Transgênicos

Cientistas devem ter chance de alimentar o mundo

24 de março de 2004

As mudanças são tão rápidas que os consumidores estão perdidos. Temem que avanços da biotecnologia tragam doenças

     Quando eu nasci, há quase 85 anos, a população do mundo era de 1,6 bilhão de pessoas. Nós agora somos 6 bilhões e todo ano estamos somando uns 80 milhões de pessoas à população mundial. 


Pode não parecer muito quando se fala de números grandes, mas é como adicionar ao mundo o equivalente a toda população brasileira a cada dois anos.


Como é que todas essas pessoas vão ter o suficiente para se alimentar? Não pense, nem por um minuto, que nós vamos construir uma paz mundial permanente sobre estômagos vazios e miséria humana. Não vai acontecer e quanto mais rápido nós refletirmos sobre isso melhor. 


Isso é o que nós temos que enfrentar. Nós vamos precisar de novas tecnologias, incluindo biotecnologia, para atingir a capacidade de satisfazer a demanda por alimentos. Quando ouço falar quão rapidamente alguns desses avanços de engenharia genética têm sido levados para o campo, fico fascinado. Nós costumávamos pensar que a hibridização do milho nos Estados Unidos vinha progredindo fantasticamente. E vem, mas não quando comparada à rapidez com que os fazendeiros americanos vêm adotando essa nova tecnologia. 


Infelizmente, uma das conseqüências desse progresso tecnológico tão rápido é a nossa inabilidade de informar o público em geral. Essa é a principal causa do caos e da confusão na terminologia que está sendo utilizada para descrever os vários tipos de atividades e projetos que estão sendo desenvolvidos comercialmente.


Na Europa tem havido uma reação contra alguns aspectos dessa nova tecnologia. Um problema levantado é o uso de genes modificados em grãos de soja para possibilitar a aplicação de produtos químicos no controle de pragas. O resultado é um salto na produção, o que significa mais comida. Também tem havido controvérsia sobre o gene Bt, que é retirado de um organismo do solo. Com essa maravilhosa tecnologia, o Bt é transplantado nas pontas de crescimento de sorgo, milho ou batata para obter controle de diversos insetos. Mais uma vez, isso significa mais produção, o que significa mais comida.


Mas esses avanços estão acontecendo tão rápido que o público em geral parece não ter tempo de absorver as mudanças. Eu acredito que corrigir esses enganos é tarefa das universidades e institutos de pesquisa ao redor do mundo, onde cientistas estão trabalhando para atingir a mesma meta. De outra forma, vai haver muita demora em dar impulso a essas tecnologias, com mais estômagos vazios, mais miséria humana, mais instabilidade social. 


Os consumidores europeus, como também alguns nos Estados Unidos e no Brasil, estão perdidos nessa controvérsia. Eles não sabem o que aconteceu. Eles receiam que esses novos avanços possam ser venenosos, causar câncer ou uma série de outras coisas. Isso resulta de má comunicação. As mudanças estão acontecendo tão rapidamente que nós não tivemos a chance de educar o público em geral sobre a variação genética presente em nossas espécies de animais e plantas.


Se informação é o que falta nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e no Brasil, todos privilegiados com excelentes instituições acadêmicas de pesquisa, imagine a confusão que acontece em países menos favorecidos quando eles ouvem falar das tentativas de impedir esses avanços. Como eles poderiam não estar confusos?


Aqueles que vão liderar essa nova pesquisa e desenvolvimento têm pela frente um importante trabalho de educação em todos os níveis. No curto prazo, através da mídia (impressa e eletrônica) informação correta e com base científica sobre a importância e segurança da biotecnologia e engenharia genética tem que ser divulgada para contrabalançar a desinformação que tem sido amplamente disseminada nos últimos cinco anos. Há uma necessidade urgente de elevar o grau de conhecimento sobre biotecnologia e engenharia genética de professores de biologia, instrutores e educadores em todos os níveis, especialmente em cursos de primeiro e segundo grau e graduação. 


O público em geral ainda não entende que a biotecnologia, incluindo processamento de genes, recombinação de DNA e engenharia genética, são ferramentas mais modernas e muito mais precisas – parte de um processo contínuo – para continuar a melhorar nossas lavouras e rebanhos além dos níveis que têm sido atingidos com a genética tradicional em reprodução de plantas e animais.


Nós podemos produzir os alimentos que serão necessários para os próximos 25 anos, e até poupar ou resgatar vastas áreas de terra para reflorestamento e preservação de habitats naturais, mas apenas se essa nova tecnologia puder avançar.