BASTA!

Bandeira branca! Paz para o homem e o ambiente

4 de março de 2004

A violência ambiental é silenciosa, cruel e mata aos poucos. Mais do que crime comum

     Em boa hora a sociedade brasileira vestiu o branco da paz, contra a violência dos assaltos. Mas há outra violência que também precisa de um basta. A violência ambiental. O desinteresse maior da sociedade, a irresponsabilidade da maioria das empresas e a grande omissão do Estado têm desencadeado uma violência ambiental tão ou mais cruel do que a das balas perdidas.


Quer maior violência do que condenar grande parte da população a viver dependente de uma lata d’água, comprada a peso de ouro dos caminhões pipa? Um absurdo que chega ao extremo quando, esse mesmo homem miserável acaba pagando por apenas alguns litros de água muito mais do que a conta de final de mês de uma família que tem água encanada em casa. A falta de água encanada na torneira do barraco de mais de 20% da população brasileira é mais do uma bala perdida. É uma saraivada de balas perdidas.


E a violência ambiental que condena a metade da população brasileira a viver num ambiente insalubre, sem coleta de lixo, sem saneamento adequado? Imagina que em Belém, Pará, apenas 6% da população possui rede de esgoto. Coitado do Rio Guamá e da Baía de Guajará, que margeiam Belém e recebem todo detrito humano da capital. As autoridades sabem que a maioria das internações hospitalares no Brasil são motivadas pela falta de saneamento, esse também um verdadeiro tiroteio perdido. 


Mata aos poucos


A crueldade ambiental é silenciosa. Mata muitos, mas aos poucos. Por ser uma mortandade lenta, seus efeitos acabam não causando tanta indignação. 


Em junho deste ano, uma menina morreu intoxicada, após ter contato com um produto químico, de cor branca, possivelmente cianureto, encontrado num terreno perto de sua casa, na favela Paraopeba, Duque de Caxias, RJ. As crianças brincavam quando um caminhão da prefeitura local despejou o produto. Outras crianças foram internadas.


Em 1996, a Folha do Meio noticiou um vazamento de 400 litros de ascarel, que é um óleo cancerígeno, na subestação de energia da Estação do Metrô de Irajá/RJ, que colocou em perigo todos moradores da favela Pára-Pedro.


Conhecido popularmente como pó-de-broca, o BHC já provocou dezenas de mortes por câncer na Cidade dos Meninos, no Rio, onde funcionava uma fábrica de BHC do extinto Serviço Nacional de Malária, do Ministério da Saúde. As denúncias hoje vão ainda mais longe: todo o lençol freático da região está contaminado. Aliás, o lençol freático de várias regiões brasileiras está sendo contaminado por chorume de cemitérios, pela “indústria” dos poços artesianos e até pela silenciosa poluição dos esgotos que acabam chegando ao subsolo.


Poluição dos rios


A população brasileira continua assistindo ao triste espetáculo de ver diariamente suas praias, lagoas, rios e parques sendo poluídos. Derramamento de óleo virou rotina.


Como não lembrar da poluição que se abate continuamente sobre a Baía da Guanabara? Sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas? Sobre as Lagoas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá?


Como esquecer o triste caso do Césio 137 de Goiânia, onde até os soldados da PM que montaram guarda na Rua 57 foram afetados pela radioatividade e hoje sofrem as conseqüências do câncer? 


Como omitir o extermínio sobre a cultura indígena que, nesses 500 anos, fizeram dos primeiros habitantes dessa Terra presa fácil das ardilosas ações do homem branco? 


Como não pedir um basta sobre a criminosa ação das madeireiras ou advertir sobre a triste destruição da riquíssima biodiversidade do Cerrado e da Amazônia? Como apagar de nossa memória os incêndios florestais e não implorar por um basta aos caçadores de araras, ararinhas e outros bichos?


A Folha do Meio Ambiente, há 11 anos, vem cumprindo seu papel. Mais do que denunciar, o jornal tem mostrado um caminho a seguir pela educação, conscientização, sempre pedindo um BASTA ao descalabro. 


A indignação vai além das bombas ambientais que ainda não foram desativadas. O BASTA é por tantas outras bombas ambientais que, como minas de guerra, continuam sendo construídas, armadas e deixadas aí para explodirem no colo de nossos filhos e netos. Não há como entender o desinteresse da sociedade, a irresponsabilidade de muitas empresas e até a triste omissão dos governos. O fato é que degradando, por necessidade ou por ganância, a violência ambiental vai matando lentamente. Muito mais do que crime. E, pior, sem causar a indignação da morte por uma bala perdida.























Número de mortes por falta de saneamento

 

Todas as idades 

 

até 4 anos


Causas
Cólera
Diarréia e gastrointerites
Outras doenças intestinais
Leptospirose
Hepatites
Esquistossomiase
Total

1996
20
7.543
1.828
455
860
450
11.156
1997
29
6.682
866
389
1.031
505
9.502
1998
35
8.082
791
396
1.062
78
10.884

1996
3
4.895
1.143
1
29
0
6.071
1997
5
4.295
418
2
43
0
4.763

1998
9
5.320
389
1
46
0
5.765


 





























Doenças relacionadas pela água contaminada


Principais doenças


Formas de transmissão



  • Diarréias e disenterias, como cólera e giardíase
  • Leptospirose
  • Amebíase
  • Hepatite infecciosa

>


Ingestão do agente causador da doença



  • Infecções na pele e olhos, como tracoma e tifo relacionado com piolhos e escabiose

>


A falta de água e a higiene pessoal insuficientes criam condições favoráveis à disseminação.



  • Esquistossomose

>


O agente causador penetra na pele ou é ingerido.



  • Malária
  • Febre amarela
  • Dengue
  • Elefantíase

>


Insetos que vivem próximo a fontes de água.


 




































Doenças relacionadas pela falta de esgoto


Principais doenças


Formas de transmissão



  • Poliomielite
  • Hepatite tipo A
  • Giardíase
  • Disenteria amebiana
  • Diarréia por vírus

>


Contato pessoal e higiene pessoal e doméstica inadequada



  • Febre tifóide
  • Febre paratifóide
  • Diarréias e disenterias bacterianas, como a cólera

>


Contato de pessoal, ingestão e contato com alimentos contaminados e com fontes de águas contaminadas pelas fezes



  • Ascariadíase (lombriga)
  • Tricuríase
  • Ancilostomíase (amarelão)

>


Ingestão de alimentos contaminados e contato da pele com o solo



  • Teníase
  • Cisticercose

>


Ingestão de carne mal cozida de animais infectados



  • Esquistossomose

>


Contato da pele com água contaminada



  • Filariose (elefantíase

>


Procriação de insetos em locais contaminados pelas fezes