Ministros da Defesa, em Manaus, acabam não discutindo ameaça ambiental na Amazônia
3 de março de 2004Fernando Henrique oferece aos países vizinhos serviços do Sivam
A ameaça ao meio ambiente na Amazônia, tanto decorrente da ação dos narcotraficantes, como dos projetos para combatê-los, não foi considerada pelos ministros que se reuniram em Manaus, de 16 a 21 de outubro último, na 4º Conferência Ministerial de Defesa das Américas. O objetivo era discutir o programa de defesa conjunta dos 32 países do hemisfério, desde Antígua até os Estados Unidos, exceto Cuba, mas, pelo menos nas discussões informais, o tema predominante foi o Plano Colômbia, um projeto de US$ 7,5 bilhões, com a participação de US$ 1,3 bilhão dos Estados Unidos, com o propósito de combater o narcotráfico e o terrorismo naquele país. Contudo, em virtude das divergências de alguns países, inclusive o Brasil, a respeito do plano, a Declaração de Manaus deixou de mencioná-lo explicitamente, conforme desejavam a Colômbia e os Estados Unidos. O documento faz uma breve referência à necessidade de apoio ao combate “às drogas ilícitas e atividades criminosas transfronteiriças correlatas”.
O ministro da Defesa do Brasil, Geraldo Quintão, preferiu minimizar a importância do Plano Colômbia. Um dia antes da reunião, ele classificou como “boato” a possibilidade dos militares colombianos utilizarem fungos e herbicidas em larga escala para destruir plantações de coca e papoula na Amazônia colombiana.
No entanto, antes de sua viagem a Manaus, oficiais de Inteligência do Estado Maior transmitiram a Quintão dados alarmantes sobre a utilização, pelas autoridades da Colômbia, de herbicida glifosato para tentar destruir as plantações.
Segundo as informações, entre 1995 e 1999, as plantações de coca e papoula receberam dois milhões e 750 mil litros desse composto tóxico, que além de destruir as plantações, provoca distúrbios neurológicos e até câncer de pele, quando em contato com o corpo humano.
Fungos
Embora o governo da Colômbia tenha reiterado que não vai fazer uso de fungos para destruir as plantações de coca, o diretor do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade do MMA, Bráulio Ferreira de Souza Dias, afirmou, perante a Comissão da Amazônia da Câmara dos Deputados, que os colombianos “não excluíram a possibilidade de uso futuro do fungo, tão logo haja posições mais concretas em relação a seus possíveis danos ao meio ambiente”.
Ele explicou que uma corrente de cientistas afirma existir cepas especializadas em atacar determinadas plantações como a coca, não causando danos a outras espécies. Há, todavia, estudiosos que afirmam que, devido a uma forte mutabilidade, essas cepas podem atingir outras plantas, animais e até mesmo seres humanos. Essa divergência fez com que o próprio governo norte-americano negasse autorização para a comercialização desses fungos no país.
A ação dos narcotraficantes
Mas as ameaças à floresta e aos rios da Amazônia continental não são apenas do governo colombiano. Segundo o ministro da Defesa da Colômbia, Luiz Fernando Ramírez Acuña, os narcotraficantes estão jogando toneladas de produtos químicos nos rios, resultantes do processamento da coca e sua transformação em cocaína, nos laboratórios improvisados existentes na floresta.
Silêncio das ONGs
Acuña acusa também os traficantes de destruírem a floresta amazônica, abrindo estradas de acesso aos laboratórios e derrubando a mata para construir aeroportos clandestinos por onde escoa a produção de cocaína. Essa destruição, segundo o ministro colombiano, já alcança mais de um milhão de hectares.
“Curiosamente – diz ele – tem havido até aqui um silêncio muito grande por parte das ONGs ambientalistas sobre a destruição da Amazônia, a contaminação dos rios provocada pelos narcotraficantes o desmatamento indiscriminado das florestas”.
Projeto Sivam
Sem entusiasmo pelo Plano Colômbia, o presidente Fernando Henrique Cardoso, ao abrir a conferência de Manaus, preferiu oferecer aos vizinhos os serviços do Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia – Projeto Sivam – um sistema multimilionário de radares e satélites que, a partir de julho de 2002, facilitará o combate ao crime organizado e a proteção ao meio ambiente na região amazônica.
“Os serviços do Sivam não são exclusivos para o Brasil”, afirmou o presidente durante a abertura da conferência. Pelo menos dois países amazônicos, a Venezuela e a Colômbia, manifestaram a intenção de firmar com o Brasil um tratado de cooperação que lhes permita acesso aos serviços do Sivam.
Os radares
A ação dos radares do Sivam, combinada com o trabalho em terra, permitirá o combate ao desmatamento, às queimadas, ao garimpo, mineração e pesca ilegais, às invasões de terras e de reservas indígenas e ao tráfico de drogas.
O equipamento que, junto com as instalações físicas, custará US$ 1,6 bilhão, se constituirá de uma ampla rede de sensores para rastreamento de alvos cooperativos e não-cooperativos, para coleta de dados ambientais e para apoio a aterrissagens seguras.
Serão radares de rota para Controle de Tráfego Aéreo, radares transportáveis e radares meteorológicos, receptores de imagens de satélites, aeronaves de vigilância e de sensoriamento remoto.
A Bacia Amazônica, a área a ser coberta pelo Sivam, tem 5,2 milhões de quilômetros quadrados, com um terço das florestas tropicais da Terra, mais de 30% das espécies animais e vegetais conhecidas na Terra e 20% de toda a água doce do mundo.