Queimadas

Risco de novo incêndio na floresta amazônica

26 de fevereiro de 2004

Roraima já registra 80 focos de incêndio e teme a repetição das grandes queimadas de 1998

     Políticos de Roraima denunciam a iminência de novas queimadas generalizadas naquele Estado amazônico, iguais ou até piores do que as registradas em 1998, que atingiram 12% do território de Roraima, cuja recuperação até hoje não ocorreu completamente. 


Os próprios técnicos do governo garantem que 80% da floresta queimada em 1998 ainda não se recuperou e representa verdadeiro combustível para um novo e grave incêndio.


Segundo Marluce Pinto (PMDB-RR, a umidade relativa do ar abaixo dos 35%, a elevação da temperatura acima dos 35 graus e a falta de chuvas estão desencadeando os incêndios que já chegam a 80 focos, a maioria concentrada ao longo da BR-174, coincidentemente no mesmo local onde teve início o fogo de 1998, considerado o maior desastre ecológico ocorrido em Roraima.


Quadro que preocupa


Conforme a senadora, o prefeito de Amajari, município onde o fogo já consumiu 60 quilômetros quadrados, está pronto para declarar estado de calamidade pública. O Exército já enviou tropas para a Vila Trairão, em Amajari, onde os focos de incêndio são mais intensos.


Parte do território dos índios Ianomâni já está em chamas. Em Paracaima, município localizado na fronteira do Brasil com a Venezuela, o fogo está concentrado na área indígena de São Marcos, com a ameaça de ficar fora de controle, ainda segundo a senadora.


Causa das queimadas


Segundo o senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR), 50% das queimadas que agora estão sendo detectadas por satélites estão localizadas em comunidades indígenas, e resultam do hábito dos índios de queimarem as matas para o plantio.


Essa prática – nota o senador – é também comum entre os agricultores e responde pela maior parte dos grandes incêndios registrados em 1998. E se os agricultores recorrem às queimadas é porque não há mecanização agrícola, nem mesmo nos assentamentos feitos pelo próprio Incra, garante.


O que acontece – afirma Mozarildo – é que o Governo Federal assenta os colonos naquelas regiões, sem oferecer-lhes nenhuma assistência técnica, mas exige que eles produzam. Sem mecanização, não há outra alternativa senão derrubar a mata, queimar as árvores e abrir espaço para o plantio.


O senador afirma que, após o incêndio de 1998, o Governador de Roraima, Neudo Campos, apresentou ao Ministério do Meio Ambiente um plano de mecanização da lavoura, a fim de que se pudesse evitar a queimada nessas áreas trabalhadas pelos agricultores para o plantio.


Foi justamente por causa do incêndio de Roraima que o governo criou o Pró-Arco, um programa destinado a implementar ações preventivas dos grandes incêndios. O Pró-Arco dispõe de US$ 25 milhões para prevenir e combater incêndios na região, mas, infelizmente, Roraima não foi incluída no programa.


Além de Amajari, o satélite NOAA-12 vem registrando focos de queimadas nos municípios roraimenses de Alto Alegre, Boa Vista, Bonfim, Cantá, Caracaraí, Caroebe, Iracema, Mucajaí, Paracaima, Rorainópolis, São João da Baliza e São Luiz.