Baleias ganham área de proteção em SC
4 de março de 2004A Franca é a segunda espécie de baleia mais ameaçada de extinção
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Todos os anos, de junho a novembro, o estado de Santa Catarina recebe ilustres visitantes que são um show à parte. Até mesmo de uma distância de 30 metros da praia, os turistas podem apreciar o espetáculo das baleias francas (Eubalaena australis). A região é o berçário e um dos melhores pontos de observação dessa espécie no Brasil. Ali elas se reproduzem e amamentam seus filhotes. Para proteger essa espécie que quase desapareceu do planeta, o Ministério do Meio Ambiente criou a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, que ocupa 156 mil hectares do litoral catarinense.
“Era o que faltava para assegurar a sobrevivência da espécie a longo prazo em nossas águas”, comemorou o coordenador do Projeto Baleia Franca, José Truda Palazzo Júnior. A baleia Franca é a segunda espécie de baleia mais ameaçada de extinção do planeta. Estima-se que existam apenas 7.000 exemplares nos oceanos e, desse total, cerca de 200 são vistas por ano no Brasil. Pacíficas e lentas, as baleias francas (right whale em inglês) ganharam este nome por serem “leais”, ou seja, alvo certo para a caça.
Truda destacou que a criação da APA representa um enorme potencial econômico para a baixa temporada catarinense e irá levar benefícios sociais e econômicos às comunidades que apóiam sua proteção. “A criação da APA, em vez de atravancar a atividade econômica ou militar na região, simplesmente permite ordenar, com base na participação de todos os setores de governo e sociedade que atuam na área, um programa consensual de harmonização das atividades que visem, sobretudo, estimular o progresso da região, alicerçado no respeito `a natureza e às baleias, patrimônio maior”, disse.
A criação desta nova Unidade de Conservação – a primeira para proteção de baleias no país, foi proposta pelo Projeto Baleia Franca atendendo recomendações da Comissão Internacional da Baleia (CIB), que considerou a região do litoral catarinense prioritária para recuperação populacional da espécie.
O Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, afirmou que a criação da APA da Baleia Franca representa um importante passo na política brasileira de conservação e uso adequado, para pesquisa e turismo ecológico, dos grandes cetáceos que freqüentam as águas de nosso país. Para Truda, a criação da APA irá permitir o ordenamento e a promoção adequada do turismo de observação de baleias, conhecido internacionalmente como whale watching, atividade que, segundo dados do Fundo Mundial para o Bem Estar dos Animais (Ifaw), movimentou, em 1999, mais de U$ 1 bilhão em 87 países.
De acordo com a bióloga marinha do Ifaw, Carole Carlson, considerada a maior autoridade mundial em turismo de observação de baleias, “o mais importante desta atividade é que a maioria dos lucros obtidos permanece nas próprias comunidades costeiras, incentivando assim a preservação dos animais”, observou. Para Carole, a política brasileira de uso sustentável destes animais através da pesquisa científica e do ecoturismo representa um exemplo para a comunidade internacional.
O ministro Sarney Filho ressaltou que a criação de uma APA contribui não só para a gestão adequada dos cetáceos como recurso econômico e turístico a serem preservados, mas representa ainda um atrativo turístico adicional ao se dar publicidade ao turismo ecológico num contexto de efetiva proteção à natureza.
Projeto Baleia Franca comemora 18 anos
O Projeto Baleia Franca, ONG que trabalha pela preservação da espécie, comemorou em setembro 18 anos de luta pela preservação da espécie. O projeto fica sediado na Praia do Rosa, em Imbituba, a 70 quilômetros ao sul de Florianópolis. A Pousada Vida Sol e Mar, que apóia o projeto, comprou uma embarcação própria que leva os turistas para verem de perto estes animais enormes, que com seus 18 metros de comprimento chegam a pesar 60 toneladas.
A cidade de Imbituba sediou de 16 a 23 de setembro a IV Semana Nacional da Baleia Franca. Foram realizadas palestras e debates sobre estes cetáceos, ecoturismo e conservação da zona costeira; encontros comunitários como gincanas escolares, exposições de arte e artesanato; e o início da construção do Museu da Baleia de Imbituba, no local onde funcionou até 1973 a última estação baleeira do sul do país.
Sobre o trabalho desenvolvido pela ONG durante estes anos, Truda contou que mesmo com poucos recursos, foi possível desenvolver ações de grande importância, tanto no campo da pesquisa, como na construção de um programa de conservação e uso turístico sustentável da espécie. “Tentamos agir no maior número de frentes possíveis, da educação comunitária ao treinamento de policiais, além de participarmos ativamente das políticas de governo para a conservação dos mamíferos marinhos”, concluiu Truda.
Maiores informações:
Projeto Baleia Franca, e-mail: [email protected]
e pelos telefones (48) 9973-09777, (51) 99825157