Depois de dez anos engavetado:

Belo Monte: com menos impacto ambiental ressurge o projeto da mega-hidrelétrica do Xingu

24 de março de 2004

Aproveitando curva e queda natural do rio Xingu, o lago vai ocupar o espaço que todos os anos já é alagado pela cheia natural

Mudanças


Mas Kararaô não mudou apenas de nome. Como seu custo está estimado em R$ 6 bilhões para gerar 11 milhões de quilowates de energia (Itaipu, a maior usina do mundo em operação gera 12,6 milhões de quilowates), nem o governo nem a iniciativa privada, que será chamada a participar do empreendimento, têm condições de bancar a construção da usina sem ajuda financeira internacional.


Para aplainar o caminho ao financiamento externo, especialmente do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, assim como a aceitação das lideranças indígenas e ambientalistas, o projeto da usina de Belo Monte foi totalmente reformulado, apresentando uma nova configuração, com melhor aproveitamento da topografia da região e menor impacto ambiental.


O lago, que na proposta original inundaria 1,2 mil quilômetros quadrados, inclusive toda a área da aldeia de Paquiçamba, pela nova versão do projeto ocupará apenas 400 quilômetros quadrados. O deslocamento de população, que no projeto original alcançava 8,4 mil pessoas, inclusive a aldeia Paquiçamba, será, pelo novo projeto, de apenas seis mil pessoas, e não haverá inundação de reserva indígena.


Além disso, o projeto original, que praticamente riscava do mapa o rio Bacajá, um dos afluentes do Xingu, preserva esse rio com a nova versão.


Para salientar o avanço do projeto de Belo Monte, que prevê a instalação de 20 turbinas, com capacidade de 550 mil quiloates cada uma, os técnicos do Ministério das Minas e Energia lembram que enquanto os reservatórios das usinas de Itumbiara, Estreito e Três Marias ocupam juntas uma área de 2,5 mil quilômetros quadrados para uma geração de quatro milhões de quiloates de energia, Belo Monte ocupará menos de 20% da área inundada pelas três, para gerar quase três vezes mais.


Aprendendo


O presidente da Eletrobrás, Firmino Sampaio, diz que a empresa aprendeu muito com os erros cometidos em Tucuruí, no Pará, e em Balbina, no Amazonas. Para um lago que inundou 2,8 mil quilômetros quadrados, grande parte de floresta densa, e remanejou uma população de 20 mil pessoas, inclusive todos os integrantes da reserva indígena Parakanã, Turucuí, quando estiver completada sua duplicação, vai gerar apenas 8,3 milhões de quiloates.


Outros projetos


Mas os planos da Eletrobrás para o rio Xingu não se limitam à hidrelétrica de Belo Monte. Estão previstas as hidrelétricas de Altamira, com 6,6 milhões de quiloates; Ipixuna, com 1,9 milhão de quilowates; Kokraimoro, com 1,5 milhão de quilowates e Jarina, com 620 mil quilowates, perfazendo 21,6 milhões de quiloates, quase 40% de toda a capacidade instalada de energia no país de fonte hídrica.


Os estudos de viabilidade de Belo Monte ficarão prontos em dois anos, tempo que a Eletrobrás considera necessário para resolver as questões ambientais, levantar recursos externos, interessar grupos privados nacionais e estrangeiros e licitar a obra até o final de 2003.


Os técnicos do Ministério das Minas e Energia e da Eletronorte pretendem reunir as entidades ambientalistas e as lideranças indígenas interessadas em discutir Belo Monte, para expor os detalhes do projeto e o seu impacto ambiental. Objetivo: obter o apoio que eles consideram importante para viabilizar a construção da usina, tento interna como externamente. 






























USINA ÁREA ALAGADA
PRODUÇÃO DE
MEGAWATTS
ÍNDICE MEGAWATTS
POR Km INUNDADO

Itaipu


1,7 MIL KM2


12,6 MIL


7,2


Tucuruí


2,8 MIL KM2


8,3 MIL


3


Balbina


2,3 MIL KM2


250


0,10


Belo Monte


400 KM2


11 MIL


27,5


 








SUMMARY


Belo Monte: with less environmental impact the project for a giant hydroelectric in the Xingu river returns


Taking advantage of curve and natural fall of Xingu River, the lake will occupy the space that is already flooded every year by natural floods


After being put aside for ten years, as a result of the reactions of indian and environmental leaderships, the government, through the Ministry of Mining and Energy, intends to recoup the project for the construction of a hydroelectric plant in Belo Monte, the first of a series of exploitations of Xingu River, at 300 kilometers west of Tucuruí hydroelectric plant, in the State of Pará.


Beautiful Mount, whose original name was Kararaô, became known in the entire world when an indian of the Paquiçamba village, with a knife in fist, threatened a director of Eletronorte, who was trying to convince the tribe to accept the construction of the plant.


Changes


But Kararaô did not only change its name. As its cost is estimated at R$ 6 billions, to generate 11 million kilowatts of energy (Itaipú, the biggest plant of the world in operation generates 12.6 million kilowatts), neither the government nor the private initiative, which will be called to participate in the enterprise, have conditions to finance the construction of the plant without international financial aid.


To prepare the path for external financing, especially from the World Bank and the Inter-American Development Bank, as well as the acceptance of the indigenous and environmental leaderships, the project of the Belo Monte was completely reformulated, presenting a new pattern, with better usage of the topography of the region with a smaller environmental impact.