolvimento técnico da agricultura mineira. As edificações construídas serviram inicialmente para instalar as seções de botânica, citologia, fisiologia, silvicultura e plantas ornamentais, e também abrigar técnicos do Instituto, que ali passaram a residir com suas famílias.
Simulação de uma gruta na exposição de mineralogia |
O prédio destinado aos diretores localizava-se no meio da mata e recebeu o nome de Palacinho. Construído provavelmente na década de 1920, o Palacinho serviu como local de veraneio e lazer para muitos governadores de Minas Gerais. Nele hospedaram-se políticos como Olegário Maciel, Wenceslau Brás, Raul Soares, Mello Vianna, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e Arthur Bernardes.
O nascimento do museu – A origem do Museu de História Natural remonta à extinta Sociedade Mineira de Naturalistas, fundada em 1956 por professores da antiga Faculdade de Filosofia da UFMG. Eles pretendiam criar um museu de História Natural em Belo Horizonte para incrementar a pesquisa e educação científica.
Apesar de todo esforço empreendido por cientistas e estudantes do curso de História Natural, só em 1967 a idéia de criação do museu ganhou fôlego, a partir do movimento de um grupo de professores liderados por Amílcar Vianna Martins, da Escola de Medicina. Em 1968, com a implantação da Reforma Universitária, o Museu de História Natural foi instalado oficialmente, vinculado aos recém-criados Institutos de Ciências Biológicas e de Geociências da UFMG.
Várias foram as razões que motivaram a instalação do Museu no Instituto Agronômico, que vivia na época sua pior crise. Com as pesquisas paralisadas e a vegetação bastante devastada (cerca de 10 mil árvores já haviam sido derrubadas), o Instituto corria sério risco de ser extinto.
Através de um convênio de comodato assinado entre o governo de Minas Gerais e a UFMG, em 12 de agosto de 1969, o Museu de História Natural foi instalado em uma área de 439 mil metros² do Instituto Agronômico. Em contrapartida, a Universidade forneceu verbas e pessoal técnico para a implantação do Museu. Quatro anos mais tarde, mediante contrato de comodato entre a prefeitura de Belo Horizonte e a UFMG, foram incorporados mais 150 mil m2 de uma área de mata contígua ao Museu.
Atividades acadêmicas – As atividades de pesquisa, ensino e extensão desenvolvidas no Museu desempenham um relevante papel na formação acadêmica do corpo docente, discente e técnico-administrativo e exercem uma significativa ação educativa para com a comunidade. As exposições de Arqueologia, Paleontologia, Mineralogia, Ciências e Cultura popular fazem do Museu um local privilegiado para a educação não-formal. A extensão se destaca através do Programa de Educação Ambiental que tem como objetivo estimular a percepção, interpretação, reflexão e compreensão dos visitantes dos fenômenos naturais e dos processos ecológicos articulados às situações sócio-históricas e culturais.
Programa de Educação Ambiental – A professora Mônica Meyer ressalta que o programa de Educação Ambiental proporciona ao público uma vivência com a natureza o menos manipulada possível através de caminhadas na mata, visitas orientadas as exposições, realização de oficinas, cursos, palestras e eventos comemorativos.
A Formação Continuada de Monitores apresenta um programa flexível, sendo elaborado anualmente para atender às perspectivas de trabalho da instituição e o interesse dos monitores. Cursos preparatórios de 30 horas são oferecidos no princípio de cada semestre letivo e ao longo do ano acontecem reuniões semanais para discutir e aprofundar determinados temas e práticas educativas.
Os professores estão contemplados no Programa de Educação Ambiental pela oferta de mini cursos de Formação Continuada de Educadores. O objetivo é ajudá-los a refletir sobre a função social e cultural da educação e da ciência, a repensar os espaços museológicos, os processos de ensino-aprendizagem e principalmente a educação ambiental contextualizada em situações do cotidiano, que ultrapasse as quatro paredes de uma sala de aula.
Uma instigante viagem no tempo
O que o visitante pode encontrar no Museu da UFMG
Seis exposições permanentes conduzem o visitante a uma verdadeira viagem no tempo: Arqueologia, Mineralogia, Paleontologia, Espaço Ciências, Cultura Indígena Maxakali e Presépio do Pipiripau. Entre as peças, algumas atraem olhares mais atentos e curiosos, como as réplicas de animais pré-históricos e a ossada humana encontrada na região de Lagoa Santa, com aproximadamente 10 mil anos. Os visitantes também se encantam com os minerais e pedras preciosas de Minas, os machados e urnas funerárias pré-históricas e o conjunto de arte popular do Presépio do Pipiripau.
Rastreando vestígios – A Exposição de Arqueologia reúne um acervo significativo formado por urnas funerárias, esquemas gráficos, maquetes de sítios arqueológicos e reproduções de pinturas rupestres. O objetivo da mostra é focalizar a evolução da tecnologia do homem pré-histórico em Minas Gerais, desde a fabricação dos primeiros artefatos, datados de 15 mil anos atrás. A enorme diversidade cultural é retratada em dois temas básicos: “A vida cotidiana”, evidenciada pela arte rupestre, artefatos e materiais orgânicos que resistiram ao tempo, e pelos “Rituais da morte”, com diversos tipos de sepultamentos humanos.
No final do ano será inaugurada uma réplica de um sítio arqueológico, ao ar livre, que irá divulgar e popularizar o conhecimento científico e tecnológico de pesquisas, simulando o trabalho do arqueólogo.
A Exposição de Mineralogia revela ao visitante a grande influência da mineração em Minas Gerais, um dos principais fatores de colonização e povoamento do estado. Com a intenção de promover uma reflexão sobre os impactos da exploração mineral no ambiente, a mostra simula a atividade do garimpo e o trabalho do garimpeiro em um aluvião.
História nos fósseis – O Museu guarda uma significativa coleção de fósseis, com destaque para os mamíferos pleistocênicos, extintos há aproximadamente 10 mil anos. A Exposição de Paleontologia exibe fósseis originais e réplicas feitas em tamanho e formas naturais, apresentando uma interpretação da história da vida na Terra, marcada por profundas alterações climáticas e geográficas, ao longo de milhares de anos. Esqueletos de grandes mamíferos, dinossauros e impressões nas rochas fazem parte do acervo e são documentos que ajudam a desvendar a vida no planeta.
Espaço Ciências – Ensinar Ciências sem inibir a curiosidade, a imaginação, o prazer da descoberta do mundo visível-invisível, do não percebido, fazem deste espaço uma atração especial. Exemplares de animais vivos e conservados podem ser vistos a olho nu ou por de microscópios. Representantes da flora e fauna podem ser observados em escalas de tamanho maiores, instigando o visitante a redescobrir a natureza. Uma coleção singular permite o público conhecer e manipular uma diversidade de frutos e sementes de árvores representativas da flora nacional e estrangeira.
Arte e magia no Presépio – O Presépio do Pipiripau, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1984, é uma das exposições mais visitadas do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG e retrata artesanalmente a vida, morte e ressurreição de Cristo.
O Pipiripau nasceu das mãos do artista popular Raimundo Machado de Azeredo (1894-1988) que começou a construí-lo em 1906. No princípio, uma caixinha de papelão forrada com cabelo de milho, musgos e folhas abrigava o pequeno Menino Jesus. Aos poucos, foi ganhando novas peças e movimento, aproximando-se de um teatro de bonecos.
Mônica Meyer, bióloga, Mestre em Educação e Doutora em Ciências Sociais. Professora da Faculdade de Educação, vem trabalhando na área de ensino de educação ambiental, ensino de ciências, biologia e saúde; exerce atualmente a direção do Museu de História Natural e Jardim Botânico e a assessoria de Meio Ambiente da UFMG |
O Presépio ocupa 20m2 e está montado em uma armação de madeira que sustenta cinco prateleiras em planos diferentes. Sobre as prateleiras, 45 cenas com 580 figuras movimentam-se por meio de um engenhoso mecanismo, elaborado com precisão e sincronia. O mecanismo é impulsionado por um motor elétrico ligado a fios, barbantes e cordas, que movimentam roldanas, carretéis de linha vazios, alavancas de madeira e outros inusitados materiais.
Cultura indígena – O acervo etnográfico do Museu é composto por peças da cultura Maxakali, grupo remanescente que vive hoje nas cabeceiras do rio Itanhaém, no município de Maxakali, norte de Minas Gerais. Até meio século atrás, os Maxakali permaneceram praticamente sem contato com a sociedade brasileira. Reconhecidos como um dos únicos grupos indígenas que conseguiram sobreviver no estado, estão representados através de artefatos de caça e pesca, objetos de arte, adornos e cerâmicas.
Exposições temporárias – As exposições temporárias exibem peças do acervo do museu e de outras instituições. Nas comemorações dos 500 anos do Brasil, por exemplo, vários objetos e artefatos arqueológicos foram apresentados ao público em duas grandes mostras: “Bravas Gentes Brasileiras”, em parceria com a Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais e a Fundação Clóvis Salgado, e “500 anos do Descobrimento”, com a Fundação 500 anos e a Bienal de São Paulo.
O Museu promove também exposições itinerantes. O empréstimo de peças do acervo é autorizado se forem atendidas as normas da instituição. Os contatos podem ser feitos na diretoria ou no Setor de Museologia, através de solicitação encaminhada com antecedência mínima de dois meses.
Mais informações:
Museu de História Natural
[email protected]
(31) 3461-7516 – 3482-9723