Dia da Árvore

Viva a árvore! Viva a primavera!

4 de março de 2004

A árvore no Brasil é homenageada duas vezes por ano. Só por decreto

 

 


A ação do homem é terrível. As capoeiras e as matas são 
vistas como um incômodo a ser erradicado antes que se 
tornem algo protegido por lei. Por milênios, as árvores 
foram fontes de recursos, protetoras do solo e das águas.
Hoje, para o produtor rural, ela é, muitas vezes, um ser 
inútil, que vai resistindo por pura teimosia

Nem sempre o que a lei manda é obedecido. Uma questão decidida por decreto-lei há mais de trinta anos e que, até hoje, soa como novidade entre brasileiros é a data de comemoração do Dia da Árvore no Norte e Nordeste do país. Pouca gente sabe que naquela região ficou definido, por razões climáticas, que se homenagearia a árvore na última semana de março, no período referente ao início das chuvas, em vez do dia 21 de setembro, como acontece no resto do país, data que marca a entrada da primavera.

Sancionado pelo primeiro presidente da revolução, Castelo Branco, o decreto-lei, 55.795 de 24/02/65, permanece desconhecido pela maior parte dos brasileiros. Muitos professores e alunos do Norte e Nordeste ainda insistem em comemorar o Dia da Árvore no mês de setembro, contrariando a lei. Quando não, elegem as duas datas, sem favoritismo, porque ainda se sentem inseguros quanto a desconsiderar o 21 de setembro como dia oficial da árvore na região.

A mídia contribui para piorar essa situação. Os livros didáticos tão pouco ajudam a esclarecer a polêmica. Neles, o Dia da Árvore continua sendo único para todo o país. Técnicos do Ibama já entraram em contato com as secretarias estaduais de educação visando desfazer o erro. Liliane Lira, do Ibama do Rio Grande do Norte, acredita que as mudanças nos livros didáticos serão um grande passo para facilitar a conscientização da garotada. "Fica difícil lutar contra a mídia e os livros. Às vezes, a gente passa como mentirosa", conta ela.

Mesmo com todos os obstáculos, celebrar a árvore no dia certo é uma das metas de ambientalistas da região. Hoje, o trabalho é realizado não só com professores e alunos, como também com os veículos locais de comunicação de massa. E não se trata de um capricho estabelecer datas diferentes para o Sul e o Norte. O fato, segundo Liliane, tem uma explicação óbvia que remonta de tempos imemoriais. "A árvore sempre foi cultuada, ou no período das chuvas ou quando se preparava a terra para semear. Seria ilógico manter o 21 de setembro como dia oficial da árvore no Norte e Nordeste, época de seca, quando a umidade relativa do ar e o índice pluviométrico caem vertiginosamente", explica a técnica.

O trabalho não fica restrito à "Festa Anual da Árvore", como é denominada a última semana de março. Neste período se comemora plantando árvores típicas como sucupira, oiticica, cajueiro, timbaúba, entre outras. Em setembro, quando professores costumam ceder à pressão exercida pela mídia nacional e planejam uma segunda comemoração, o Ibama também intervêm para evitar a confusão na cabeça dos alunos. "Nada contra a se comemorar duas vezes. Mas as árvores plantadas no 21 de setembro têm poucas chances de vingar devido ao clima árido nessa época", conta Liliane.

Histórico

A primeira vez que um governo decidiu oficializar o Dia da Árvore foi no estado de Nebrasca, nos Estados Unidos, e a partir daí muitos países copiaram a iniciativa. O Brasil foi o primeiro país que não seguiu a risca o exemplo e escolheu o dia 21 de setembro (em vez do 22 de abril) para celebrar a árvore, em função da primavera. Em 1965, por meio do decreto-lei 55.795 de 24/02/65, ficou instituída a Festa Anual da Árvore, em março, por razões climáticas e fisio geográficas.

O 22 de abril, data escolhida para celebrar a árvore nos EUA, coincide com o aniversário de J. Morton, em reconhecimento ao seu feito de convencer os moradores de Nebrasca a mudar a paisagem do estado, plantando árvores.