Naturatins adverte sobre mau uso de água

17 de fevereiro de 2004

Governo do Tocantins quer maior controle sobre recursos hídricos e está atento ao uso múltiplo dos rios, barragens e lençol freático

    Muito se tem falado sobre crise de energia elétrica. Campanhas do governo, de ONGs e de entidades de classe têm orientado a população para o uso racional de energia para diminuir os riscos do apagão. Entretanto, todas essas campanhas informativas têm mostrando a crise de energia como um fator isolado, sem esclarecer que a escassez de energia é proveniente do uso inadequado dos recursos hídricos e que, num futuro não muito longe, poderemos ter uma crise muito mais grave: a falta de água. Mesmo tendo que deixar de lado os aparelhos elétricos, símbolos da modernidade e comodidade, o povo brasileiro está conseguindo conviver com a crise de energia. Mas, como viveríamos com o racionamento de água? Já pensou ser proibido por lei tomar um banho, lavar roupa e utensílios domésticos? 


O Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) está trabalhando para que os mananciais do Estado do Tocantins sejam utilizados de maneira controlada, evitando abusos e poluição dos rios e dos lençóis freáticos. Este trabalho é feito pela Coordenadoria de Cadastro e Outorga de Uso de Águas, cujos técnicos acreditam que a falta de água não só é possível como será inevitável se continuar sendo usada indiscriminadamente. 






Potencial hídrico do Tocantins


Um dos maiores orgulhos do Estado do Tocantins é seu potencial hídrico. Existem no estado duas grandes bacias hidrográficas, que são os rios Tocantins e Araguaia. Além destes, mais 39 subbacias, cada uma abastecida por dezenas de pequenos rios, ribeirões e córregos, completam a hidrografia do mais novo estado do país. 


O potencial hídrico do estado tem chamado atenção do governo federal, que vê no Tocantins um forte aliado para construção de usinas hidrelétricas que podem mandar embora o medo de um blackout. A primeira usina, Luís Eduardo Magalhães, no município de Lajeado (56km de Palmas) será inaugurada neste mês. A de Peixe/Angical, no município de Peixe (320km de Palmas) já está em fase de licitação. Além destas, mais cinco usinas deverão ser construídas, todas utilizando as águas do rio que dá nome ao estado e uma utilizando as águas do Araguaia.


A exemplo da primeira usina construída no estado, todas deverão ter o mesmo sistema de captação de água que permite sua renovação, fazendo com que volte ao lago do mesmo jeito que passou pelas turbinas. “A água é um bem renovável, mas é finito. Nós podemos utilizá-la várias vezes e garantir que ela volte ao manancial. Isto é que garantirá que continuaremos tendo água de boa qualidade no planeta”, alerta Rubens Brito. 


Mais informações: Linha Verde para denúncia: Naturatins: 0800 63 1155


A grande preocupação da coordenadoria, segundo seu titular, Rubens Pereira Brito, é evitar a implantação de empreendimentos que utilizam a água de maneira irracional e degradante. “Isto, sem dúvida, nos levará a enfrentar uma crise de água, que é um bem finito”, alerta. Os reservatórios de água em todo o país estão secando e, a cada ano, mesmo com as chuvas, não conseguem ficar com sua capacidade total. Isto acontece porque as políticas de uso do solo e dos recursos hídricos são falhas.


Para corrigir as distorções enquanto é tempo, entra em ação a Agência Nacional de Água (ANA) que pretende regular o uso dos recursos hídricos e espantar o fantasma da falta d’água. A ANA deverá trabalhar em parceria com os órgãos ambientais estaduais, como o Naturatins. 


Rubens Brito explica que o uso múltiplo das águas do lago que será formado ainda neste ano pela usina hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães é uma questão que deverá envolver a ANA e o Naturatins. “Uma minuta do Plano Diretor da Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins já está sendo estudada pela ANA”, diz. Ele acrescenta que existe o temor de que o lago provoque o uso desordenado do solo, o que acabará exigindo muito do lago, podendo provocar redução de seu potencial hídrico.



Outorga do uso das águas
Naturatins verifica a compatibilidade entre a solicitação de outorga e a real necessidade de água do empreendimentos, para que não haja prejuízos ambientais


Desde 1997, a lei federal 9.433 traça uma política nacional de recursos hídricos. Nesta política está previsto o uso ordenado das águas, com a cessão de outorga para todo o empreendimento que pretenda utilizar este recurso. Com exceção das ligações domésticas, cuja concessão de uso é a própria conta que o usuário paga no fim do mês, qualquer projeto que precise de água precisa também de uma autorização do Naturatins, a outorga.


Alguns projetos dão entrada na Coordenadoria de Cadastro e Outorga do Uso de Água do Naturatins solicitando a outorga para implantação de vários projetos, como barragens, pivô de irrigação, poços artesianos e piscicultura. Grande parte desses projetos é modificada pelos técnicos do Naturatins porque apresenta uma necessidade de água bem inferior àquela que foi solicitada. ?Alguns projetos solicitam a liberação de 20 mil litros de água por metro quadrado, quando só há necessidade para 10 mil litros?, diz o chefe da coordenadoria, Rubens Pereira Brito.


Além de verificar a compatibilidade entre a solicitação de outorga e a real necessidade de água do empreendimentos, os técnicos do Naturatins também verificam se os mananciais têm condições de oferecer a água solicitada sem que haja prejuízos ambientais. “Verificamos também se existem outros empreedimentos utilizando as águas do mesmo manancial, como forma de evitar seus esvaziamento”, reforça Rubens Brito.



Saiba Mais


O que é Outorga?
Instrumento de previsão de conflito do uso dos recursos naturais. Concessão para implantação de projetos e empreendimentos que tenham a água como insumo no processo produtivo.


Quem precisa?
Qualquer projeto ou empreendimento que precisem de água, como piscicultura, pivô de irrigação, poços artesianos e barragens. 


Onde se obtém?
Nos órgãos ambientais dos estados e na ANA quando a água utilizada é de um rio federal.


Como fazer?
Monta-se um projeto, explicando para que se precisa da água, quanto vai precisar e de onde vai precisar. O projeto tem as informações verificadas in locco por técnicos dos órgãos ambientais, que emitem um parecer liberando ou sugerindo alterações no projeto.