Eco-economia

FPE Verde volta a debate no Senado

24 de março de 2004

Senadora Marina Silva (PT-AC) reapresenta versão verde do projeto de Fundo de Participação dos Estados

     Projeto reapresentado pela senadora Marina da Silva (PT-AC), que cria o FPE verde, recebeu parecer contrário do relator, senador Lúdio Coelho (PSDB-MS). A proposta, que prevê a distribuição de 2% do Fundo de Participação de Estados (FPE) às unidades da Federação que abrigam áreas de preservação federal e terras indígenas demarcadas, está sendo examinada pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Considerado um mecanismo inovador e justo na distribuição de recursos, o projeto enfrenta a resistência dos senadores nordestinos. 


A CAE é presidida pelo senador Ney Suassuna (PMDB-PB), principal adversário da distribuição de uma parcela de recursos com critério ambiental. A estratégia da senadora é solicitar que o projeto seja examinado também pela Comissão de Assuntos Sociais e negociar emendas com o Ministério do Meio Ambiente. 


O FPE verde beneficia principalmente os Estados da região Norte, que dispõem de grandes áreas preservadas, e prejudica o Nordeste, onde as reservas são escassas. No ano passado, a proposta foi derrotada em plenário por apenas um voto e Marina Silva apresentou-a novamente no início deste ano. 


O relatório de Lúdio Coelho destaca a preocupação e a seriedade da autora do projeto com a questão do desenvolvimento sustentável. “Se julgasse a proposta com emoção não teria como me contrapor à ela”, ressalta o senador. Ele acrescenta, no entanto, que o FPE verde altera a distribuição de recursos entre os entes da Federação, modificando o pacto federativo. “Embora se possa argumentar que se trata de poucos recursos, na atual situação fiscal da grande maioria dos Estados tal modificação poderia vir a prejudicar o precário equilíbrio até então existente”, observa o relator. 


A simulação feita sobre a arrecadação de 1998, por técnicos do Tribunal de Contas da União que ajudaram Marina Silva na elaboração da proposta, mostra uma perda de 0,8% para os nordestinos. Coelho afirma ainda que a priorização do meio ambiente deve ser obtida a partir de outros instrumentos econômicos que não aqueles que atinjam a repartição de recursos entre os Estados, sob pena de que se esvazie os fundos de participação.


“O projeto é bom para o Estado do senador, mas ele a avaliou com a mentalidade reacionária de ruralista, pela qual, investir em meio ambiente significa engessar a região”, reclama Marina Silva. Para a Amazônia, acrescenta, essa questão é fundamental. Os ambientalistas do PT estão atacando em duas frentes: além do projeto que está na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, a mesma proposta está tramitando na Câmara dos Deputados, apresentada por Marcos Afonso (AC). 


Na Câmara, o projeto passou pela Comissão de Meio Ambiente e está sendo examinado pela Comissão de Finanças e Tributação. O FPE verde prevê a reserva de 1% dos 85% destinados aos estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e mais 1% dos 15% distribuídos entre Sul e Sudeste. A parcela de perda para os estados das três regiões é muito menor do que a redução de São Paulo, localizado no Sudeste. 


Apenas 2% para o FPE verde parece pouco, mas é considerado pela senadora uma mudança significativa na distribuição de recursos com critério ambiental. Estados como Roraima, Acre e Amazonas teriam ganhos para aplicar em projetos sustentáveis nas áreas preservadas e reservas indígenas. A sugestão de Marina Silva é que os cálculos de distribuição sejam feitos de acordo com o tamanho das áreas preservadas em cada estado. 


Os deputados Márcio Bittar (PPS-AC) e Flávio Derzi (PMDB-MS) apresentaram projeto semelhante. A diferença é que eles propõem uma reserva de 2% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) destinada às cidades – e não aos estados conforme defende Marina – com unidades de conservação ou reserva indígena. Técnicos do TCU avaliam que a reserva de recursos dos municípios é mais difícil de ser aprovada. Muitos têm no FPM a única fonte de receita.


WWF ajuda estados na implantação do ICMS ecológico


A distribuição de recursos com critério ambiental está conquistando adeptos, embora a Câmara e o Senado adiem a inclusão do mecanismo em lei federal. O WWF ajuda estados a implantarem o ICMS ecológico, uma variação do FPE. A distribuição, nesse caso, ocorre sobre os 25% de ICMS que têm a sua aplicação definida pela legislação estadual. Os cinco estados do Brasil (São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rondônia) que adotaram o projeto até agora destinaram entre 1% e 5% para municípios que abrigam unidades de conservação ou áreas com restrição de uso (mananciais e represas). 


Até o Mato Grosso, que ao lado do Pará lidera a devastação ambiental, aprovou a mudança na Constituição. Defendida pelo deputado estadual Gilney Viana (PT) e aprovada pela Assembléia Legislativa do Mato Grosso, a distribuição de uma parcela de recursos com critério ambiental é um avanço, especialmente num Estado que prioriza a produção de grãos e a agropecuária. “O Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul estão trabalhando agora para definir os critérios ambientais e os percentuais do ICMS”, afirma Analuce Freitas, coordenadora do projeto pelo WWF. 


A adoção do programa está sendo avaliada por Santa Catarina, Bahia, Goiás, Pernambuco e Pará. A técnica da ONG revela que São Paulo está revendo os critérios adotados anteriormente para ampliá-los. “Atualmente a distribuição de parte do ICMS leva em consideração apenas as unidades de conservação estadual, excluindo as reservas particulares”. O WWF entende que a distribuição de recursos sem o critério ambiental é injusta porque os municípios ficam impedidos de usar parte de seus territórios.


O ICMS ecológico beneficia 166 municípios paranaenses e distribuiu R$ 200 milhões com critério ambiental. Piraquara, por exemplo, situado na região metropolitana de Curitiba, possui 90% de seu território ocupado por mananciais de abastecimento para a capital e os restantes 10% destinados à unidades de conservação. O ICMS ecológico é responsável por 82% do imposto que o município recebe. 


Com 55,31% de seu território ocupado por áreas protegidas, Jamari, situado em Rondônia, recebeu em 1997 uma média de R$ 103,71 de ICMS por habitante. Em 1998, essa média aumentou em 217,65% graças ao ICMS ecológico. As publicações do WWF sobre o assunto mostram que Morro do Pilar, município mineiro beneficiado pelo ICMS ecológico no período de 1995 a 1998, teve um aumento de 2.328% no repasse do tributo.








SUMMARY


Green project debate back in the Senate


Senator Silva Marina (PT-AC) shows again Green version of Project for State Participation Budget


Project resubmitted by senator Marina da Silva (PT-AC), which creates the green FPE, received negative acceptance by senator Lúdio Coelho (PSDB-MS). The proposal, that predicts the distribution of 2% of the Budget of State Participation (FPE) to the areas of the Federation that shelter demarcated areas of federal preservation and indigenous lands, is being examined by the Commission of Financial Matters (CAE) of the Senate. Considered as an innovative mechanism and fair in the distribution of resources, the project faces the resistance of northeastern senators.


CAE is presided over by senator Ney Suassuna (PMDB-PB), main adversary of the distribution of a portion of the resources towards environmental criteria. The strategy of the senator is to request the project to be also examined by the Commission of Social Matters and to negotiate modifications with the Ministry of Environment.