Desperdício de Água

Brasil desperdiça 40% da água captada

4 de março de 2004

Perda anual é de R$ 4 bilhões. Duas vezes mais que média mundial


      A perda da água captada por empresas de saneamento básico no Brasil é, em média, de 40%, cerca de duas vezes mais do que a média mundial. Em 1998, as 125 companhias municipais, 27 estaduais e três microrregionais tiveram uma receita líquida de R$ 10 bilhões, que seria de R$ 14 bilhões não fora o desperdício. O prejuízo foi, portanto, de R$ 4 bilhões.


Segundo o consultor do Programa Nacional do Controle de Desperdício de Água (PNCDA), Estanislau Marcka, metade da água é desperdiçada na rede de distribuição, sobretudo pelo desgaste da canalização, ou na casa do consumidor, configurando uma perda física.


A outra metade é a perda comercial, caracterizada quando a água é entregue mas não faturada. Aqui se incluem principalmente as ligações clandestinas, os hidrômetros adulterados ou sem condições ideais de uso.


A Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano divulgou recentemente um Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto, o qual concluiu que, das 27 companhias estaduais, apenas uma tem um índice de desperdício abaixo de 20%. Cinco delas estão com um índice abaixo de 30% e três com índice acima de 70%. A grande faixa situa-se no índice acima de 30% e abaixo de 70%, o que resulta numa perda média superior a 40%.


O mesmo estudo revelou que, das 125 concessionárias municipais, apenas 19 apresentam um índice de desperdício abaixo de 20%. Quatro estão com um índice de perda abaixo de 70%, e o restante na faixa entre 30% e 60%.


O coordenador desse diagnóstico, Ernani Miranda, estima que a média nacional de perdas vem recuando da ordem de 1% ao ano, o que ele considera pouco, em termos absolutos, mas expressivo, em relação ao volume de água envolvido. Os estudos relativos ao desperdício de água ocorrido no ano passado já estão em fase de elaboração e deverão ser divulgados até o fim deste ano.


Racionamento


Um dos casos extremos de desperdício de água ocorre justamente em São Paulo, que está enfrentando um dos mais severos racionamentos, que deverá estender-se pelo menos até novembro.


Segundo a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo – Sabesp – dos 63 metros cúbicos de água produzidos por segundo, 10,8 metros cúbicos por segundo constituem a perda declarada, o que representa a mesma quantidade de água produzida pela represa de Guarapiranga, abastecedora da região sob racionamento. Essa perda seria mais do que suficiente para evitar o racionamento.


Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, onde se localiza um dos maiores reservatórios subterrâneos do planeta, responsável por 13% de todo o estoque de águas subterrâneas existentes no Brasil, é outro exemplo extremo: dos 12 milhões de litros captados por segundo, 5,4 milhões de litros, ou 45%, são desperdiçados. Essa perda física corresponde a um prejuízo anual de R$ 35 milhões.


Segundo os técnicos da PNCDA, as empresas de saneamento básico poderiam reduzir substancialmente as perdas se trocassem os hidrômetros deteriorados, fizessem uma manutenção adequada, fiscalizassem as ligações clandestinas e tivessem mais agilidade para estancar vazamentos.


Há casos em que canos estourados permanecem dias derramando água, até que apareça alguém da empresa responsável para consertá-los.


A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), do Rio de Janeiro, é considerada uma das campeãs do desperdício, mas a direção da empresa não se preocupa com isso, e até tem um nome para essa perda: “lucro social”. A empresa não cobra água destinada à população de baixa renda e renuncia a qualquer fiscalização das ligações clandestinas.


Redução do desperdício


Mas nem todos os estados agem como o Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, a empresa estadual de saneamento básico, a Copasa, registrou em 1999 uma perda de 33%, mas trabalha para reduzi-la este ano para 25%.


Em Santa Catarina, a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), que fornece água para três milhões de domicílios, também se esforça para reduzir o índice de desperdício de 31,7% o ano passado, para 30% este ano, através de uma campanha de combate às ligações clandestinas, que abrangerá 219 dos 293 municípios atendidos pela empresa.


Mesmo em São Paulo há um esforço para reduzir o desperdício. Embora as perdas registradas pela Semasa, a empresa de saneamento ambiental de Santo André, sejam de 29%, pelo menos 10% do orçamento anual da empresa estão sendo aplicados com vistas a reduzir as perdas a 20%, já a partir do próximo ano.


Em Ribeirão Preto, o Departamento de Água e Esgotos da cidade pretende investir R$ 11 milhões nos próximos dois anos para reduzir o desperdício de água a pelo menos 35%.


Porém, segundo a Associação dos Fabricantes de Materiais Sanitários – Asfamas – tão importante quanto investimentos na melhoria dos equipamentos de distribuição de água, é uma campanha de conscientização da população, quanto à necessidade de economizar água.


Segundo a Asfamas, o brasileiro gasta, em média, cinco vezes mais água do que o volume indicado como suficiente pela Organização Mundial de Saúde – OMS. Enquanto a OMS recomenda o consumo de 40 litros diários por pessoa, o Brasil consome 200 litros por habitante.


E embora o Brasil detenha 12% da água potável existente no mundo, 80% dessa água está armazenada na região amazônica, em cujo território se localiza apenas 5% da população brasileira.








SUMMARY


Water wastefulness


Brazil wastes almost 50% of impound water


Annual loss of R$ 4 billions: two times the world average


The loss of the water impounded by basic sanitation companies in Brazil is, at an average, of 40%, which is about two times more than the world average. In 1998, the 125 municipal, 27 state and three micro regional companies had a net income of R$ 10 billion, which would have been of R$ 14 billion had not been for the water wastefulness. The damage was, therefore, of R$ 4 billion. According to a National Program of Water Wastefulness Control (PNCDA) consultant, Estanislau Marcka, half of the water is wasted in the distribution network, mainly by the wearing of canalizations, or in the house of the consumer, configuring a physical loss.


The other half is the commercial loss, characterized by the delivery of water without obtaining invoiced revenue. The examples to such loss include illegal plumbing and water meters that were adulterated or that are not at an optimum condition for use.