Pouco mudou
O perigo que ronda a reunião da África do Sul reside justamente na pobreza de resultados da Agenda 21, uma década após seu lançamento no Rio. Naquela ocasião, a maioria dos países participantes firmou uma convenção destinada a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
As reuniões que se seguiram para implementar a convenção resultaram no Protocolo de Kyoto, no Japão, pelo qual os países industrializados se comprometeriam a reduzir suas emissões de gases em 4,2% em relação aos níveis registrados em 1990, até o ano de 2012.
Como os Estados Unidos, na administração republicana do presidente George W. Bush, recusou-se a homologar a convenção, formulando uma proposta alternativa, rejeitada pela maioria dos países que firmaram a convenção, sua eficácia ficou comprometida.
Os Estados Unidos são responsáveis por quase 25% das emissões global de gases, e de acordo com as regras da convenção, sua vigência plena só pode ser iniciada quando seu texto for homologado pelos países que, juntos, representarem pelo menos 55% do total das emissões.
Na Europa, a Holanda já tomou a iniciativa de homologar a Convenção do Clima, e no Brasil, o presidente Fernando Henrique Cardoso enviou mensagem ao Congresso solicitando a homologação.
É possível que, no decorrer deste ano, e antes mesmo de 26 de agosto, muitos países europeus também homologuem o documento, mas sem os americanos e os japoneses, a vigência ficará capenga.
Outro produto da RIO-92 foi a Convenção da Biodiversidade. Os países signatários se comprometeram a trabalhar no sentido de desenvolver estratégias destinadas a conter as perdas contínuas de espécies.
Decorridos dez anos, a Convenção da Biodiversidade ainda não foi ratificada, e as estatísticas demonstram que, desde a RIO-92, desapareceram 2,2% das florestas no mundo, enquanto correm sério risco de extinção cerca de 25% dos mamíferos e 12% das aves.
Mais pobreza
A Agenda 21 igualmente não avançou em relação ao combate à pobreza. Ficou estabelecido em 1992 que os países industrializados, especialmente Estados Unidos, Europa e Japão, destinariam 0,7% de seu Produto Interno Bruto – PIB – para ajudar financeiramente os países subdesenvolvidos.
Passados dez anos, apenas os países da Escandinávia cumpriram a promessa, resultando numa quantia insuficiente para atender às mínimas necessidades das nações mais pobres, em especial, as da África.
Em relação ao combate à pobreza, nada avançou. O compromisso de reduzir o enorme fosso entre os países do Norte e os do Sul, em pelo menos a metade até o ano de 2015, até agora não saiu do papel.
Estatísticas das Nações Unidas informam que, atualmente, cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia, ou seja, bem abaixo da linha de pobreza.
A recomendação da Agenda 21, segundo a qual os países teriam de implementar programas de melhoria da gestão hídrica, especialmente no norte da África, também foi esquecida. Pelo menos um bilhão de indivíduos não têm acesso à água potável no mundo.
Preocupação
Face a um provável malogro da cúpula da África do Sul, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu criar um grupo-tarefa especial para preparar a participação do Brasil no evento, inclusive com a apresentação de propostas.
Para tanto, designou o ambientalista Fábio Feldmann para assessorá-lo diretamente nos preparativos para a participação brasileira, assumindo, assim, o papel de coordenador das ações de todos os órgãos envolvidos, a começar pelo Ministério do Meio Ambiente.
Feldmann coordenará a apresentação de pelo menos duas propostas: a primeira, um plano destinado a aumentar, de 5% para 10%, a participação das energias renováveis no total da energia produzida no mundo até 2010. Ênfase seria dada à produção de energia solar, eólica (dos ventos) e originária da biomassa.
O autor dessa proposta, que será apresentada em nome do governo brasileiro, é o físico José Goldemberg, secretário de Meio Ambiente de São Paulo e um dos especialistas nessa área.
Segundo a proposta de Goldemberg, até 2010 as nações industrializadas substituiriam 10% de suas fontes convencionais de energia, como carvão, petróleo e gás, por fontes renováveis não poluentes.
Há, em tramitação na ONU, uma proposta mais modesta, que também será levada a Johannesburgo, sugerindo uma redução de apenas 5%, percentual acordado depois de muita pressão dos países industrializados.
Como, atualmente, cerca de 2% da energia gerada no mundo já provém de fontes renováveis, inclusive de pequenas centrais hidrelétricas, o crescimento dessa participação em apenas 3% nos próximos nove anos é considerada irrelevante, principalmente porque a União Européia já estabeleceu o limite mínimo de 10% de energia renovável para 2010, sobre o total da energia que a comunidade produz.
A segunda proposta é a criação de um Centro Latino-Americano de Pesquisa da Biodiversidade, que envolveria as florestas amazônicas, as situadas ao sul do continente sul-americano e as florestas da América Central, dos Estados Unidos, México e Canadá.
Embora a Convenção da Biodiversidade ainda não tenha sido ratificada pelo Brasil, a iniciativa brasileira em Johannesburgo sinaliza claramente para o apoio brasileiro ao documento aprovado na RIO-92.
Embora a RIO+10 seja uma conferência de avaliação e não de deliberação, nada impede que os delegados aprovem novos projetos e trabalhem para sua execução futura.
Empresários em Johannesburgo
Os empresários preparam-se para participar da conferência de Johannesburgo com uma agenda que propõe a aceleração da implementação das decisões adotadas por ocasião da Eco-92, no Rio de Janeiro.
A participação dos empresários dos demais países se dará através do World Business Council for Sustainable Development – WBCSD – enquanto os empresários brasileiros serão representados pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável – CEBDS.
Em relação à Convenção do Clima, os empresários vão sugerir que, a despeito da rejeição dos Estados Unidos, seja acelerado o processo de ratificação do Protocolo de Kyoto, a partir do Executive Board, criado em novembro do ano passado na 7ª Conferência das Partes, realizada em Marrakech, no Marrocos.
Os empresários estão preocupados em encaminhar uma solução para o enorme passivo ambiental dos países desenvolvidos, a partir da implementação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Esse mecanismo, aprovado por sugestão do Brasil, através do qual o passivo ambiental dos países ricos possa ser reduzido mediante investimentos em projetos de desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento.
Os empresários também vão propor que os recursos da biodiversidade dos países em desenvolvimento, adquiridos pelos países industrializados, tenham uma justa remuneração, de modo a constituir uma receita capaz de ser aplicada também em projetos e programas de desenvolvimento sustentável.
Kyoto
• O Senado criticou a “alternativa flexível” apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Protocolo de Kyoto.
• Segundo o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), como estima-se que a economia americana crescerá aproximadamente 30% até 2012, não haveria redução real das emissões, mas uma mera desaceleração.
• Citando o economista americano Paul Krugman, o senador disse que Bush ofereceu “uma ilusão de ambientalismo, anunciando políticas que soam impressionantes, mas são quase sem conteúdo”.
Intervenção
• O senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR) voltou a alertar para o risco de uma intervenção dos Estados Unidos na Amazônia.
• Mozarildo, um pefelista convicto, sustenta que os americanos podem utilizar o tráfico como pretexto para entrar no território brasileiro da Amazônia, tal como aconteceu na Colômbia.
• Segundo Mozarildo, o recente anúncio dos Estados Unidos de que o traficante Fernandinho Beira-Mar estaria envolvido com a organização criminosa Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia já pode ser entendido como sinal dessa intenção.
Defesa
• Em depoimento perante a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a atuação das ONGs, a presidente do Núcleo de Apoio ao Paciente com Câncer (Napacan), Graça Marques, negou ligação com o laboratório farmacêutico Novartis para forçar o registro do medicamento Glivec pelo Ministério da Saúde.
• Segundo denúncia chegada à CPI, a Napacan, sob pressão da Novartis, teria retirado ação civil pública que movia contra o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para agilizar a liberação do remédio no mercado brasileiro.
• O presidente da Novartis do Brasil, Andreas Strakus, convocado para depor, não compareceu, mas a CPI pretende convocá-lo mais uma vez.
Proibido
• Aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais, depende agora apenas do plenário do Senado a aprovação do projeto de iniciativa do senador Tião Viana (PT-AC) que proíbe definitivamente no Brasil o uso do DDT (diclorodifeniltricloretano).
• Trata-se, conforme o senador, de um dos produtos químicos mais perigosos ao meio ambiente.
• Pelo projeto, fica proibida a produção, a comercialização e a utilização do DDT em todo o território nacional, qualquer que seja a aplicação.
Pataxós
• O drama dos índios pataxó, no Sul da Bahia, volta a preocupar parlamentares.
• O deputado Walter Pinheiro, (PT-BA) pediu que o Supremo Tribunal Federal julgue o processo sobre as invasões de terras daqueles índios, localizadas na cidade baiana de Pau-Brasil.
• Essa ação tramita no Supremo desde 1982, e o ministro Nelson Jobim chegou a prometer que relataria a matéria no ano passado, o que não ocorreu.
Maracutaia
• A denúncia é do deputado Fernando Gabeira (PT-RJ): foi criada, na Bahia, uma floresta nacional em área ocupada por uma fazenda fantasma no município de Cristópolis, no oeste baiano.
• Conforme Gabeira, a fazenda, além de se encontrar em situação fundiária irregular, não apresenta riqueza em biodiversidade, condição para a criação de uma floresta nacional.
• Além disso, a área da fazenda foi superdimensionada: os quatro mil hectares viraram 12 mil hectares, tendo a empresa dona do terreno recebido R$ 3,5 milhões.
Biodiversidade
• A deputada Socorro Gomes (PCdoB-PA), anunciou que vai propor a convocação de uma audiência pública na Comissão da Amazônia, destinada a discutir projetos de utilização da biodiversidade na Amazônia.
• Segundo a deputada, o setor de biotecnologia movimenta cerca de 90 bilhões de dólares, e se encontra altamente concentrado por um pequeno grupo de cartéis vinculados aos mercados de medicamentos.
• Socorro defendeu um apoio ao Programa Brasileiro de Ecologia Molecular, que compreende o planejamento e a implantação de uma rede de laboratórios e grupos de pesquisas no País, especialmente na Amazônia.
Riscos
• A Usina de Passivos Ambientais (Uspam) instalada no município de Ulianópolis, a 400 quilômetros de Belém, acumula lixo tóxico industrial proveniente de vários pontos do País e contêineres armazenados em condições precárias e prejudiciais ao meio ambiente.
• A denúncia é da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), para quem a usina funciona sem registro e sem pagar impostos.
• Segundo Elcione, em setembro do ano passado, um empregado da empresa morreu após tentar soldar uma tubulação com Dicloro de Anilina, substância altamente tóxica que, se inalada e manuseada sem equipamentos de proteção, pode levará morte.
Quilombolas
• Aprovado na Comissão de Assuntos Sociais, vai ao plenário do Senado projeto de autoria da ex-senadora Benedita da Silva, que garante aos remanescentes de quilombos a propriedade das áreas que habitam.
• Na mesma direção, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou projeto de autoria do senador Waldeck Ornelas (PFL-BA), concedendo uma série de vantagens aos afrodescendentes, especialmente em relação a emprego e à escola pública.
• O projeto da atual governadora do Rio de Janeiro considera que pertencerão aos quilombolas as “terras de preto”, as “comunidades negras rurais”, os “mocambos” e os “quilombos”, as várias denominações das áreas ocupadas por eles.
Terra sem Males
• A Câmara dos Deputados realizou sessão solene em homenagem à Campanha da Fraternidade de 2002, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – cujo tema é Fraternidade e os Povos Indígenas – Por uma Terra sem Males.
• Uma das sugestões apresentadas durante a sessão foi a criação de uma força-tarefa, envolvendo o Executivo, o Ministério Público e a Polícia Federal, com o assessoramento de entidades como a CNBB e a Ordem dos Advogados do Brasil- OAB -, destinada a implantar soluções para as questões indígenas.
• Uma dessas questões mais candentes, conforme lembrou o deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE) é a disputa de espaço entre os posseiros e os indígenas.
• A CNBB foi elogiada pelos oradores, por causa da iniciativa de utilizar como tema da Campanha da Fraternidade a luta dos índios por sua sobrevivência.
Parque dos Lençóis
• Consultores da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – Unesco – visitaram recentemente o Parque Nacional dos Lençóis, localizado no Maranhão, em busca de informações que justifiquem a concessão à área, do título de Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade.
• Segundo o senador Edison Lobão (PFL-MA), depois de visitar o local o consultores concluíram que a riqueza e a beleza naturais do parque estão bem preservados e que existem grandes chances para o reconhecimento.
• Composto pelo rio Preguiças, pelos pequenos lençóis e pelos povoados de Atins, Mandacaru e Caburé, o conjunto fica em um deserto cheio de lagoas de águas cristalinas, formadas pelas chuvas.
Água de graça
• Está pronto para ser votado no plenário do Senado o projeto de autoria do senador Paulo Hartung (PSB-ES), que estabelece a fixação de uma cota mínima gratuita de água tratada para famílias pobres.
• O projeto proíbe o corte do suprimento de água para as famílias pobres, por inadimplência, desde que o nível de consumo esteja dentro da cota mínima.
• Prevê, também, a cobrança de tarifas progressivas, de modo a onerar mais quem consome mais, uma forma de gerar recursos para financiar o suprimento gratuito.