"A engenharia genética, as técnicas de reprodução assistida e diversos outros procedimentos biotecnocientíficos, nos devolvem uma nova História".

Transgênicos: conhecer para entender

26 de fevereiro de 2004

A revolução causada pelos transgênicos é irreversível

 










Produtos e alimentos geneticamente modificados são, sem dúvida, um dos principais e mais polêmicos assuntos do momento. A questão sobre os chamados OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) e transgênicos divide cientistas, ambientalistas e, no meio do tiroteio, fica a opinião do consumidor, qual “cabra cega” tentando agarrar algo sólido, verdadeiro e ao alcance de sua compreensão. Nosso objetivo é agir como facilitadores para que a parte responsável pelo surgimento dos OGMs e transgênicos (e é bom saber que os primeiros não são necessariamente sinônimos dos segundos, embora todo transgênico seja um OGM) possa explicar suas propostas, ouvindo também algumas opiniões de personalidades que aceitam com reservas o que já foi chamado apropriadamente de a terceira revolução econômica mundial. Sim, porque, apesar da polêmica, um fato sobressai: a revolução provocada pelos OGMs e transgênicos é irreversível. Entender o que são, compreender seus efeitos e procurar utilizá-los da melhor forma para o nosso bem-estar e segurança é o desafio que se nos apresenta. Para enfrentá-lo nossas armas serão o conhecimento e o espírito aberto. Vamos em frente.










A verdade e os transgênicos


Eliseu Alves *


“Conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Na ciência, a verdade liberta o homem da ignorância, da pobreza, da subnutrição, da doença e da dor. Por isto, colocar cercas ao progresso do conhecimento é um erro lamentável, além de pouco prático: sempre haverá algum país onde a liberdade do cientista é respeitada. E este país saltará à frente dos demais, no que respeita ao bem estar de seu povo.


Ciência e tecnologia evoluem em conjunto. Nenhuma sociedade está disposta a pagar tão somente a geração de conhecimentos. É preciso que os conhecimentos se traduzam em coisas práticas que permitam uma vida melhor. Ainda, a tecnologia realimenta a busca de conhecimentos.


Pesquisa é uma indústria peculiar. Consome insumos e produz conhecimento e tecnologias, como a luz elétrica, automóveis, remédios, alimentos mais saudáveis e uma miríade de utilidades que tornam a vida moderna possível. Mas, o fator escasso é o tempo do cientista. Custa caro para a sociedade formá-lo e tudo que permitir o aumento de sua produtividade é bem-vindo. Nas ciências biológicas, as técnicas avançadas, como a engenharia genética, aumentam a produtividade do cientista e permitem que ele responda a questões antes impossíveis de serem investigadas.


Nenhuma tecnologia é neutra em relação ao meio ambiente e à saúde humana. Por isto, é natural que a sociedade tenha instrumentos que permitam se defender de efeitos ruins. Mas, o conhecimento a priori e a experiência de outros povos permitem resolver muitas dúvidas. É inútil querer ter cem por cento de garantias. Por este critério, nenhuma tecnologia seria posta em prática. A sociedade, se quiser se apropriar dos benefícios da ciência, tem que correr riscos. Vejam a aspirina: até hoje se descobrem efeitos colaterais graves! Mas, quanto mais avançados forem os conhecimentos e os métodos de validação, menores serão os riscos de erros graves e menor é o tempo necessário para se liberar um produto.


Os transgênicos já trazem muitos benefícios ao homem. Na saúde, na redução do consumo de agrotóxicos e na produção de alimentos de qualidade nutricional superior. E conquistas ainda mais fantásticas virão. É claro que se tem que precaver contra os efeitos negativos. Mas, não correr nenhum risco é condenar o Brasil um atraso lamentável.


Sempre haverá os que se insurgem contra o avanço da ciência, em nome de ideologias e da religião. A história se encarregou de mostrar que estavam errados. No Brasil houve, no início do século passado, uma enorme reação contra a vacinação obrigatória contra a febre amarela, em nome de se manter o direito à livre escolha. Permaneceu o bom senso e milhões de seres humanos foram salvos. Ainda mais, a vacina foi liberada sem se conhecer seus efeitos colaterais!


* Eliseu Roberto de Andrade Alves é pesquisador, foi um dos fundadores da Embrapa, diretor e, depois, presidente de 1981 a 1985.


 



“Quando nos vemos frente a frente com os problemas dos países pobres, a oposição à biotecnologia parece tola, ou mesmo arrogante”


Richard Manning – ambientalista



A seleção de plantas começou na Pré-História


Nos dois últimos séculos, o melhoramento deixou de ser arte para ser ciência 


O que são transgênicos? Qual a sua origem? Como o assunto está sendo tratado no Brasil?. A pesquisadora Ana Cristina Miranda Brasileiro, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF), considerada no meio científico uma das autoridades nesse tema tão complexo, tem respostas para muitas dessas perguntas. O Folha do Meio publica aqui, com exclusividade, nasta página e na seguinte, trechos de um artigo de sua autoria, cuja íntegra será publicada no livro “Ecofisiologia e Biotecnologia Vegetal”, que está sendo editado pelo pesquisador José Francisco de Carvalho Gonçalves, do INPA/MCT.



Como tudo começou


Desde a pré-história, o homem vem domesticando as plantas, escolhendo sempre as melhores, maiores e mais bonitas para sua alimentação e para a produção de fibras. As práticas mais primitivas de plantio, cultivo, colheita e armazenamento findaram por exercer uma pressão seletiva nas espécies cultivadas, diferente daquela exercida no meio ambiente natural. Ao longo dos tempos, os primeiros agricultores foram surgindo e, ao observarem plantas com características desejáveis em um campo, escolhiam-nas para obtenção de sementes. As primeiras plantas melhoradas foram então surgindo, contendo características agronômicas de interesse, principalmente maior produtividade e resistência a diferentes tipos de estresse. A partir dos últimos 150 anos, o melhoramento de plantas tornou-se uma disciplina bastante complexa, incorporando informações provenientes dos diferentes ramos da ciências naturais e exatas, como genética, fisiologia, estatística, botânica, bioquímica e agronomia. A partir desse momento, o melhoramento deixou de ser uma arte e passou a ser uma ciência, não dependendo assim exclusivamente da existência natural de variabilidade e da habilidade do agricultor.


Durante séculos, a única técnica utilizada para manipular a variabilidade genética de plantas foi o cruzamento sexual ou hibridação, em que genótipos distintos, contendo características de interesse, eram cruzados. Através da hibridação, o melhorista pode planejar e explorar a variabilidade, combinando as melhores características dos genitores.


No século XX, novas tecnologias foram sendo incorporadas ao melhoramento genético e contribuíram imensamente para diminuir o tempo necessário para a obtenção de novas variedades, mas, principalmente, para gerar novas fontes de variabilidade genética. Entre essas tecnologias, podemos citar a indução de mutação por tratamentos químicos ou físicos, principalmente, nas décadas de 40 a 60.


A partir da década de 70, novas técnicas, ditas “biotecnologias”, vieram juntar-se ao melhoramento de plantas, utilizando ferramentas modernas advindas da biologia celular e molecular vegetal.



Como surgiu a 
biotecnologia moderna


A biotecnologia dita “moderna” surgiu a partir da década de 50, depois da elucidação da estrutura do DNA pelos cientístas James Watson e Francis Crick em 1953 e da produção da primeira molécula de DNA recombinante, através do uso de enzimas de restrição e da DNA ligase (que atuam ligando as moléculas de DNA uma a outra), pelo grupo de Paul Berg em 1972. O melhor entendimento da genética molecular e o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante (ou engenharia genética) permitiram então a manipulação controlada do material genético dos seres vivos e sua posterior utilização para desenvolver e comercializar produtos de interesse socioeconômico. Entretanto, o seu princípio continua sempre o mesmo, isto é, transformar matérias em produtos utilizando-se, para tanto, de agentes biológicos.


O primeiro produto comercial decorrente da biotecnologia moderna foi a insulina humana, que passou a ser comercializada a partir de 1982 nos Estados Unidos. O gene responsável pela síntese da insulina foi isolado de células humanas e introduzido na bactéria Escherichia coli, que passou assim a produzir a insulina. Após a purificação, a insulina produzida em laboratório pela E. coli transgênica substituiu a insulina que era extraída de pâncreas de animais.


Hoje em dia, a biotecnologia já faz parte do nosso cotidiano, através da produção, em microrganismos geneticamente modificadas (ou transgênicos), de medicamentos como interferon, hormônios, vacinas, dentre outros. Centenas de novos kits de diagnóstico, biopesticidas e substâncias básicas como ácidos cítricos, vitaminas e antibióticos também são produzidos através de técnicas biotecnológicas. No lado ambiental, já podemos utilizar microrganismos que são capazes de degradar o óleo derramado por navios no mar, ou aqueles que são capazes de transformar efluentes industriais em produtos inofensivos ao meio ambiente.



O que é transformação 
genética de plantas


A transformação genética consiste na introdução de um gene, ou fragmento de DNA, no genoma receptor de uma planta e sua posterior expressão, conferindo a esta planta uma nova característica ou alterando uma pré-existente. A introdução do transgene no genoma vegetal receptor é feita de forma controlada e de modo independente da fecundação.


O gene introduzido pode ser oriundo de uma planta, de qualquer outro organismo (animais, bactérias, vírus, fungos etc.) ou mesmo sintetizado em laboratório, daí a denominação transgene ou gene exógeno. Uma vez incorporado no genoma e expresso de maneira estável, o transgene passa a fazer parte do patrimônio genético da planta, sendo transmitido para a progênie juntamente com os outros genes desta planta. Como a introdução do transgene não altera a constituição genética global da planta, as plantas transgênicas constituem-se então em fonte adicional de variabilidade genética para ser explorada nos programas de melhoramento. A transformação genética também tem a vantagem de permitir a adição de uma única característica em uma variedade melhorada, sem necessidade de retrocruzamentos para remover ligações gênicas não-desejáveis. Além disso, como o novo gene introduzido pode ser proveniente de qualquer outro organismo (não necessariamente planta), o pool gênico disponível torna-se, teoricamente, ilimitado.



 








O que é a biotecnologia


A biotecnologia pode ser definida como a utilização de agentes biológicos (organismos vivos ou parte deles) na obtenção de produtos ou processos de valor socioeconômico, que podem ser utilizados nas mais diferentes áreas, como saúde e agricultura. Para tanto, o princípio é sempre o mesmo: um determinado material é transformado em produto pela ação de um agente biológico. Assim, os egípcios utilizaram biotecnologia quando transformavam cevada em cerveja utilizando leveduras, 2000 anos AC. Louis Pasteur (1822-1895) descobriu que os microrganismos eram responsáveis pelo processo de fermentação que posteriormente passou a ser utilizada em grande escala para a produção de matéria-prima orgânica. No início deste século, a descoberta por Alexander Fleming de que os antibióticos (que são produzidos por microrganismos) poderiam ser utilizados no combate a doenças em humanos marcou uma nova fase da biotecnologia.


 



“Não pense, nem por um minuto, que nós vamos construir uma paz mundial permanente sobre estômagos vazios e miséria humana”.


Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz em 1970



Transgênicos


Impacto mais imediato é na agricultura


Vem aí as “biofábricas” com produção de vacinas, anticorpos, vitaminas e enzimas


Ana Cristina M. Brasileiro


Com certeza o impacto mais imediato das plantas transgênicas está na agricultura, pois permite a geração de novos genótipos para serem utilizados em programas de melhoramento.


Atualmente, diferentes características de interesse socioeconômico já estão sendo introduzidas em várias espécies vegetais por transformação genética. Essas características visam, em um primeiro momento, o melhoramento do desempenho em campo destas plantas cultivadas, através da resistência a patógenos (insetos, vírus, bactérias, fungos ou nematóides), a herbicidas e a estresses ambientais (metais pesados, baixa umidade, baixo teor de nutrientes no solo, salinidade, baixa e alta temperaturas, geada etc.). A comercialização de plantas transgênicas contendo genes com essas características agronômicas é uma realidade e muitas delas já estão sendo amplamente adotadas pelos agricultores. As principais vantagens na utilização dessas plantas estão na simplificação do manejo, na redução dos custos de produção ou na diminuição dos efeitos ambientais, alguns deles decorrentes do uso indiscriminado de adubos e defensivos químicos.


Uma segunda perspectiva aberta pela tecnologia está voltada para características que visam à melhoria da qualidade do produto ou à facilitação do seu processamento. Assim, características relacionadas ao desenvolvimento da planta, tais como maturação de frutos e sementes, e outras ligadas diretamente à qualidade do produto como coloração de flores ou aumento do valor nutricional, também podem ser alteradas em plantas transgênicas.


Em um futuro breve, os transgênicos desempenharão também o papel de biofábricas (ou biorreatores), desenvolvidas para a produção de produtos de interesse para a saúde e agricultura. Através dessas “biofábricas”, é possível a produção em plantas transgênicas de vacinas, anticorpos, enzimas, vitaminas, metabólitos, biopolímeros ou químicos específicos. Neste caso, o objetivo é a diminuição do custo de produção dessas substâncias e a obtenção de produtos mais seguros.



Transgênicos no Brasil


Foi no começo da década de 80, na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que se estabeleceu a primeira equipe de pesquisadores realizando trabalhos em clonagem de genes e desenvolvimento de tecnologias para obtenção de plantas transgênicas. Hoje, vários laboratórios no Brasil estão trabalhando com plantas geneticamente modificadas, incluindo, entre outros, diferentes centros de pesquisa da Embrapa; universidades e institutos de pesquisa.


Estes centros de pesquisa estão desenvolvendo protocolos de transformação genética para diferentes espécies de interesse socioeconômico para o País, como soja, milho, feijão, batata, eucalipto, tomate, arroz, batata, mamão, café, cacau, algodão, entre outros. Nestas culturas estão sendo introduzidos genes que irão conferir características como resistência a pragas e doenças, tolerância a herbicidas, amadurecimento tardio de frutos, aumento do teor nutricional etc.


Assim, o Brasil ocupa posição de destaque nas pesquisas em plantas transgênicas entre os países em desenvolvimento. A nossa dependência tecnológica está sendo minimizada pelos esforços e investimentos realizados nesta área nos últimos anos. 


O plantio comercial da primeira planta transgênica no Brasil, uma variedade de soja tolerante a herbicida (soja Round-up Ready©), foi autorizado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em setembro de 1998. Entretanto, uma decisão judicial posterior suspendeu temporariamente esta liberação. Assim, a soja Round-up Ready© só será comercializada no Brasil após todas as exigências judiciais serem atendidas.


A CTNBio tem como responsabilidade certificar e monitorar a qualidade da infra-estrutura e capacitação técnica das instituições que desenvolvem atividade com transgênicos no País. Assim, para se poder trabalhar com plantas transgênicas no Brasil, a instituição deverá ser credenciada junto à CTNBio, constituir uma Comissão Interna de Biossegurança (CIBio) e obter um Certificado de Qualidade em Biossegurança (CQB). A CTNBio ainda é responsável por analisar, caso a caso, toda e qualquer liberação de organismos geneticamente modificados (OGMs) no meio ambiente, emitindo parecer técnico conclusivo, cabendo a decisão final aos Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura. 


Todos os testes em campo com plantas transgênicas no Brasil são supervisionados pela CTNBio e acompanhados pela fiscalização dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura e do Abastecimento. Se, em alguma etapa de avaliação, o OGM em estudo apresentar qualquer problema relativo à segurança alimentar (humana ou animal) ou à segurança ambiental, o mesmo será eliminado e sua manipulação e uso proibidos.



Segurança ambiental e alimentar


Embora a única diferença entre uma planta transgênica e aquela que a originou seja o produto da expressão do transgene, existem algumas implicações sobre a sua segurança ambiental e alimentar.




  • A primeira implicação estaria na possibilidade do transgene ser transferido da planta transgênica para outras espécies sexualmente compatíveis que estejam próximas ao seu local de plantio. O risco, principalmente, na aquisição por plantas silvestres de características que possuam alguma vantagem competitiva para elas. Este fluxo gênico só deve ser levado em consideração para genes que confiram novas habilidades às plantas receptoras, como resistência a pragas e doenças, tolerância a produtos químicos ou a estresses abióticos (salinidade, seca, geada etc.).



  • Outra implicação estaria relacionada à transferência horizontal do transgene para outros organismos, principalmente microrganismos do solo. Entretanto, a probabilidade de tal fenômeno ocorrer em condições naturais é extremamente baixa e mesmo em condições de alta pressão seletiva, e sua ocorrência é de difícil detecção.



  • A proteína codificada pelo transgene ou algum produto derivado de sua expressão, podem ser nocivos (tóxicos ou alergênicos) para humanos ou animais (FAO, 2000). Por este motivo, testes de avaliação de segurança alimentar das plantas transgênicas e dos seus produtos derivados são obrigatórios para comercialização.


Levando em consideração estes e outros aspectos, até hoje não se tem notícia, em qualquer lugar do mundo, de danos de qualquer natureza causados por plantas transgênicas que foram liberadas para comercialização.


Parâmetros para avaliação da segurança alimentar de OGMs e seus derivados, por exemplo, têm sido definidos, desde a década de 80, pelos organismos internacionais no âmbito das Nações Unidas, como a OECD (Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento ), FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação) e OMS (Organização Mundial da Saúde).


Entretanto, os riscos potenciais da liberação de plantas transgênicas nos diferentes ecossistemas e do consumo dos seus produtos derivados, já estão sendo amplamente discutidos pela sociedade em geral. Essas discussões são de âmbito científico, ético, social, econômico e político, revestindo-se assim de interesses, impactos e conflitos múltiplos.



 








Conclusões


Para manter os atuais padrões de produção agrícola no mundo é imperativo aumentar a produtividade ao longo dos próximos anos, principalmente devido à escassez de áreas agricultáveis em alguns países industrializados e ao impacto da destruição de vegetações nativas, para a expansão de fronteira agrícola, principalmente nos países em desenvolvimento. Dentro deste contexto, as plantas transgênicas constituem uma alternativa viável para diminuir os custos de produção e aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos agrícolas. Além disso, a diminuição da utilização de fertilizantes e defensivos agrícolas terá como conseqüência uma agricultura menos danosa ao meio ambiente e à saúde do produtor e do consumidor. Assim, a biotecnologia, através da produção de plantas transgênicas e da genética genômica, e associada ao melhoramento de plantas, deverá contribuir significativamente para uma futura melhoria da produtividade agrícola e da qualidade do nosso alimento.


 



“O consumo de vegetais geneticamente modificados não oferece qualquer risco para a saúde”


Autar Mattoo – fisiologista e chefe de pesquisa do Laboratório Vegetal do USDA



Luiz Antonio Barreto de Castro – Entrevista


Brasil gasta US 2,5 bi com agroquímicos. É uma loucura!


Transgênicos para o meio ambiente não são apenas os biodegradáveis, mas também os que reduzem o uso de agroquímicos







Luiz Antonio Barreto de Castro


No início da década de 80, Luiz Antonio Barreto de Castro ingressou na Embrapa com a missão de instalar o programa de biotecnologia no então Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos, Embrapa, em Brasília.


Biotecnologia, na época, era chamada de engenharia genética e Luis iniciou sua tarefa com um projeto de enriquecimento protéico do feijão a partir da castanha do Pará. 


Mais tarde, com a biotecnologia já incorporada, inclusive, à denominação da Unidade, que passou a se chamar Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, foi convidado e assumiu a presidência da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio. No início do ano 2000 retornou à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia como chefe Geral com a proposta de criar o Programa Genoma, unificando as áreas de Recursos Genéticos e Biotecnologia através de Núcleos Temáticos. 


O ano de 2000 foi marcado por eventos contra e a favor dos transgênicos e, por várias vezes, Luis Antonio foi instado a manifestar-se sobre o assunto em fóruns diversos. Como a falta de informação sobre o que sejam transgênicos foi detectada como a principal causa de resistência entre a opinião pública, aqui está novamente Luis Antonio Barreto de Castro para acrescentar mais alguns dados sobre o assunto.


Folha do Meio – Com anúncio de que serão produzidas vacinas, hormônios e outros fármacos em plantas transgênicas, criou-se a expressão Transgênicos de Segunda Geração, indicando produtos que beneficiam diretamente o consumidor. Nessa linha, teríamos ainda uma Terceira Geração? 


Luis Antonio – Veja bem, o noticiário da imprensa se refere aos transgênicos de primeira geração, esses que já estão sendo usados, como se não trouxessem nenhum benefício para a sociedade, para o meio ambiente e para o consumidor. Entretanto se esquece que os transgênicos que economizam ou eliminam o uso de agroquímicos, mesmo que sejam herbicidas, trocando sete ou oito produtos por apenas um, têm um enorme efeito para a sociedade e o meio ambiente, porque a gente sabe que anualmente morrem no Brasil milhares de pessoas por intoxicação causada por inseticidas, principalmente. Este é um fato que ninguém dá atenção, que ninguém tem preocupação quando analisa a alternativa de transgênicos, mas que é um fato muito relevante. 


FMA – Qual seria um enfoque mais adequado?


LABC – Nós estamos discutindo os transgênicos nesses últimos cinco ou seis anos, sempre com a preocupação de que possam fazer mal. Evidentemente que nós temos que ter uma preocupação com qualquer produto que possa fazer mal, mas o fato é que, até hoje, em função do exercício adequado das estratégias de avaliação e gerenciamento de risco, nenhum transgênico provocou um malefício, seja ambiental, seja para a saúde humana, enquanto que morrem, anualmente, como eu disse, milhares de pessoas em função do uso de agroquímicos (inseticidas, pesticidas e praguicidas). Será que isso não é uma coisa que se deva considerar? Ora, no momento em que se impede uma alternativa biotecnológica como essa, que é uma alternativa ajustada para agricultura em larga escala, que é a que se faz no Brasil e em muitos outros países, o que acontecerá se continuarmos aplicando agroquímicos indefinidamente?


FMA – E como começou isso? 


LABC – Depois da Segunda Guerra Mundial houve uma grande preocupação com a falta de alimentos. Nós perdíamos, há 50, 60 anos, em torno de 30% da lavoura mundial em função das pragas. E o que nós fizemos durante esse tempo? Aplicamos três milhões de toneladas de organoclorados e organofosforados para combater as pragas da agricultura. Qual foi a consequência disso? Hoje nós continuamos perdendo 30% da produção agrícola mundial por causa de pragas e, além disso nós temos centenas de espécies de insetos e pragas que se tornaram resistentes a esses produtos. Então a gente sabe que o mecanismo de controle de insetos e pragas pela via química, isoladamente, depois de 60 anos de uso, demonstra que é preciso evoluir na busca de novas alternativas. 


FMA – E como fica o meio ambiente?


LABC – Bem, o que acontece? Ah, muito bem! Transgênicos de primeira geração só interessam ao produtor, só beneficiam ao produtor agrícola, não beneficiam a sociedade nem ao meio ambiente. Além dos dados que eu já dei, veja que diminuir a quantidade de agroquímicos no solo é muito importante do ponto de vista ambiental. Além do mais, devemos considerar o gasto anual de mais de US$ 2,55 bilhões na compra de agroquímicos para a agricultura. Esta é uma conta muito pesada. Uma conta que outros países já não estão mais pagando. O Brasil é o terceiro consumidor mundial desse tipo de produto. Nós compramos seis por cento dos agroquímicos consumidos no mundo anualmente. Não é uma parcela pequena. Este custo faz com que a nossa agricultura perca a sua competitividade em relação a países como os Estados Unidos, Canadá e Argentina que reduziram seus custos em centenas de milhões de dólares, substituindo os agroquímicos por transgênicos. Essa substituição não é importante apenas para a agricultura, mas também para a pecuária onde os principais insumos para a ração animal, principalmente a avícola, são a soja e o milho que também têm seu custo reduzido influenciando o custo da avicultura americana que se tornou ainda mais competitiva e hoje coloca no mercado mundial 54% da demanda por carne de frango. 


Então, transgênicos para o meio ambiente não são apenas produtos que podem despoluir através de biodegradação. São importantes porque reduzem a quantidade de agroquímicos em uso no mundo.


Mais informações: 
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia: 
Tel: (61) 448-4770 / 448-4700



“O transgênico é o sistema mais perfeito, extraordinário e positivo que já foi encontrado para a produção de alimentos em dez mil anos desde a origem da agricultura”.


Crodowaldo Pavan, ex-presidente do CNPq



Benefícios para o consumidor


Transgênicos de segunda geração: 
a vez do consumidor


A Embrapa e o Centro de Bioquímica Molecular e Engenharia Genética da Unicamp conseguiram produzir plantas geneticamente modificadas de soja que sintetizam genes do hormônio de crescimento humano e insulina. E plantas de milho que sintetizam genes do hormônio do crescimento humano.


O projeto é coordenado pelos pesquisadores Elíbio Rech, da Embrapa, e Adilson Leite, da Unicamp, e tem como objetivo principal utilizar plantas como biorreatores na produção de fármacos de interesse socio-econômico, em grande escala, com custos reduzidos e seguros para a saúde humana. As plantas geneticamente modificadas de soja estão sendo pesquisadas nos laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília (DF). E as plantas de milho, nos laboratórios da Unicamp, em Campinas (SP).


Análises bioquímicas e moleculares realizadas pelos pesquisadores das duas instituições envolvidas neste projeto confirmaram a presença dos genes introduzidos no genoma das plantas de soja e milho.


Os testes também mostraram que a produção do hormônio do crescimento humano no milho se dá na mesma conformação encontrada em seres humanos. Estas plantas transgênicas de soja e de milho ainda estão em fase de avaliação dos níveis de produção das proteínas do hormônio de crescimento e da insulina, e estão sendo cultivadas somente em casas-de-vegetação (estufas herméticas) da Embrapa e da Unicamp. Elas visam somente à produção de fármacos e não serão utilizadas para alimentação do homem ou de animais. Todas as etapas deste projeto estão sendo acompanhadas pelos cientistas e técnicos da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), de acordo com o que prevê a Lei 8.974/95 (Lei de Biossegurança).


Mais informações: (61) 448-4770



Transgênicos poderão conter vacinas e medicamentos


Há certos momentos na vida, principalmente para as crianças, que mesmo sendo necessários, são dolorosos. Quem não se lembra de ter que tomar vacina contra tétano, sarampo, febre amarela e outras doenças? A mãe, sempre ao lado, nos deixando mais calmos e dizendo: “não vai doer nada, meu filho! É só uma picadinha e pronto”.


Deixando lembranças e brincadeiras de lado, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília – DF), e pesquisadores do Departamento de Bioquímica e Imunologia, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estão desenvolvendo uma pesquisa que poderá possibilitar que fiquemos imunes a doenças ingerindo plantas que contenham vacinas.


O projeto da Embrapa é desenvolver uma alface que tenha como característica possuir em seu genoma uma proteína potencialmente responsável pela imunização à leishmaniose. A Leishmaniose é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada pelo protozoário do gênero Leishmania e transmitida por meio da picada de insetos, como o mosquito palha, birigüi, asa branca e cangalinha.


No momento, os pesquisadores já seqüenciaram o gene do antígeno, que é a substância capaz de provocar a formação do anticorpo contra a doença quando apresentada ao nosso organismo, e o introduziram na planta, obtendo, com isso, uma alface transgênica.


O próximo passo é fazer as análises moleculares e bioquímicas das plantas, verificando os níveis de expressão do antígeno, ou seja, o quanto de antígeno que a alface produz. “Essa etapa é importante, pois a planta pode não produzir a quantidade de antígeno suficiente para imunizar a pessoa”, afirma o pesquisador Elíbio Rech, da Embrapa.


Dentro de seis meses, camundongos serão alimentados com a alface. Com isso, os animais serão avaliados quanto ao tipo e ao nível de resposta imunológica, ou seja, se o organismo produziu os anticorpos contra a doença. A partir daí, serão realizados estudos para avaliar a viabilidade do desenvolvimento da vacina, e estudos referentes à propriedade intelectual e à biossegurança.


Segundo Elíbio, a utilização de alimentos como veículos de vacinação poderá ser importante para reduzir custos e atingir um maior número de pessoas, mostrando o lado social do projeto. “Caso os estudos de viabilidade sejam positivos, alguns destes produtos poderão ser cultivados na própria comunidade”, afirma o pesquisador, lembrando que a população de certas regiões do interior da Amazônia, algumas vezes, não é vacinada por morarem em locais de difícil acesso.


Potencial


A alface é apenas um dos alimentos que servirão de veículos de vacinação. Elíbio cita o caso de um tomate que ajuda no combate a doenças respiratórias, desenvolvido nas Universidade do Colorado e de Illinois, Estados Unidos. “Esse projeto tem potencial enorme, uma vez que a hipótese da utilização de plantas como veículo de vacinação seja validada, diversas doenças poderão ser combatidas por meio da ingestão de alimentos-vacina”, afirma o pesquisador



 








A biotecnologia na AL


Na América Latina, a partir de meados dos anos 90, houve um expressivo aumento do número de instituições que vêm pesquisando organismos geneticamente modificados – OGMs. Hoje, pesquisas para produção de plantas transgênicas vêm sendo desenvolvidas em praticamente todos os países da América Latina. A Argentina tem concentrado as suas pesquisas em batata, girassol, trigo e Lupinus. O Brasil, em alface, amendoim, batata, cana-de-açúcar, eucalipto e fumo. O Chile, em batata e pimentão. A Colômbia, em arroz e mandioca. A Costa Rica, em arroz e milho. Cuba, em arroz, banana, batata, batata-doce, café, cana-de-açúcar, fumo e mamão. O México, em milho. O Peru, em batata. Trinidad e Tobago, em cacau e antúrio. A Venezuela e o Uruguai, em batata.


 



Arroz geneticamente modificado poderá imunizar contra hepatite B


Um grupo de pesquisadores da Universidade de Tóquio, no Japão, conseguiu desenvolver anticorpos ao vírus da hepatite B em variedades geneticamente modificadas de arroz que, no futuro, poderão servir para imunizar contra essa doença que acomete cerca de 300 milhões de pessoas no mundo. Só no Brasil, estima-se que os portadores do vírus da hepatite B somam 4 milhões.


Até agora, a vacina e os produtos feitos à base de imunoglobulina – a proteína produzida pelos linfócitos e que torna nosso sistema imunológico mais resistente – necessários para o combate à hepatite B, são obtidos a partir do sangue de pessoas portadoras da doença. De acordo com Jo Chiba, professor da universidade japonesa e líder do grupo de pesquisas, o uso do arroz geneticamente modificado não apenas diminuirá o custo da vacina, como também reduzirá a chance de outros vírus a contaminarem.


A hepatite B é uma doença que ataca o fígado e é transmitida por via sexual, sangue e secreções, podendo tornar-se uma doença crônica, causando cirrose hepática, câncer no fígado e, em alguns casos, até a morte. Os estudos já feitos demonstraram que, se os bebês recém-nascidos com risco de contaminação por suas mães receberem a vacina e produtos à base de imunoglobulina, as chances de contaminação são praticamente eliminadas.


A China, que tem um grande número de pessoas portadoras de hepatite B, interessou-se por esse novo método de imunização principalmente por acreditar que uma quantidade maior de vacina será produzida a um custo muito mais baixo que o atual. Um instituto de pesquisas de Shangai está se unindo ao grupo de pesquisadores da Universidade de Tóquio para viabilizar a nova tecnologia em prazo mais curto.


Mais Informações:
 http://www.biotechknowledge.com/showlib.php3?4038
http://www.ilife.com.br



 








Plantas que produzem proteínas de interesse farmacêutico


As plantas, além de poderem se tornar veículos de vacinação, também têm potencial para produzir proteínas de interesse farmacêutico. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com o Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética, da Universidade de Campinas, está desenvolvendo cultivares de soja que tragam em suas sementes hormônio de crescimento e insulina.


Insulina


Da mesma forma que ocorreu com a alface, foi introduzido o gene de interesse na soja, obtendo, dessa forma, uma soja transgênica. Atualmente, a pesquisa encontra-se na fase de análises moleculares e bioquímicas das cultivares, o que possibilitará a verificação dos níveis de expressão das proteínas introduzidas, ou seja, o quanto de hormônio de crescimento e insulina a planta está produzindo.


A próxima etapa é fazer a análise do custo de purificação da proteína em larga escala e realizar os estudos referentes à propriedade intelectual e à biossegurança. Segundo Elíbio Rech, a obtenção dessa soja deverá ser realizada com todo o cuidado, em casa de vegetação, evitando, entre outros fatores, que animais, como pássaros, a consumam. O pesquisador também salienta que a produção de proteínas de interesse farmacêutico utilizando-se plantas é mais barata. “A possibilidade da utilização de plantas transgênicas para a produção de proteínas de interesse farmacêutico em larga escala, de baixo custo e seguras, poderá ter implicações de benefícios sociais consideráveis”, afirma Elíbio.



Mais informações: (61) 448-4770


 



Tomate que ajuda a prevenir o câncer


Pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e da Universidade de Purdue, Indiana, estão desenvolvendo uma variedade geneticamente modificada de tomate que contém mais de duas vezes a quantidade de licopeno encontrada nos tomates convencionais. 


O licopeno é uma substância que age como antioxidante no organismo humano, inibindo o desenvolvimento de várias doenças, entre elas o câncer. “Os antioxidantes são muito importantes para evitar a cegueira em crianças, prevenir o câncer e melhorar a saúde cardiovascular dos seres humanos”, afirma o chefe de pesquisa do Laboratório Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, fisiologista Autar Mattoo. 


Com a inserção de um gene de levedo no tomate, o seu processo de maturação fica mais lento, fazendo com que haja mais tempo para o licopeno, substância presente naturalmente no tomate, acumular-se na fruta. Mattoo afirmou ainda que as pesquisas serão aperfeiçoadas e que demorará um tempo para que o tomate geneticamente modificado esteja à disposição dos consumidores.


Segundo estudos realizados na Universidade de Harvard (EUA), a ingestão abundante de tomate e seus derivados diminui em até 35% os riscos de câncer de próstata



Arroz dourado chega ao mercado em 2006


O arroz dourado, originário da biotecnologia e capaz de sintetizar uma maior quantidade de betacaroteno, o precursor da vitamina A no organismo humano, deve estar disponível para os consumidores em, no máximo, cinco anos. É o que afirmou o cientista Gurudev Khush, do IRRI (Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz). A vitamina A, quando ingerida em quantidade adequada pelo ser humano, ajuda a prevenir males como a cegueira, diarréias e complicações decorrentes do sarampo.


De acordo com o IRRI, uma em cada três pessoas do mundo depende do arroz para compor mais da metade de sua alimentação diária e 90% da produção diária de arroz se concentra na Ásia, onde estão cerca de dois terços da população mais carente do mundo. O IRRI surgiu em 1960, para ajudar os agricultores a otimizar a produção de arroz em suas terras com menos água, trabalho e aplicações de agroquímicos, além de ajudá-los a preservar o meio ambiente.


“Cerca de 800 milhões de pessoas no mundo são mal nutridas e cerca de 73% a 76% das calorias e nutrientes consumidos em países pobres e em desenvolvimento vêm do arroz”, afirmou Khush, garantindo que “após estudos de nutrição e testes de viabilidade, conseguindo-se a quantidade suficiente de sementes, o arroz dourado estará disponível para o consumo de massa até 2006”.


Mais informações:
 http://www.cgiar.org/irri
(http://www.ptinews.com/PTIHome.htm)



“Os benefícios reais da modificação genética são extremamente maiores e mais significativos que os riscos apenas hipotéticos levantados por aqueles que se opõem à biotecnologia”. 


Patrick Moore, ecologista e co-fundador do Greenpeace



Benefícios para o produtor


Batata geneticamente 
modificada é resistente a fungo


Cientistas da Monsanto desenvolveram, nos Estados Unidos, uma batata geneticamente modificada que é capaz de resistir a um fungo que causa doenças responsáveis por prejuízos de milhões de dólares em todo o mundo. A descoberta está na revista Nature Biotechnology (volume 18, nª 12).


A proteção à batata é conferida por uma proteína que a alfafa produz para se proteger de micróbios. Transferindo-se um gene da alfafa para a batata, verificou-se um grande índice de proteção contra o fungo Verticillium dahliae, que age no solo e mata as plantas novas, gerando, para os produtores de batatas, um prejuízo que varia de US$ 70 milhões a US$ 140 milhões a cada ano. A proteína também mostrou-se ativa contra os micróbios Alternaria solani, que causa a pinta preta, e Fusarium culmorum, causador da podridão seca. 


A nova variedade de batata já passou por testes de laboratório e campo nos estados americanos de Illinois, Wisconsin e Oregon. “Se os resultados iniciais se mostrarem consistentes e se mantiverem, será uma excelente contribuição para a agricultura mundial”, afirmou William Fry, patologista vegetal da Universidade de Cornell. 


Segundo o Centro Internacional da Batata, em Lima (Peru), a batata é a cultura agrícola que mais usa agrotóxicos em todo o mundo. O gasto com fungicidas chega a US$ 1,8 bilhão/ano em todo o planeta. A batata, originária da América do Sul, é das principais culturas agrícolas do mundo, tendo se tornado alimento básico para populações de vários países.


Um resumo da matéria publicada pela revista Nature Biotechnology pode ser lido na página da revista.


Mais informações
http://www.nature.com/nbt
http://www.monsanto.com
http://www.cipotato.org



 








Cabras com genes de 
aranha podem produzir cabos biodegradáveis


A empresa canadense Nexia Biotechnologies desenvolveu cabras que carregam genes de aranhas. O objetivo da modificação é fazer com que os animais produzam, no leite, a proteína que constitui a teia de aranha, a mais resistente fibra conhecida. 


A companhia declarou que a pesquisa pode resultar na obtenção de um material mais seguro que o aço, mais leve que polímeros artificiais e totalmente biodegradável. 


A teia de aranha não pode ser produzida em larga escala porque os animais não se adaptam à vida em criações. Segundo a companhia canadense, o novo material, chamado Biosteel, poderia ter aplicações tão variadas quanto a construção de aviões, a confecção de coletes à prova de bala e a reparação de tecido humano.


 



 








Banana baiana é 
transgênica e sem doença


A banana-prata-anã tem mais do que um sabor bem definido. Tem um nome que produtor nenhum consegue lembrar: Fhia-18. Esse é um fruto geneticamente modificado por pesquisadores da Embrapa e está se constituindo em um dos cultivares mais promissores. Há mais de um ano, os pesquisadores identificaram uma praga, a sigatoka negra, que provoca redução da produtividade, diminuindo o tamanho do fruto. Híbrido da prata-anã, a Fhia-18 é uma banana geneticamente alterada a partir de uma variedade originária de Honduras. Ou seja, na planta brasileiríssima foi introduzido o gene da hondurenha, resistente à sigatoka.


A sigatoka negra foi detectada há mais de um ano em bananais do Amazonas, nas regiões de Tabatinga e Benjamin Constant. Ela é causada por um fungo e sua presença no bananal pode ocasionar a perda total da produção. A transmissão da praga dá-se por via aérea, o que significa que o vento transporta naturalmente o fungo Mycosphaerella fijiensis, que causa a doença. Após infestar as folhas, ele impede o desenvolvimento dos frutos. 


A Embrapa recomenda que seu cultivo seja feito em solos de fertilidade média/alta, profundos, para que seus atributos de resistência às doenças possam expressar-se em toda a sua potencialidade. Além da resistência à sigatoka negra, essa variedade deverá atingir produtividade até 50% superior em relação à prata-anã, segundo Sebastião de Oliveira e Silva, um dos pesquisadores da Embrapa. 


Segundo os pesquisadores da Embrapa, é da folha que vem a energia para produzir os frutos. No caso da bananeira, são necessárias 15 ou 16 folhas para que a planta acumule boas reservas e os frutos cresçam bem. 


Mas se o fungo as ataca, provoca manchas negras que as deixam debilitadas, causando a morte rápida das folhas. Uma bananeira infectada não terá mais que cinco folhas. 


Segundo pesquisadores da Embeapa, sem a quantidade de folhas suficiente para que a bananeira vegete normalmente, os frutos ficam raquíticos. Isso ocorre porque a planta não tem mais condições de armazenar energia, fazendo os cachos encherem só pela metade”, diz a Embrapa. “Num crescimento normal, a fruta se arredonda à medida que os cachos enchem. Com a invasão do fungo, os frutos ficarão cheios de quinas. Além disso, as bananas podem amadurecer ou amarelar ainda no campo, mesmo que os frutos estejam malformados.


Foi por isso, segundo alguns pesquisadores, que começaram a ser testados os híbridos da banana, como preferem identificar a Fhia-1