Chorume dos cemitérios contamina lençol freático

24 de março de 2004

Promotoria fiscaliza poluição provocada pelos cemitérios do Paraná

 


 


A polêmica em torno da possível contaminação que os cemitérios causam ao meio ambiente fez com que a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente voltasse a fiscalizar os cemitérios de Curitiba e região metropolitana. A intenção é avaliar se eles se enquadram nas exigências de preservação ambiental que prevê a instalação de poços de monitoramento das águas, além de sistemas de drenagem e de coleta do lixo. 


Até agora quatro, dos 24 cemitérios foram vistoriados. A questão é tão grave que há cerca de um ano a Promotoria já havia notificado vários cemitérios localizados próximos das margens de rios que encontravam-se com túmulos mal conservados e até abertos expondo cadáveres e com vazamento de “chorume” (líquido que escorre dos corpos em decomposição) para o lençol freático.


Segundo o cientista norte-americano Payal Sampat, do World-Watch Institute, 97% da água doce do mundo está armazenada em aqüíferos freáticos. A taxa de recarga dos aquíferos é muito lenta em comparação com a das águas superficiais, o tempo médio de reciclagem dos lençóis freáticos é de 1.400 anos, contra apenas 20 dias para as águas dos rios. 


Ação Pública 


O promotor Sérgio Luiz Cordoni, alerta que os cemitérios se apresentam como uma fonte potencial de risco de contaminação das águas subterrâneas. Os danos ao meio ambiente ocorrem pela ação de microorganismos presentes no “chorume”. “Os cemitérios que não tiverem se adaptado com as medidas preventivas como forma de evitar a contaminação poderão sofrer uma ação civil pública”, alerta.


Segundo ele, além de um monitoramento permanente das águas (o mínimo indicado é de duas a três vezes por ano), para que um cemitério não cause danos ao meio ambiente algumas medidas devem ser tomadas antes mesmo da sua construção. O RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) é o ponto de partida, pois é ele que vai avaliar a viabilidade da obra e como ela deve ser feita. Depois de conseguir o licenciamento, o próximo passo é a implantação de filtros biológicos, poços de monitoramento das águas, malha de drenagem superficial e um mecanismo de conversão das águas.


Cordoni ressalta que recentemente a Promotoria abriu um processo contra o Cemitério Memorial Graciosa, em Quatro Barras. O empreendimento, segundo ele, está localizado numa área de proteção ambiental e mesmo assim o município e o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) concederam a licença para sua construção. “Não podemos admitir que um cemitério que é uma fonte poluidora esteja localizado numa área próxima a mananciais”, assinala. 


Cemitério e ISO 14000


A preocupação com a contaminação do meio ambiente fez com que o Cemitério Parque São Pedro, no bairro Umbará, fosse o primeiro do país a implantar um programa de qualidade total. O objetivo é mudar atitudes e alcançar ainda este ano a certificação ISO 14000. Construído há seis anos, ele é o único do país que possui filtros biológicos para drenagem das águas subterrâneas e das chuvas. “Com a transição da humanidade para um novo milênio e a crescente escassez dos recursos naturais como a água potável, o consumidor faz questão de prestigiar as empresas que estão focadas na ecologia e que são ambientalmente corretas”, afirma Ronaldo Vanzo, diretor da Marketing da Exatidão Participação, empresa que administra o cemitério.


Os trabalhos foram iniciados em dezembro do ano passado com a definição de uma política ambiental e com a elaboração de metas e programas para atingir a qualidade total. Como não existe nenhum exemplo anterior nesta área, Vanzo diz que a meta agora é elaborar um manual de gestão ambiental para o cemitério. “A parte mais difícil que era o envolvimento dos funcionários já foi atingida”, justifica.


O consultor Luís Renato Vieira explica que a implantação de um programa de qualidade total num cemitério é ainda algo muito novo e por isso é um grande desafio. “Não temos parâmetros anteriores”, afirma. Na sua opinião, o Cemitério Parque São Pedro já possui todo um trabalho em relação ao impacto ambiental e a conquista da certificação ISO 14000 que tem prazo de três anos é mais uma passo importante, mas que necessitará de uma manutenção contínua. Até agora já foi possível implantar algumas mudanças que são bastante significativas para o bom funcionamento do cemitério.


Além do treinamento dos 11 funcionários, foram instalados coletores seletivos de lixo (metal ,vidro, papel, plástico e orgânico) e as toalhas de papel foram substituídas por toalhas de tecido. Também serão plantadas diversas mudas de eucalipto para auxiliar no reflorestamento da área e os herbicidas que eram utilizados para o tratamento do gramado foram eliminados. Toda a manutenção do jardim agora é feita manualmente e sem produtos químicos. O cemitério também realizará o monitoramento do lençol freático, o que envolve análises para medir a qualidade físico-química das águas subterrâneas. 


Mais informações: 
Tel: (41) 223-3991