O cientista não pode ser preconceituoso
26 de fevereiro de 2004Técnicos dizem que o Museu Goeldi é referência e laboratório natural com amostras dos ecossistemas da Amazônia
A entrevista do zoólogo Paulo Vanzolini, na Folha do Meio Ambiente, edição de dezembro passado, provocou indignação de diretores do Museu Paraense Emílio Goeldi, quando o cientista afirmou que "O trabalho do Museu na Amazônia é zero". Em razão da entrevista os pesquisadores do Museu, Peter Mann de Toledo e David Oren expuseram o trabalho científico da centenária instituição de pesquisa na Amazônia Oriental. Para o pesquisador Peter Toledo, se o Brasil produz pesquisadores de alto gabarito, como é o caso de Paulo Vanzolini, ele tem que buscar todo o esforço para o avanço da ciência brasileira e não para criar intriga que em nada contribui ao País. As declarações não contribuem para as relações institucionais e nem ao julgamento da comunidade científica, são informações pessoais e mostram ranços de eventos passados onde ele confunde relações institucionais com o lado pessoal. O cientista não pode ser preconceituoso", diz Toledo. Os "ranços de eventos passados" a que se refere o biólogo Peter Toledo, remontam a 1985. O imbróglio que desaguou no Museu, segundo o pesquisador e diretor adjunto, David Oren, começou no Xingu quando Vanzolini participou do levantamento faunístico e florístico e da população de mamíferos. O trabalho integrava os Estudos de Impactos Ambientais (EIA) para construção da Usina Hidrelétrica (UHE – Kararaô), hoje Belo Monte. O ornitólogo Oren, diz que o trabalho de Vanzolini não era do conhecimento de nenhum órgão de pesquisa e não dispunha de autorização. Por isso, o Ibama confiscou a coleção de pássaros e mamíferos coletados que seria entregue ao Museu Field de Chicago (USA), fruto de contrato com o Consórcio Nacional de Engenharia e Consultoria (CNEC). A direção do Ibama, decidiu que o Museu "Emílio Goeldi" ficaria com a guarda do acervo. O incidente, segundo os diretores do Museu, não foi digerido pelo zoólogo. Depois do ocorrido, já como diretor na USP/SP, Vanzolini proibiu o acesso de pesquisadores do Museu naquela instituição. "A coleção continua no Goeldi à disposição de qualquer pesquisador brasileiro e estrangeiro, inclusive de Vanzolini", diz o cientista Toledo. O cientista Paulo Vanzolini desfruta de excelente conceito na Amazônia onde produziu trabalhos científicos na região do Baixo Amazonas, no Pará. "Mas não aceitamos que ele ignore mais de um século de pesquisas do Museu e não reconheça a dedicação de pesquisadores, que inclusive deram suas vidas em favor da ciência na Amazônia", rebate Toledo. Em 134 anos de existência o Museu Goeldi conserva um dos mais importantes patrimônios históricos e científicos da Amazônia e tem uma história singular. É o único a dispor de estudos nas áreas da Lingüística indígena e a Arqueologia na região. "Catalogar a diversidade biológica e sócio-cultural da Amazônia e torná-la de conhecimento público, contribuindo no desenvolvimento da Ciência e na formação da memória cultural e da identidade regional. Turismo científico Na Amazônia atende 40 mil estudantes/ano com diversas atividades educativas. Em Belém, o parque zoobotânico é responsável pela diminuição em 3 graus da temperatura do clima da capital e no Pará é ponto de referência ao turismo científico internacional. Cerca de 400 mil pessoas/ano visitam o Zôo onde estão exemplares da fauna e flora amazônica (ver quadro). A exposição permanente sobre o homem e o ambiente na Amazônia e um Aquário Público considerado único na Amazônia fazem do Museu laboratório natural com amostras dos ecossistemas amazônicos e das pesquisas científicas. Na área ambiental colabora com o IBAMA no combate ao tráfico de animais silvestres e administra 10% da Floresta Nacional de Caxiuanã como modelo de gestão para o desenvolvimento sustentável.
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