Tocantins desperta para preservação do patrimônio espeleológico

3 de março de 2004

Cresce número de registro de cavernas e grutas no interior do Estado


 






Boca da caverna da região de Miracema


O mapa espeleológico do Brasil está mudando rapidamente. Em todo o país, aumenta o cadastramento das cavernas junto ao Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas – CECAV, órgão ligado ao Ibama. As informações registradas já totalizam cerca de três mil ocorrências, originadas em terrenos formados geralmente por rochas de calcário. No Tocantins, à medida em que os municípios procuram a Superintendência Estadual do Ibama para informar a descoberta de grutas e cavernas, cresce a curiosidade pelo estudos e a preocupação em manter os habitats naturais que funcionam como importantes filtros de água, podendo resultar em áreas para pesquisa e ecoturismo.


A idéia de se formar uma comissão para mapear o conjunto de grutas e cavernas do Estado surgiu durante o II Simpósio Ambientalista do Cerrado no Tocantins, realizado em outubro em Palmas. Com o tema Cidadania e Meio Ambiente, o Simpósio contou com 210 inscritos, a maioria estudantes universitários e membros de organizações não-governamentais. As discussões giraram em torno das palestras sobre recursos hídricos, alterações climáticas, legislação ambiental do Tocantins, altenativas de produção agrícola, fundos ambientais, Agenda 21 para o Cerrado, alimentação alternativa, apicultura e proteção e manejo das cavernas. 


Algumas das 27 cavernas já registradas pela Superintendência Estadual do Ibama no Tocantins já são conhecidas do público, mas sofrem com a proximidades de mineradores de calcário. Em Arraias, sudeste do Estado, a Gruta da Fazenda Furnas, a 22 km da cidade, possui cerca de 40 metros de largura por 20 metros de altura, além de amplos salões cobertos de espeleotemas. São chamados de estalagmites os espeleotemas fixos no chão e de estalactites os de teto. Todo ano, no mês de agosto, a gruta de Arraias é o lugar de comemoração religiosa da Festa de Nosso Senhor do Bonfim. O problema é quando os fiéis “aproveitam” para tirar uma casquinha das grutas, tradição que não pega nada bem quando se trata de manutenção de patrimônios naturais, principalmente porque uma estalactite demora em média 100 anos para crescer apenas 3 centímetros. 


Em outro município vizinho, Taguatinga, na fazenda Grotões, o fácil acesso, apenas 12 km, vem prejudicando a caverna Gruta dos Caldeirões, considerada uma das mais bonitas da região. Em Xambioá, região norte do Estado, divisa com o Pará, o Ibama interditou e multou este ano uma mineradora responsável pela obstrução de uma caverna. A Polícia Federal interveio, retirando os mineradores. Em recente reunião em Brasília com representantes do Ibama e do Ministério Público Federal, os empresários se comprometeram em reparar os danos. 







Caverna possui grande número de espeleotema


Ecoturismo


Para a geógrafa Divina Paula de Oliveira, responsável pela espeleologia na Superintedência Estadual do Ibama, é possível manter atividades econômicas próximas às cavernas desde que os empreendedores desenvolvam um plano de proteção ambiental capaz de manter o local nas melhores condições naturais. Através de palestras e registros das cavernas, Divina divulga o trabalho do Ibama, procurando parceiros para desenvolver pesquisas e mapeamento do patrimônio. Com interesse comum, o engenheiro civil Joel Parizi, que veio de São Paulo há dois anos, já se apresentou ao órgão e está formando um grupo de estudantes e interessados em espeleologia, para cadastrar, topografar e preservar as cavidades naturais. 


A estudante Marciléia Miranda, que participou do Simpósio do Cerrado com objetivo de fazer um trabalho para a disciplina Recursos Naturais e Meio Ambiente, do 3ª ano do curso de Geografia da Unitins – Universidade do Tocantins, já escolheu o tema de sua monografia de final de curso. Ela está animada com as discussões sobre espeleologia e pretende desenvolver o tema, associando-o ao ecoturismo. Para tanto, pretende conhecer as cavernas do Estado e pesquisar os empreendimentos turísticos bem-sucedidos no Brasil.


Mais informações: 
(63) 215-2381 e 
CECAV (61) 316-1175








Glossário


Espeleologia: Ciência que estuda a natureza, a origem e a formação das cavernas e grutas, bem como a sua fauna e flora.


Espeleólogo: Técnico que estuda cientificamente as cavernas.


Atividades espeleológicas: as ações desportivas ou aquelas técnico-científicas de prospecção, mapeamento, documentação e pesquisa que subsidiem a identificação, o cadastramento, o conhecimento, o manejo e a proteção das cavidades naturais subterrâneas.


Espeleísta: Leigo ou excursionista amador que desce em grutas ou cavernas.


Patrimônio espeleológico: conjunto de elementos bióticos e abióticos, socioeconômicos e histórico-culturais, subterrâneos ou superficiais, representados pelas cavidades naturais subterrâneas ou a estas associadas.


Patrimônio Protegido pelo Decreto Federal nª 99.556, de 01/10/90