Ecoturismo e desenvolvimento sustentável

A Maria da Fé da Maria Rita

4 de março de 2004

Conheça uma cidade que deixou de plantar batatas para plantar ecoturismo e passou a colher pousadas, empregos, turistas, renda e qualidade de vida

 







Maria Rita Gorgulho Farah é professora e
profissional na área de medicina estética

A realidade não está na saída e nem na chegada: está na travessia. E a minha travessia tomou novas cores por uma simples e real descoberta: a grandeza das pessoas e a beleza da paisagem de minha terra natal. Talvez muitos leitores da Folha do Meio Ambiente ainda não tenham ouvido falar num lugar chamado Pintos Negreiros. Mas devem conhecer o município ao qual pertence esse distrito: Maria da Fé, cidade do Sul de Minas Gerais. Podem acreditar, é uma das regiões mais bonitas do Brasil. E, para mim, uma das mais importantes. Foi lá que eu nasci.


Moro há mais de 40 em São Paulo. No colégio e nos encontros da vida, sempre saía a pergunta:
– De onde você é? E eu tinha a minha resposta prontinha, na ponta da língua:


– Nasci num lugarejo incrível, chamado Pintos Negreiros, que pertence a Maria da Fé. Fica próximo de São Lourenço – no sentido do Rio de Janeiro, cidade de águas minerais – e no sentido São Paulo fica bem perto de Itajubá, conhecida pela sua famosa Universidade Federal de Engenharia Elétrica.
Interessante é que, sem muita explicação, sempre tive um certo orgulho em dizer de onde sou, embora só tenha nascido lá e me mudado, aos seis anos, com minha família para São Lourenço. Aos 14, nova mudança. Desta vez para São Paulo.


Mas até hoje, eu e meus 13 irmãos, estamos visitando sempre nossa região. E nossa grande família – Gorgulho e Negreiros – chegou até a se organizar melhor para encontros anuais mais produzidos. Começou em 1978, em toda lua cheia de julho. É o Ecimoc – sugestiva sigla para Encontro de Confraternização Independente de Morte ou Casamento. Uma festa de três dias que fazia a alegria de tios, pais, irmãos, primos, namorados, amigos e agregados.


Bem, mas minha conversa é outra. Hoje, adulta, com os filhos criados, senti uma enorme vontade em voltar a origem. Em ter lá, uma propriedade para que eu pudesse desfrutar um pouco mais desse lugar que, em minha mente, tem ainda o mesmo encanto do tempo de menina.


Falei com meus filhos, paulistanos da gema, que também gostam muito das montanhas e dos vales dos Pintos Negreiros. Eles aplaudiram a idéia. Passamos um ano à procura de um pedaço de terra. Finalmente, no começo desse ano conseguimos. Sol e Lua nascendo na nossa cara! Ar puro no nosso pulmão! Tranqüilidade e harmonia na nossa alma!


De volta, fui logo visitar a grande metrópole de minha infância: Maria da Fé. Cheguei mi-nei-ra-men-te. Devagar, ressabiada. Fui até à prefeitura e pedi uma audiência com o prefeito. Para minha surpresa, fui recebida de imediato. E aí, meus amigos, começaram novas surpresas.


Apresentei-me com pompa! Maria Rita Gorgulho Farah. Fui explicando tão ansiosamente meu projeto que quase não dava chance do prefeito falar.


Na verdade, pensei que encontraria um político distante e desinteressado. Que nada! Alexandre Cardoso Pinto é um prefeito arejado, elegante, de boas idéias e muito preocupado com a parte socioambiental. É raro, heim? Gostei da primeira surpresa!


Mas depois de me ouvir, lá pelas tantas ele me perguntou:
– O que você sabe sobre Maria da Fé?


E eu tive que ser honesta. Respondi:
– Nada! Nasci nos Pintos Negreiros e fui embora muito pequena.


Muito sereno, ele chamou ao seu gabinete o Walter e a Carina. Melhor, o Walter Santos de Alvarenga, secretário Municipal de Cultura e Turismo, e Carina Miori Dihel sua assessora.








Fotos: Walter S. de Alvarenga

O Programa de Paisagismo Canteiros da Alma revitalizou as praças e jardins, tornando-os atrativos turísticos e verdadeiros pontos de contemplação

Os encantos de Maria da Fé
Segunda surpresa: o Walter e a Carina abriram meus olhos para os encantos de Maria da Fé e para o trabalho que eles vêm fazendo em parceria com órgãos federais. Principal projeto: fazer de cada habitante um cidadão. Como? Pelo começo: resgatando em cada habitante a auto-estima e o orgulho em ser mariense. Orgulho esse que perderam devido a decadência da monocultura da batata. A economia da região era só o cultivo da batata. Só se falava em plantar, colher e vender batata. Passou o tempo das batatas e o povo ficou sem o que fazer. Pobreza e desolação. Mas da crise nasceram as oportunidades. Vi e comprovei a importância de se eleger lideranças sérias para administrar uma cidade.


O Alexandre, o Walter e a Carina formaram uma equipe para mudar. E a mudança começou pela cabeça de cada habitante:


– Olha, Maria Rita – dizia o Walter – começamos por colocar na cabeça de quem mora em Maria da Fé que ninguém nasce num continente ou num país. Todo mundo nasce num lugar pequeno chamado município.






Por isso tem que dar valor à sua primeira grande família: os habitantes do seu município. Não pode ter vergonha de dizer e de encarar esta verdade. Mostramos o valor de cada um repetir todos os dias: Maria da Fé, eu te amo!