Jornalista ambiental dos EUA visita o Brasil

11 de fevereiro de 2004

Peter Lord fica uma semana no Brasil e faz palestras em São Paulo, Santos, Brasília, Rio e Manaus













FMA – Como o senhor define o jornalismo ambiental?

Peter Lord – É um segmento do jornalismo especializado na cobertura de questões do meio ambiente. Jornalistas dessa área não são necessariamente ambientalistas. São principalmente, e antes de tudo, jornalistas que se dedicam a cobrir questões ambientais.


FMA – Existe alguma diferença no jornalismo ambiental praticado nos USA e em outros países do mundo?


Lord – Não sei muito a respeito do jornalismo em outros lugares. Suponho que tenhamos mais recursos aqui para nos ajudar a exercer o nosso ofício e, é claro, não temos nenhuma escassez de matérias para escrever. Uma vantagem que temos é que a Sociedade de Jornalismo Ambiental (Society of Environmental Journalism – SEJ), um grupo de 1.100 membros que realiza reuniões anuais e nos permite compartilhar idéias em sua lista de discussões. É um excelente grupo de apoio e importante porque a maioria dos jornais não tem mais do que um jornalista dedicado à causa ambiental. Sem o apoio da Sociedade de Jornalismo Ambiental seria mais difícil encontrar pessoas a quem pedir orientação ou para troca de idéias.


FMA – O que levou o senhor a exercer esse tipo de jornalismo?


Lord – Inicialmente, fui designado para cobrir questões de lixo tóxico em uma função de meio expediente. Ao longo do tempo me tornei repórter ambiental em tempo integral e aprendi a gostar do trabalho por ser tão interessante. Todos os dias um novo problema aparece e alguns antigos teimam em continuar existindo.


FMA – O senhor tem alguma informação sobre o jornalismo ambiental no Brasil?


Lord – Não o quanto gostaria de saber. Tenho lido o máximo que posso e tenho falado com pessoas que dizem que há realmente bons jornalistas de meio ambiente no Brasil. Espero aprender bastante nesta visita e escrever o máximo que puder. Será importante para meus leitores.


FMA – Como o senhor vê a questão ambiental no Brasil?


Lord – Vejo como uma questão importante, pois muitos jornais brasileiros oferecem cobertura regular. Espero poder trocar idéias sobre o exercício da profissão e as questão brasileiras no setor.


FMA – O espaço que a mídia norte-americana dá ao jornalismo ambiental é bom?


Lord – Não. Mas há algumas exceções. Algumas revistas como a Time e a National Geographic, é claro, fazem um trabalho excelente. Há centenas de jornalistas de meio ambiente fazendo essas tarefas. Mas penso que muitos reclamariam que ainda há notícias sobre celebridades e notícias desportivas demais e pouco interesse é dado às questões que realmente necessitam de nossa atenção, como os problemas ambientais.


FMA – Quem trata melhor do tema: a mídia impressa, a televisão, as rádios ou a internet?


Lord – A televisão pode fazer o melhor, porque se trata de um meio animado. Mas o fato é que não está fazendo quase nada. Os jornais fazem a maior parte da cobertura ambiental e de forma mais ampla. As rádios públicas têm feito algumas das grandes reportagens e regularmente cobrem o meio ambiente, mas as rádios comerciais fazem pouco. Há cada vez mais algumas coisas interessantes na Web. O site Gristmagazine.com é sempre divertido de se ler.


FMA – Qual o interesse do leitor norte-americano pelas notícias relacionadas com o meio ambiente?


Lord – Isso é difícil de responder. Pesquisas demonstram que os americanos têm grande interesse pelo meio ambiente. Porém, há somente uma revista, a “E”, dedicada inteiramente às questões ambientais. E não é popular. Acredito que, como qualquer outra questão, o ponto crítico é como a reportagem é divulgada.


“A prioridade do governo dos EUA agora é combater o terrorismo”


FMA – E as áreas de publicidade e de propaganda estão engajadas no que podemos chamar comunicação pró-meio ambiente?


Lord – Boa pergunta. Estamos inundados com material de relações públicas de companhias, agências governamentais e grupos interessados. Todos dizem que são a favor do meio ambiente. Dá algum trabalho para deteminar quem está dizendo a verdade.


FMA – O senhor acha que hoje existe o marketing ambiental? Exemplos?


Lord – Certamente. As empresas estão lançando no mercado carros com baixo consumo de combustível. Há linhas de energia economizando ferramentas. Há o ecoturismo. Os hotéis pedem que seus hóspedes reutilizem toalhas para economizar energia e salvar o meio ambiente.


 FMA – O senhor acha que tem empresas que usa a questão ambiental apenas como marketing, mas sem preocupação verdadeira com a responsabilidade social?


Lord – Acredito que elas adotem uma postura a favor do meio ambiente se acharem que isso é bom para os negócios. Não sei quantas são realmente responsáveis socialmente, embora saiba que algumas são.


FMA – É a primeira vez que vem ao Brasil? O que espera desta viagem?


Lord – É a primeira vez, sim. Espero ver um país bonito, com pessoas simpáticas. Todas as pessoas com quem falei que estiveram no Brasil me disseram maravilhas. Gostaria de ter mais tempo, assim poderia ver a zona rural. Acho que temos muitas reuniões programadas.


FMA – Como o senhor vê o governo Bush em relação às questões ambientais?


Lord – Em relação ao meio ambiente, acho que ninguém avalia o governo Bush favoravelmente. Mas, recentemente, todos parecem estar mais preocupados com a questão do terrorismo.


FMA – O senhor participa da Society of Environmental Journalists que congrega profissionais da área ambiental. Qual a importância de uma entidade como a esta?


Lord – Conforme mencionei antes, é incrivelmente valiosa. Os encontros anuais deixam você motivado para fazer um jornalismo melhor, é uma grande fonte de informações e é um grupo de boas pessoas. Antes de visitar o Brasil, me disseram que os brasileiros me perguntariam muito por que os Estados Unidos não apóiam o Tratado de Kyoto. Coloquei essa pergunta na lista de discussão da SEJ e recebi dezenas de respostas muito boas. Se eu colocasse essa mesma pergunta nos meus artigos, apostaria que muitas pessoas não saberiam do que estava falando.


FMA – Qual o conselho que o senhor daria a um estudante de jornalismo que quisesse se aperfeiçoar para cobrir a área ambiental?


Lord – Estudar. Escrever. Ler. Saia e fale com as pessoas. Vá a conferências onde as questões ambientais estão sendo debatidas. Seja curioso. E não tenha receio de perguntar.


FMA – Qual o grande desafio da humanidade?


 Lord – De tudo o que li e ouvi, nosso próprio sucesso como povo parece ser o nosso maior problema. Há gente demais e nós estamos prejudicando muitas outras formas de vida.