Conferência Nacional de Meio Ambiente

Mais propostas para os arquivos do MMA

4 de março de 2004

Será que até hoje a sociedade ainda não disse o que quer? O Brasil quer ações para despoluir rios, para ter saneamento e florestas mais protegidas

A irritação do presidente Lula com ambientalistas na abertura da I Conferência Nacional de Meio Ambiente, realizada em Brasília no final de novembro, é perfeitamente justificável. Afinal, o que se viu até agora foram muitos desencontros entre promessas de campanha e dogmas partidários e poucas ações efetivas voltadas para a preservação.


Foi mais uma Conferência para procurar saber o que a sociedade brasileira quer e o que deseja em relação ao meio ambiente. Incrível que até hoje, depois de tantos encontros, comissões especiais, dois anos de discussão da Agenda de 21, seminários promovidos por ONGs e partidos políticos, até hoje o ainda Governo está procurando saber o que a sociedade brasileira pensa. Resultado dessa Conferência: mais propostas vão fazer companhia a outras muitas propostas que continuam se empoeirando nos armários do Ministério do Meio Ambiente.


?Se eu tivesse medo de grito não teria nem nascido?, disse Lula ao ouvir apitos de um pequeno grupo entre as quase três mil pessoas que participavam do evento. Mas o grito surdo que teima ecoar a todo instante, procurando despertar políticos e autoridades, vem da natureza que ainda nos resta.


O ministro Cristovam Buarque convocou as pessoas para andar de ?mãos dadas e braços abertos na construção do desenvolvimento sustentável?. A ministra Marina Silva criticou mais uma vez a administração pública, defendeu a transversalidade das ações e a gestão descentralizada para o ?desenvolvimento sustentável?. Lula seguiu a onda: ?O futuro não pode ser deixado para amanhã, pois se constrói a cada minuto. O Brasil precisa trançar a rede do desenvolvimento sustentável no século 21?.


O governo do Acre cunhou o neologismo ?florestania?. Desenvolvimento sustentável nesse caso quer dizer o seguinte: exploram-se os recursos naturais, melhoram-se as condições socioeconômicas dos povos da floresta e mantém-se protegida uma parte da natureza.


Em seu discurso, Lula até deu boas notícias, depois de regar sementes plantadas por crianças de todos os estados brasileiros e elogiar a participação de 65 mil pessoas na preparação da conferência. Disse que ?o conjunto de propostas contido no Programa Plurianual contempla a democracia participativa e atenderá as demandas regionais e ambientais?. Lembrou do pioneirismo de Paulo Nogueira Neto e prometeu ?assegurar aos índios espaço e voz?.


Falou também do processo participativo na elaboração do projeto de lei sobre biossegurança. Comprometeu-se o ex-deputado Fábio Feldman de que seu projeto de lei, engavetado no Congresso há 11 anos, e que regulamenta a preservação da Mata Atlântica, seria votado. Como já o foi na Câmara. E mais: Lula assinou decreto criando a Câmara de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável.


Ao ver poucos manifestantes com nariz de palhaço erguerem faixas cobrando ?O projeto de biossegurança está sendo destruído. O Governo não vai fazer nada??, o Presidente reagiu: ?Companheiros: não tem forma mais autoritária de comportamento do que uma pessoa tentar fazer com que o seus interesses prevaleçam sobre os interesses da maioria do povo brasileiro. Neste governo, nem a direita e a nem esquerda farão acontecer nada sem que haja um debate democrático, em que a vontade da maioria prevaleça?.


A partir daí Lula abandonou o discurso oficial e desabafou: ?Nasci na adversidade. Aprendi a fazer política na confrontação e vou exercer o governo desse jeito. Se eu tivesse medo de grito, acho que nem teria nascido. Meu governo é composto por companheiros que sabem o que a sociedade brasileira reivindica. Companheiros que, ao invés de ficarem chorando, sentam-se com o governador, com os empresários e encontram uma solução para que o meio ambiente não seja um entrave ao desenvolvimento sustentável…?


Tanto para garantir o desenvolvimento na terra indígena Raposa Serra do Sol, quanto na criação de novos parques, Lula deixou a receita: ?Nós vamos fazer a transversalidade da discussão. A companheira Marina e a sua equipe vão ter que se sentar com os outros ministros, com o governador, com os trabalhadores, com os empresários, e nós vamos encontrar a solução mais adequada para que a gente faça, pelo menos uma vez na vida, as coisas corretas e bem feitas neste País?.